Dizer 'repetir de novo' é uma redundância?
Repetir de novo?
Nossa dúvida agora é sobre o uso do verbo REPETIR, que provoca dor de cabeça em muita gente.
Recentemente, um locutor de futebol, narrando uma partida, disse o seguinte: "O árbitro, acertadamente, mandou o atacante REPETIR DE NOVO a cobrança do pênalti".
O pênalti já havia sido cobrado, mas o árbitro viu uma irregularidade e mandou repetir. Nesse caso, "repetir de novo" é desnecessário, é redundante, pois só houve uma repetição.
Se fosse a terceira cobrança (duas repetições), aí sim o locutor teria razão, pois o árbitro realmente teria mandado REPETIR DE NOVO (três cobranças, sendo duas repetidas) a cobrança do pênalti.
Ainda no caso de terceira cobrança, seria inaceitável dizer que "o atacante repetiu três vezes a cobrança do pênalti", pois só houve duas repetições.
Ou se diz "bateu o pênalti três vezes" ou então "repetiu duas vezes a cobrança do pênalti".
Ele tinha VIDO ou VINDO para o Rio de Janeiro?
O problema de hoje é o particípio do verbo VIR e seus derivados
O gerúndio é fácil: VINDO. Veja o exemplo:
“Ela telefonou, dizendo que ESTÁ VINDO à reunião.”
Mas, e o particípio?
Uma peculiaridade do verbo VIR (e seus derivados, ADVIR, PROVIR, CONVIR, INTERVIR) é que o gerúndio e o particípio são iguais. Acompanhe os exemplos:
“Ele tinha VINDO para o Rio de Janeiro”.
“Eles tinham VINDO de outra empresa.”
Se o particípio do verbo VIR é VINDO, os derivados seguem o verbo primitivo:
“Quando chegou a solicitação do presidente, o diretor já havia INTERVINDO no caso.”
“Descobriu que a epidemia tinha PROVINDO da falta de saneamento no local.”
Eu VALHO ou VALO?
Agora observaremos o uso de um verbo que faz muita gente se engasgar na hora de conjugar. É o verbo VALER.
Como você diria: “Vou pedir aumento porque VALO (com L-O) ou porque VALHO (com L-H-O) mais do que eu ganho?”
Pode parecer estranho, mas o certo é VALHO.
O verbo VALER é considerado irregular justamente por apresentar LH na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo.
Consequentemente, todo o presente do subjuntivo também tem LH. Acompanhe os exemplos:
“Invista num negócio que VALHA a pena.”
“Mesmo que aquelas terras VALHAM tudo isso, ninguém tem tanto dinheiro.”
“Só 1 milhão? – disse o astro do filme. – Eu VALHO mais que isso!”
Portanto, se você pretende mesmo pedir aquele aumento, diga EU VALHO, caso contrário, seu aumento ficará mais difícil...
É importante lembrar que o verbo EQUIVALER, derivado de VALER e que significa “valer igual”, deve seguir a conjugação do verbo primitivo. Isso significa que a forma correta é EQUIVALHA:
A PRINCÍPIO ou EM PRINCÍPIO?
O problema agora é o uso de uma expressão que aparece em várias situações, mas que confunde muita gente. Na verdade, são duas expressões.
Como você diz: A PRINCÍPIO ou EM PRINCÍPIO?
As duas expressões existem, e não há erro nelas. O problema está no uso de cada uma, pois elas tinham significados diferentes.
A PRINCÍPIO (com preposição A) significa "inicialmente", "num primeiro momento". Veja o exemplo:
“A PRINCÍPIO (ou seja, no início da investigação), a polícia não tinha pistas do assassino.”
“A PRINCÍPIO (ou seja, inicialmente), os alunos devem ficar no pátio e aguardar a chamada.”
Já a expressão EM PRINCÍPIO (com preposição EM) significava somente "em tese", "teoricamente", "por convicção". Acompanhe:
“EM PRINCÍPIO (equivale a “em tese” ou "por convicção"), sou contra a pena de morte.”
“EM PRINCÍPIO (isto é, teoricamente), o medicamento começa a fazer efeito após duas horas.”
A realidade, porém, é que a expressão EM PRINCÍPIO é, hoje em dia, muito usada com o sentido de “inicialmente, num primeiro momento”. O uso se consagrou de tal forma que os novos dicionários já registram EM PRINCÍPIO como sinônimo de A PRINCÍPIO.
Em nome da clareza, podemos evitar as duas formas. Se a ideia for de “início, começo”, podemos usar NO PRINCÍPIO (ou inicialmente, ou no começo); se a ideia for de “em tese, teoricamente, por valores”, sugiro que se use a forma POR PRINCÍPIOS.