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  • Curiosidades etimológicas

    Qual é a origem da palavra piscina? E o que significa o elemento “dromo” de autódromo, hipódromo, sambódromo e camelódromo?

    1) Piscina vem de peixe. Na sua origem, piscina é um “viveiro de
    peixes”. É um reservatório de água onde era comum criar peixes. Hoje em dia, designa também um tanque artificial para natação. Em razão disso, nós fomos para a piscina e pusemos os peixes no aquário, que vem de água.

    Além da piscina, é bom lembrarmos outras palavras derivadas de peixe: pisciano (quem nasce sob signo de Peixes); piscicultura (arte de criar e multiplicar peixes); pisciforme (que tem forma de peixe); piscoso (lugar em que há muito peixe).

    2) Dúvida de muitos: “O elemento de composição dromo, de
    origem grega, tem o significado de “lugar para correr”, como atestam os bons dicionários. Assim existem as palavras autódromo, velódromo, hipódromo...

    Entretanto, o popular, nos últimos anos, fez a criação de sambódromo, camelódromo, para designar, respectivamente, o lugar onde as escolas de samba desfilam e o lugar onde se reúnem os camelôs. Esses neologismos, que estão sendo incorporados ao idioma, estariam “errados”, já que o que se faz num sambódromo e num camelódromo não é nenhuma corrida.”

    A crítica se deve à alteração do sentido original do elemento “dromo” (=pista, lugar para corridas). Daí o autódromo, que é o local próprio para corridas de automóveis; o hipódromo, que é a pista para corrida de cavalos; velódromo, para corridas de bicicletas.

    Hoje em dia, “dromo” passou a designar apenas o “lugar”, e não mais a pista: sambódromo é o lugar para os desfiles de escolas de samba (não há a necessidade de nossos sambistas desfilarem “correndo”); camelódromo é o local próprio para os camelôs venderem suas mercadorias (lá, os camelôs não precisam fugir “correndo”); fumódromo é o local apropriado para os fumantes (não significa que é preciso fumar “correndo” para voltar logo ao trabalho).


    A língua é viva. Em razão disso, não há nada errado em uma palavra ou elemento formador ganhar novos sentidos e usos. É dessa forma que as línguas evoluem e se transformam com o passar dos tempos. A língua portuguesa que falamos hoje não é a mesma dos nossos avós, não é a mesma dos tempos de Machado de Assis e José de Alencar, muito menos da época de Camões.

    As mudanças fazem parte da evolução das línguas vivas. Isso é natural.

    Cuidado para não cair em armadilhas!

    1ª) Policiais não deteram os criminosos.
                       Deve ser por isso que os criminosos fogem. O verbo DETER é derivado de TER, logo deve seguir sua conjugação. Se eles TIVERAM, o correto é DETIVERAM.

    2ª) Foram chamados os que ainda não deporam na CPI.
                       Assim ninguém vai depor. Os derivados do verbo PÔR devem seguir sua conjugação. Se eles PUSERAM, o correto é DEPUSERAM.

    3ª) O juiz já interviu no caso.
                       Se “interviu”, foi mal. O verbo INTERVIR deve seguir a conjugação do verbo VIR. Se ele VEIO, “o juiz já INTERVEIO no caso”.

    4ª) Ele não tinha intervido no caso.
                       Assim não dá. O particípio do verbo VIR é VINDO (igual ao gerúndio). O correto, portanto, é “Ele não tinha INTERVINDO no caso”.

    5ª) Está prevista uma paralização para a próxima semana.
                       Será um fracasso. Se paralisia se escreve com “s”, as palavras derivadas devem ser grafas com “s”: paralisar e PARALISAÇÃO.

    6ª) Ele luta por sua ascenção profissional.
                       Assim fica difícil. Os substantivos derivados de verbos terminados em “-ender” (apreender, pretender, compreender, ascender) devem ser escritos com “s”: apreensão, pretensão, compreensão, ASCENSÃO.

    7ª) Viajou a Tókio.
                       Não conheço essa cidade: com acento e “k”. Isso não é português nem inglês, que não tem acentos gráficos. A forma aportuguesada é TÓQUIO.

    8ª) Era lutador de karatê.
                       A letra “k” não combina com acento gráfico. É mistura de inglês com português. A forma aportuguesada é CARATÊ.

    9ª) Vire a esquerda.
                        Aprender crase em placa de trânsito é um perigo. Formas femininas que indicam “lugar, direção” recebem acento indicativo da crase: “Vire à esquerda”.

    10ª) Obras à cem metros.
                       Não disse que placa de trânsito é um perigo? Não põe o acento da crase quando deve, e põe quando não deve. Antes de palavras masculinas, não há crase: “Obras a cem metros”.

  • Saiba quando usar 'ora', e quando o correto é 'hora'

    POR HORA ou POR ORA?


    Vamos observar o uso de duas expressões que têm o mesmo som, a mesma pronúncia, mas significados distintos e pequenas diferenças na escrita.
    Qual é o certo: POR HORA (com H) ou POR ORA (sem H)?
    Esse é mais um daqueles casos em que a resposta é... depende. Sim, depende do que você quer dizer.
    HORA (com H) é aquele período, contado no relógio, de 60 minutos. Ao usar a expressão POR HORA, com H, é preciso ter como referência esse intervalo de tempo. Veja o exemplo:
    “O metrô transporta mais de cem mil passageiros POR HORA.”
    (Ou seja, a cada 60 minutos, cem mil passageiros utilizam esse meio de transporte.)
    Já a palavra ORA (sem H) significa "agora", "neste momento". A expressão POR ORA, sem H, é usada no lugar de POR ENQUANTO ou NESTE MOMENTO. Confira:
    “POR ORA, o metrô funciona normalmente.”
    (Ou seja, NESTE MOMENTO, nenhuma anormalidade interrompeu o funcionamento do metrô.)
    Por ora (sem H), é só.

    DESDE AS 10h ou DESDE ÀS 10h?

    A dúvida agora é o uso do acento grave indicador de crase.
    Qual é a forma correta: DESDE AS (sem acento) 10h ou DESDE ÀS (com acento de crase) 10h?
    O correto é DESDE AS 10h, SEM ACENTO indicador de crase. E sabe por quê?
    Porque nunca há crase após a preposição DESDE.
    Para que exista crase, é preciso haver a preposição A + outro A, geralmente o artigo feminino A (ou AS). Ora, DESDE já é uma preposição, portanto não pode haver outra logo depois. Na expressão DESDE AS 10h, o que vem depois de DESDE é apenas o artigo feminino.

    Quer uma prova? Vamos trocar AS 10h por uma expressão masculina: O MÊS PASSADO.
    Você diria "DESDE AO MÊS PASSADO"? Horrível, não é? AO seria a junção da preposição A com o artigo masculino O, referente a MÊS. Você certamente diria DESDE "O" MÊS PASSADO.
    Portanto, como não há preposição, não há crase.

    Eu COMPUTO, tu COMPUTAS, ele COMPUTA?

    A dúvida agora é o uso de um verbo muito estranho, que causa dúvida, e até perplexidade em muita gente.
    Afinal, você sabe conjugar o verbo COMPUTAR? Será que sua conjugação segue, por exemplo, a do verbo LUTAR (eu LUTO, tu LUTAS, ele LUTA)?
    Poderia ser, não é? Mas não é.
    Segundo a gramática tradicional, o verbo COMPUTAR é considerado defectivo, ou seja, não deve ser conjugado em algumas de suas pessoas. No presente do indicativo, só apresenta plural: nós COMPUTAMOS, vós COMPUTAIS, eles COMPUTAM.
    Já o pretérito e o futuro são regulares.
    Se a forma "ele computa" não é aceitável, podemos usar "ele está computando" ou substituir por uma frase equivalente: ele calcula, ou ele programa (computadores).

    Cheque ASSUSTADO ou SUSTADO?

    A dúvida agora diz respeito a bancos, especialmente sobre um verbo muito utilizado por eles.
    Hoje em dia, com a tecnologia e a praticidade dos cartões de crédito e débito, pouca gente ainda utiliza o velho talão de cheques, mas eles persistem, principalmente em locais distantes das grandes capitais.
    Como você se refere ao cheque cujo pagamento tenha sido suspenso pelo emitente? Cheque ASSUSTADO ou cheque SUSTADO?
    O cheque é SUSTADO (começando com S). Essa palavra é do verbo SUSTAR, que significa "suspender", "interromper". Aí o cheque não será pago.
    ASSUSTADO (começando com A) significa amedrontado, apavorado.
    Isso é o que acontece. Depois que você pede que um cheque seja SUSTADO, pode deixar ASSUSTADA é a pessoa que o recebeu.
  • Dúvidas eternas

    PARALISAR ou PARALIZAR?
    Essa é uma dúvida bastante comum. Como você escreveria esse verbo, que significa "deixar sem ação", "cessar"?

    Normalmente, os verbos terminados em -IZAR são grafados com Z: amenizar, civilizar, fertilizar, legalizar, normalizar, realizar, suavizar, etc.

    O que esses verbos têm em comum? Nenhum deles tem a letra Z ou a letra S na palavra de origem: ameno, civil, fértil, legal, normal, real, suave.

    Já o verbo PARALISAR é diferente. Ele deriva de PARALISIA, que se escreve com S. E escrevem-se com S (a terminação ISAR) os verbos derivados de palavras que já têm S:
    análise > ANALISAR
    aviso > AVISAR
    paralisia > PARALISAR
    pesquisa > PESQUISAR

    ARQUI-RIVAL ou ARQUIRRIVAL?
    Como você descreveria, numa palavra, o que o Vasco da Gama representa para o Flamengo (e vice-versa)? Ou o que o Corinthians representa para o Palmeiras? ARQUI-RIVAL (com hífen) ou ARQUIRRIVAL (sem hífen e com dois erres)?

    Até o Acordo Ortográfico, que entrou em vigor em 2009, cada prefixo tinha suas regras quanto ao uso, ou não, do hífen em palavras que se formam com prefixo (como ARQUI, ANTI, SEMI, etc.). O Acordo Ortográfico unificou as regras, e agora o hífen só é usado antes de H e antes de palavra que comece com a mesma vogal do final do prefixo. Por exemplo, ARQUI-INIMIGO tem hífen porque INIMIGO começa com I, mesma letra final de ARQUI.

    E quando a palavra seguinte começa com R? Quando isso acontece, a união é SEM HÍFEN e o R é dobrado. O mesmo vale para o S. Exemplos: AUTORRETRATO, SEMIRRETA, ANTISSOCIAL... ARQUIRRIVAL se encaixa nesse caso, por isso se escreve com dois erres.

    Resumindo: só usamos hífen com prefixos de mais de uma sílaba e  terminados em vogal, quando a palavra seguinte começa por H e vogal igual: contra-ataque, sobre-erguer, anti-inflacionário, micro-ondas, anti-hemorrágico, mini-hospital, sobre-humano, arqui-inimigo...

    Com as demais letras, devemos escrever tudo junto (sem hífen): autocontrole, contraceptivo, contraindicação, infraestrutura, antissocial, antebraço, minissaia, televendas, arquirrival... 
      
    EMPECILHO ou IMPECILHO?
    Como se escreve (e pronuncia) essa palavra, que designa qualquer coisa que estorva, que atrapalha, que impede a realização de alguma coisa?

    Imagino alguém me perguntando: "Professor, você falou IMPEDE? Já sei a resposta: “O correto é IMPECILHO, com I, porque deriva de IMPEDIR, certo?"

    Poderia ser, mas... você errou!

    A forma correta é EMPECILHO, e não tem nada a ver com IMPEDIR, a não ser pelo significado.
    A palavra vem do verbo (em desuso) EMPECER, que significa "prejudicar", "dificultar".

    De agora em diante, não deixe mais que esta palavra vire um EMPECILHO (com E) para você falar e escrever corretamente.

    VEROSSÍMEL, VEROSSÍMIL ou VEROSSÍMIO?
    Já deve ter acontecido com você. Assistiu àquele filme sem pé nem cabeça, cheio de incoerências no roteiro, que desafia o bom senso, enfim, um filme no qual não dá para acreditar.

    Como você classificaria esse filme: INVEROSSÍMEL (com EL), INVEROSSÍMIL (com IL) ou INVEROSSÍMIO (com IO)?

    Vamos começar por eliminação: VEROSSÍMEL e INVERISSÍMEL(com EL) não existem. E as outras duas?

    Só dá para acreditar num filme, ou numa história qualquer, numa desculpa do amigo que deu mancada, quando há... VEROSSIMILHANÇA, ou seja, um nexo lógico entre os fatos ou as ideias.

    E o que tem VEROSSIMILHANÇA é... VEROSSÍMIL, com IL.

    A outra forma, VEROSSÍMIO (com IO no final), só se for no Planeta dos Macacos, que está repleto de SÍMIOS. Na língua portuguesa, também não existe.

    Se não tem verossimilhança, se não dá para acreditar, a história é INVEROSSÍMIL.

  • Algo que ocorre uma vez a cada dois meses é BIMENSAL ou BIMESTRAL?

    BIMENSAL ou BIMESTRAL?
    Imagine que você esteja lendo a previsão do tempo e se depare com a informação:
    “A Lua Cheia será BIMENSAL.”
    Antes de achar que nosso satélite saiu da órbita ou que os meteorologistas estão no mundo da Lua, pense um pouco e responda: você sabe a diferença entre BIMENSAL e BIMESTRAL?
    São palavras semelhantes, mas de significados diferentes:
    BIMENSAL é tudo que ocorre DUAS VEZES NO MÊS.
    BIMESTRAL é tudo que ocorre DE DOIS EM DOIS MESES.
    Algumas empresas, por exemplo, depositam parte dos salários no dia 1º e a outra metade no dia 15, portanto é um pagamento BIMENSAL. Já as provas nas faculdades costumam ser aplicadas a cada dois meses, portanto são provas BIMESTRAIS.
    A informação meteorológica de que falamos no início, portanto, não tem nada de errado. Embora raramente, a Lua Cheia pode, sim, ocorrer duas vezes no mesmo mês. Mas de dois em dois meses, só se for na ficção científica.

    AO INVÉS ou EM VEZ DE?
    É correto dizer “AO INVÉS de ir à padaria, foi ao mercado”?
    Errado não é, mas...
    Esse AO INVÉS virou palavra curinga. Serve para tudo.
    Muitos estudiosos já aceitam a frase "AO INVÉS DE ir à padaria, foi ao mercado".
    Mas é bom lembrar que a expressão AO INVÉS DE significa "ao contrário de", e só poderia ser usada no caso de trocas entre coisas opostas:
    “Entrou à direita ao invés de entrar à esquerda.” (Direita é o oposto de esquerda)
    “Subiu ao invés de descer.” (Subir é o oposto de descer.)
    Já naquela nossa frase de exemplo, mercado nunca foi oposto de padaria. Nesses casos, e sempre que houver dúvida, use EM VEZ DE, que serve tanto para coisas opostas quanto para não opostas. Veja os exemplos: “EM VEZ DE ir à padaria, foi ao mercado.”
    “Subiu EM VEZ DE descer.”“Entrou à direita EM VEZ DE entrar à esquerda.”
    Sem discutir certo ou errado, sugiro que só usemos AO INVÉS DE quando a substituição for entre opostos. E podemos usar EM VEZ DE para qualquer tipo de substituição (opostos ou não). Assim sendo, na dúvida, use sempre EM VEZ DE.

    Ao persistirem os sintomas???
    Esta frase aparece com muita frequência na televisão, em anúncios de remédios: AO PERSISTIREM os sintomas, um médico deverá ser consultado.
    Será que está correta? O que mudaria se a agência publicitária usasse A PERSISTIREM, em vez de AO PERSISTIREM?
    Quando diz AO PERSISTIREM, o comercial está praticamente afirmando que os sintomas persistirão, pois AO PERSISTIREM significa QUANDO PERSISTIREM. Compare:
    “Ao SOAR O APITO FINAL, os jogadores trocaram camisas.” (Ou seja: QUANDO SOOU o apito final, os jogadores trocaram camisas.)
    Agora, veja a diferença:
    “A CONTINUAR ESSA VENTANIA, vai chover mais tarde.”
    Percebeu? A pequena mudança do AO para A fez muita diferença. A CONTINUAR ESSA VENTANIA significa SE CONTINUAR ESSA VENTANIA.
    Certamente, a intenção do redator daquele anúncio imaginou essa hipótese: SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, ou SE OS SINTOMAS PERSISTIREM, consulte um médico.
    Deveria ter escrito, portanto: A PERSISTIREM OS SINTOMAS, e não "ao persistirem".

    ROLÊ ou RULÊ?
    Chega o inverno, é hora de tirar as blusas do armário, todas cheirando a naftalina.
    Uma das roupas mais comuns nessa época é a blusa com aquela gola que se enrola no pescoço – como se chama mesmo? Gola ROLÊ ou RULÊ?
    A palavra veio do francês roulé, que significa "enrolado". Em português, ficou RULÊ, com U.
    E aquele bife recheado, geralmente amarrado com uma linha ou preso por palitos: bife ROLÊ ou RULÊ?
    Curiosamente, o bife é ROLÊ, com O, muito embora a origem da palavra seja a mesma.
    Às vezes essa nossa língua é "enrolada", não é mesmo?

  • Extender ou estender?

    EXTENDER OU ESTENDER?

    Vamos observar uma palavrinha que pega muita gente boa no seu dia a dia e em concursos públicos também: "ESTENDER", com S, ou "EXTENDER", com X?

    Muito discutem esse caso comigo.

    "Mas, professor, por que essa complicação? Afinal, 'extender' vem de EXTENSÃO, e se EXTENSÃO é com X, claro que 'extender' é com X, não é isso?"

    Não é não! Esse é um dos mistérios da nossa língua.

    Palavras derivadas devem seguir a grafia da palavra primitiva: mesa > mesinha, mesário; casa > casinha, casarão; cruz > cruzinha, cruzada, encruzilhada; exame > examinar, reexame...

    Por isso escrevemos com “X”: EXTENSO, EXTENSÃO, EXTENSIVO...

    A grafia oficial do VERBO ESTENDER, entretanto, é com S, assim como ESTENDIDO

    O jeito, então, é decorar: EXTENSO, EXTENSÃO, EXTENSIVO,  com X, mas ESTENDER e ESTENDIDO, com S.

    "Extender", com X, não tem registro em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.


    SETECENTAS E DUAS ou SETECENTOS E DUAS MULHERES?

    Sabemos que numeral sempre concorda com o substantivo a que se refere. É como se fosse um adjetivo. Ninguém erraria ao dizer "No recinto havia setecentAs mulheres", "Compareceram novecentAs pessoas", etc.

    A dúvida que muita gente tem é quando o número não é redondo. Afinal, o feminino na unidade permanece na centena, como em SETECENTAS E DUAS? Ou só o último elemento do numeral é que deve concordar em gênero, ficando então "SETECENTOS E DUAS mulheres?"

    Nada disso. Sempre que possível, e necessário, os dois elementos devem ser flexionados no feminino.

    Observe melhor:

    SetecenTAS e DUAS mulheres

    QuinhenTAS e UMA pessoas.

    Veja que, quando o numeral não tiver feminino, não há flexão:

    “Foram aprovadas no concurso DuzenTAS e DEZ mulheres” ("dez" não tem feminino, mas "duzentos" tem.)

    Outro exemplo: “Para o novo escritório, foram compradas CENTO e OITO cadeiras” (nem "cento" nem "oito" têm feminino).


    A CERCA ou ACERCA de 20 anos?

    Você sabe dizer quando se emprega A CERCA (separado) ou ACERCA (junto)?

    Devemos escrever A CERCA DE (separado) quando nos referimos a distância ou a tempo futuro, significando "a aproximadamente". Por exemplo:

    “Estamos A CERCA DE dez quilômetros do vilarejo” (refere-se a uma distância aproximada);

    “A próxima aparição do meteoro será daqui A CERCA DE 20 anos” (falamos de tempo futuro).

    Só escrevemos ACERCA DE (junto), quando significa “a respeito de”, "sobre". Veja um exemplo:

    “Falávamos ACERCA DAS eleições deste ano” (ou seja, falamos sobre as eleições, a respeito das eleições).

    Temos ainda a forma “há cerca de”, que devemos usar quando nos referimos a tempo passado: “Isso aconteceu há cerca de 90 dias”. Devemos usar ainda com o sentido de “existir”: “Há cerca de dez mil manifestantes na Praça Central”


    O time INVERTEU ou REVERTEU o resultado?

    Locutores esportivos adoram florear a linguagem, usar termos inusitados... Alguns, porém, na ânsia de parecer especialistas, acabam pisando na bola.

    É comum a gente ouvir frases como: "O time da casa fez dois gols no primeiro tempo e ficou difícil para o rival REVERTER o resultado".

    A verdade é que "ficou difícil INVERTER o resultado", e não "reverter". Se o time está perdendo e precisa ganhar o jogo, só vai conseguir isso INVERTENDO o resultado, ou seja, "mudando para o oposto".

    REVERTER, rigorosamente,  significa voltar à situação anterior, ao ponto de partida, à estaca zero. Desse verbo veio o adjetivo IRREVERSÍVEL, que significa "que não tem volta".

    Se reverter uma situação significa "voltar à situação anterior", o que se quer, na verdade, é INVERTER a situação. Ou seja, se está ruim, queremos mais é que fique boa.

    Resumindo:
    INVETER = mudar para o oposto: “Inverteram a mão da rua onde ele mora”;

    REVERTER = voltar à situação anterior: “O médico conseguiu reverter o quadro clínico do paciente que havia entrado em coma”.

    Do verbo REVERTER derivam os adjetivos REVERSÍVEL (o que volta a ser como antes) e IRREVERSÍVEL (o que não tem volta).

  • Como está seu vocabulário?

    Vamos testar como anda seu vocabulário.

    1) Qual é o significa da palavra topônimo? Topônimos são...
    a) nomes de origem indígena;
    b) nomes de lugares;
    c) nuclídeos que têm o mesmo número atômico.

    2) Qual é o significado de transgênico?
    a) organismo que possui um ou mais genes provenientes de outra espécie;
    b) formação de nova espécie por meio de mutações;
    c) indivíduo que deseja pertencer ao sexo oposto.

    3) Que é infligir?
    a) torturar, atormentar;
    b) aplicar, imputar;
    c) violar, transgredir.

    4) Que significa hipotermia?
    a) diminuição excessiva da temperatura normal do corpo;
    b) pressão baixa;
    c) excessiva elevação da temperatura do organismo.

    5) Que significa falácia?
    a) falsidade, engano, trapaça;
    b) falação, ato de falar fluentemente;
    c) discurso, oratória.

    6) Que é hipertrofia?
    a) insuficiência nutricional; diminuição da vitalidade;
    b) desgaste ou diminuição de tamanho de célula, tecido, órgão ou estrutura do corpo;
    c) aumento de tamanho de órgão; desenvolvimento excessivo.

    7) Que significa impávido?
    a) que não tem pavor, destemido;
    b) indiferente à dor, imune às paixões;
    c) predileção por coisas antigas, aversão ao progresso.

    8) Que é lábaro e pendão?
    a) grande pêndulo;
    b) bandeira, flâmula;
    c) céu, abóbada celeste.

    9) Que é neófito?
    a) um tipo de folha;
    b) novato, principiante, noviço;
    c) ignorante, quem não tem cultura e inteligência.

    Respostas:

    1) Letra (b) = topo (lugar) + onimo (nome).
    Topônimos são os nomes próprios de lugares: América, Brasil, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Serra do Mar, Cabo de Santo Agostinho...

    2) Letra (a) = trans (=mudança) + geno (=gene). Formação de nova espécie por meio de mutações é transmutação. Indivíduo que deseja pertencer ao sexo oposto é transexual.          
     
    3) Letra (b) = Infligir penas, multas ou castigos significa “imputar penas, aplicar multas, impor castigos”. Torturar ou atormentar é afligir. E violar ou transgredir é infringir.

    4) Letra (a) = hipo (baixo, pouco) + termia (temperatura). Pressão baixa é
    hipotensão. E hipertermia é a excessiva elevação da temperatura do corpo.

    5) Letra (a) = Falácia é a qualidade de falaz. Um argumento falaz é “falso,
    enganoso”.

    6) Letra (c) = o prefixo grego “hiper” significa “grande”. Corresponde ao
    prefixo latino “super”. Daí o supermercado e o hipermercado. Um órgão hipertrofiado é aquele que aumentou excessivamente o seu tamanho. O desgaste ou diminuição de um órgão é atrofia. E abiotrofia ou hipotrofia é a insuficiência nutricional, a diminuição da vitalidade com perda da resistência física.

    7) Letra (a) – impávido = im (negação) + pavor. Diz o nosso hino:
    “Gigante pela própria natureza. És belo, és forte, impávido colosso”. Isso significa que o Brasil é gigante, é belo, é forte, é um colosso destemido, que nada teme, que nada lhe causa pavor. Indiferente à dor e imune às paixões é impassível. E predileção por coisas antigas e aversão ao progresso é imobilismo. 

    8) Letra (b) – também aparecem no nosso hino. O “lábaro estrelado” é a
    bandeira nacional cheia de estrelas, que representam os estados da federação. Pendão aparece também no início do Hino à Bandeira, de Olavo Bilac: “Salve lindo pendão da esperança...” Isso significa que lábaro, pendão, flâmula e bandeira são palavras sinônimas.

    9) Letra (b) = neófito, na igreja primitiva, era o indivíduo recentemente convertido ao cristianismo. O prefixo “neo” vem do grego e significa “novo”. Daí o tal de neoliberalismo (=doutrina nova, em voga nas últimas décadas do século XX, que prega a redução do Estado na economia e na esfera social).

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.