'Fi-lo porque qui-lo': aprenda gramática com frase histórica de Jânio Quadros
FI-LO PORQUE QUI-LO
Vamos lembrar um pouco de história, política e gramática?
O ex-presidente Jânio Quadros gostava de usar palavras difíceis, construções eruditas, para manter sua imagem de pessoa culta. Diz o folclore político que, ao ser indagado sobre os motivos de sua renúncia, em 1961, teria dito: "Fi-lo porque qui-lo".
Traduzindo para uma linguagem mais acessível, mais moderna, ele quis dizer "fiz isso porque quis isso", ou, simplificando, "fiz porque quis".
Esse "LO" nada mais é que o pronome oblíquo "O", que ganha um L quando a forma verbal termina em “r”, “s” ou “z”, que deverão ser cortados: encontrar-o = encontrá-lo; receber-o = recebê-lo; satisfiz-o = satisfi-lo; quis-o = qui-lo , etc.
E a ordem das palavras, estaria correta?
Reza a gramática normativa que algumas palavras, chamadas "atrativas", têm o poder de puxar para perto os pronomes oblíquos. Entre elas estão as conjunções subordinativas, como o "porque".
Jânio, portanto, teria errado ao dizer essa frase. Duvido que ele tenha dito.
Segundo a gramática tradicional, o correto seria "FI-LO PORQUE O QUIS".
RAINHA ou RAÍNHA?
Você sabe que cargo ocupa Elizabeth Segunda, da Inglaterra? Você escreve RAINHA (sem acento) ou RAÍNHA (com acento)?
Muita gente talvez perca a majestade com essa dúvida. Não é para tanto. Vamos começar separando as sílabas. São três: RA - I - NHA.
E qual é a sílaba mais forte? É a segunda, formada apenas pela letra "i". A letra anterior a ela é outra vogal ("a"), que está na sílaba anterior. Forma-se assim o que chamamos hiato: duas vogais juntas em sílabas separadas.
Normalmente, quando isso acontece (duas vogais seguidas, em sílabas diferentes), a vogal "i" recebe acento agudo, se ficar sozinha na sílaba ou com “s”. Observe exemplos: sa-í-da, fa-ís-ca, a-ça-í, tra-í-ra, Lu-ís, Lu-í-sa, I-ca-ra-í,
Então, resolvido? Ainda não. Veja que é diferente quando, depois do "i", vêm duas letrinhas, um N e um H (o grupo NH), formando o som que a gente encontra em baNHO, amaNHÃ, viNHO, etc.
Aí é que está o problema. Quando isso acontece, o "I" não recebe acento agudo, como em TAINHA, LADAINHA, MOINHO, BAINHA, FUINHA, COROINHA, etc.
Por isso, nada de trocar seu reino por um dicionário. É bom ter um, mas agora já sabe: RAINHA não tem acento.
TINHA TRAGO OU TINHA TRAZIDO?
Vamos voltar a uma dúvida que muita gente tem: uso do particípio.
Alguns verbos apresentam dois particípios. E o que isso significa? Veja os exemplos:
“Não sabia que o poeta HAVIA MORRIDO.”
“Não sabia que o poeta ESTAVA MORTO.”
“Quando liguei para o banco, o gerente já TINHA ACEITADO a promissória.”
“A promissória FOI ACEITA pelo banco.”
Percebeu? Com os verbos TER e HAVER, devemos usar um tipo de particípio (terminado por –ado ou –ido), que é a forma "regular"; com os verbos SER e ESTAR, outro tipo, chamado "irregular".
Mas será que isso também acontece com o verbo TRAZER? A verdade é que esse verbo só tem um particípio: a forma regular (TRAZIDO)
É inaceitável, portanto, o uso da forma “trago” como particípio: "Perguntou à aluna se ela tinha trago o trabalho."
Diga sempre TINHA TRAZIDO, HAVIA TRAZIDO, FOI TRAZIDO.
HORTÊNSIA OU HORTÊNCIA?
Você certamente conhece nosso maior ídolo no basquete feminino, a jogadora Hortência.
Mas você sabia que esse também é nome de uma flor? E será que os pais da nossa rainha do basquete a batizaram (anos atrás, lá em Potirendaba, no interior de São Paulo) conforme a ortografia oficial?
Como você escreveria o nome da flor: hortênCia (com C, como a jogadora) ou hortênSia (com S).
Se você apostou que o correto é com C... errou! Lamento informar que "hortênSia", a flor, é com S.
Então, para não errar mais, já sabe: a jogadora Hortência (com C) é uma flor de pessoa, mas o nome da flor é com S.
É sempre interessante lembrar que, no Brasil, é muito frequente nomes próprios não respeitarem o sistema ortográfico vigente.