Ele tinha chego ou chegado?
A primeira dúvida de hoje é fonte de muitas discussões: os verbos que têm dois particípios, como o verbo ACEITAR, que apresenta as formas ACEITADO e ACEITO.
Podemos dizer:
“Ele tinha aceitado o novo emprego.”
“Ele foi aceito na escola militar.”
O problema é pensar que todos os verbos têm dois particípios. O verbo CHEGAR, por exemplo, só apresenta uma forma para o particípio, que é a forma regular CHEGADO.
Portanto devemos dizer sempre:
“Ele tinha chegado atrasado.”
E nunca, em nenhuma hipótese, diga:
“Ele tinha “chego” atrasado.”
A forma verbal CHEGO só existe no presente do indicativo:
“Eu nunca chego atrasado.”
É inaceitável o uso de CHEGO como particípio.
Ele vive às custas do pai ou à custa do pai?
Com frequência ouvimos frases como:
“Ele venceu na vida às custas de muito trabalho.”
E
“Ele ainda vive às custas do pai.”
O problema é que, embora frases desse tipo sejam muito comuns, elas são condenadas pela gramática tradicional. A dúvida está no uso da expressão ÀS CUSTAS DE, pois a palavra CUSTAS, assim no plural, só poderia ser empregada no meio jurídico com o significado de "despesas de processo".
É correto, então, dizer:
“O advogado apresentou as custas do processo.”
Mas, no sentido de despesa ou de sacrifício, deveríamos usar a forma singular: À CUSTA DE.
É correto, portanto, dizer:
“Ele venceu na vida À CUSTA DE muito trabalho.”
“Ele ainda vive À CUSTA DO pai.”
“Ele passou no concurso À CUSTA DE muito esforço e dedicação.”
Traz ou trás?
Vamos observar duas palavrinhas que têm o mesmo som, mas que, dependendo de como as escrevemos, têm significados diferentes e, logicamente, devem ser usadas em situações diferentes.
É o caso da dupla TRAZ (com z) e TRÁS (com S e acento).
A palavra TRÁS (com S e acento) indica um lugar posterior e sempre vem acompanhada de uma preposição, geralmente DE ou PARA. Veja estes exemplos de TRÁS (com S e acento):
“Saia e não olhe para trás.”
“Ela saiu de trás da porta.”
“A pasta estava no banco de trás.”
Por outro lado, TRAZ (com Z) é a forma conjugada do verbo TRAZER. Veja alguns exemplos de TRAZ (com Z):
“Ele sempre TRAZ flores para a namorada.”
“Ele traz paz para minha alma.”
“Traz esse caderno aqui agora!”
Eles reaveram ou reouveram o dinheiro perdido?
Vamos analisar verbos. Mais especificamente um verbo bem esquisito, o verbo REAVER. Você acha que o certo é dizer: “Eles REOUVERAM o dinheiro perdido”?
Ou você diria: “Eles REAVERAM o dinheiro perdido”?
Ou seria: “Eles REAVIRAM o dinheiro perdido”?
Difícil, não é mesmo?
Para ajudar a desembaraçar esse problema, lembre-se de que o verbo REAVER deriva do verbo HAVER. Isso quer dizer que ele segue a conjugação do verbo HAVER.
Assim, se dizemos que eles HOUVERAM, devemos dizer que eles REOUVERAM. Não podemos dizer “eles reaveram nem reaviram”, porque não existem na língua padrão.
Mas o que deixa esse verbo com a fama de esquisitão não é só o fato de ele seguir a conjugação do verbo HAVER. O que o torna mais estranho é o fato de só podermos conjugá-lo nas pessoas em que o verbo HAVER tem a letra V.
Por causa disso, ele só tem duas formas no presente do indicativo: nós reavemos e vós reaveis. Não apresenta, no presente indicativo, as três formas do singular nem a terceira pessoa do plural. Nada no presente do subjuntivo.
O verbo REAVER apresenta todas as formas do pretérito e do futuro, mas devem seguir o verbo HAVER: reouve, reavia, reouvera, reaverá, reavaria...