Filtrado por dicas Remover filtro
  • Não aprenda crase com placas de trânsito (e mais quatro dicas de português)

    Obras À 100 metros ou obras A 100 metros?
    Não queira aprender o uso do acento da crase em placas de trânsito. É impossível. Essas placas devem ter sido escritas por algum especialista "anticrase". Ele não acerta uma.

    Em TRÁFEGO PROIBIDO À CAMINHÕES (com acento de crase no A), encontramos um caso absurdo. Caminhão é substantivo masculino. Não pode haver antes dele o artigo definido feminino, por isso é impossível ocorrer crase.

    O certo é: TRÁFEGO PROIBIDO A CAMINHÕES, sem acento no A, pois temos apenas a preposição.

    Erro semelhante ocorre em TRÁFEGO PROIBIDO À MOTOCICLETAS. Você talvez diga, "mas, professor, MOTOCICLETA é feminino!". Sim, mas está no plural. Jamais ocorre crase quando a preposição A aparece antes de um substantivo plural, mesmo sendo feminino. O tráfego só pode ser PROIBIDO A MOTOCICLETAS, sem acento no A, pois temos apenas a preposição.

    E para encerrar, o famoso caso da placa OBRAS À 100 METROS. Mais uma vez, o autor tinha duas informações para checar e, assim, não errar: primeira, 100 METROS é masculino, e segunda, está no plural. O certo é: OBRAS A 100 METROS, sem acento no A.

    Verbos REPUGNAR e DIGNAR-SE

    Como você pronuncia o verbo REPUGNAR, ao dizer que algo (por exemplo, a guerra) lhe causa repulsa? “A guerra me REPUGNA” (com G “mudo” e força na sílaba PUG) ou “A fome me REPUGUINA” (com GUI e força nessa sílaba)?

    É o mesmo caso do verbo DIGNAR-SE: “Fulano não se DIGNA responder-me” ou “Fulano não se DIGUINA responder-me”?

    Repugnar e dignar-se têm pronúncias semelhantes: “A guerra me REPUGNA” e “Fulano não se DIGNA responder-me”.

    Desta forma, também, se conjugam esses verbos: não existe REPUGUINA nem DIGUINA.

    REPUGNAR e DIGNAR-SE são verbos regulares. Como o infinitivo desses verbos não apresenta GUI, sua conjugação também não terá, nem na escrita nem na pronúncia.

    ÓPTICA ou ÓTICA?
    Vamos a mais uma dica? Se você não usa óculos, certamente conhece alguém que usa e que teve de recorrer a certo estabelecimento para mandar fazê-los.

    E como se chama esse estabelecimento: ÓPTICA ou ÓTICA?

    Originalmente, a palavra ÓTICA se refere a ouvido. Sua raiz é grega, OTOS, presente em palavras como OTITE (inflamação no ouvido), OTORRINOLARINGOLOGISTA (médico que trata de ouvido, nariz e garganta), etc.

    E ÓPTICA, que também vem do grego, significa "visão".

    Hoje em dia, porém, a forma ÓTICA também é aceitável para as lojas que vendem óculos. Mas um "exame ÓTICO" continua sendo só um exame de ouvido.

    PÁRA ou PARA?
    O que você entenderia ao ler a seguinte manchete num jornal: "Marcha PARA São Paulo"?

    Até a vigência do Novo Acordo Ortográfico, a partir de 2009, era possível distinguir a preposição PARA (“Viajou para longe”) do verbo PARAR na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo (“Ele não pára de falar!”, com acento agudo no primeiro A).

    A frase em questão, naquela época, não deixaria dúvidas.

    "Marcha PARA São Paulo" (sem acento) significaria que uma marcha se dirige à cidade de São Paulo. Já "Marcha PÁRA São Paulo", com acento, seria a notícia de uma marcha que paralisou a cidade.

    O Acordo Ortográfico, no entanto, aboliu esse acento, e agora, em certos casos, fica difícil deduzir o significado de PARA. No caso dessa frase, é preciso ler a reportagem toda para saber do que se trata.

    Portanto não erre mais: tanto a preposição PARA quanto a flexão do verbo PARAR (Ele PARA) se escrevem sem acento algum.

  • Vimos ou viemos à reunião?

    Nós VIMOS ou VIEMOS à reunião?

    Muita gente tem dúvida na hora de flexionar o verbo VIR. Quer um exemplo: Como você diria: “Nós VIMOS ou nós VIEMOS à reunião?”

    A resposta é: depende. Sim, depende do tempo a que nos referimos.

    A forma VIMOS é do presente do indicativo. Por exemplo:
    “VIMOS, por meio desta, solicitar..." (o verbo VIR está na 1ª pessoa do plural, no presente do indicativo);

    A forma VIEMOS é do pretérito, do passado. Exemplo:
    "Ontem nós VIEMOS à reunião." (o verbo VIR está também na 1ª pessoa do plural, mas desta vez no pretérito perfeito do indicativo).

    Muita gente evita usar o presente, porque a forma VIMOS é, também, o passado do verbo VER: "Nós o vimos ontem, quando saía do escritório".

    Para não ter dúvidas sobre qual é o verbo que está sendo usado (o VIR ou o VER), ponha o verbo no singular. Veja:
    “VENHO, por meio desta, solicitar...” (essa é a 1ª pessoa do singular, em vez de VIMOS, 1ª do plural);
    “Eu o VI ontem, quando saía do escritório” (essa é a 1ª pessoa do singular, em vez de VIMOS, 1ª do plural).

    EXISTE "OUTRA ALTERNATIVA"?


    Você certamente já se deparou com a expressão outra alternativa.               

    Será que ela existe?

    Muita gente, até mesmo em programas de televisão, revela essa dúvida. Alguns até já trazem a resposta, dizendo que é uma redundância, por causa da origem da palavra "alternativa".

    ALTER significa "outro". Assim sendo, dizer "outra alternativa" seria um sacrilégio. Deveríamos, por isso, dizer "outra opção". 

    Etimologicamente, essas pessoas podem até ter razão, mas a verdade é que, hoje em dia, alternativa se tornou sinônimo de opção. Não chega a ser um erro, mas, se pudermos evitar, é melhor.

    Quando dizemos que "não há alternativa", já estamos afirmando que só temos uma opção.

    Não é preciso dizer que temos "outra alternativa". Basta dizer que temos "uma alternativa", que já significa que temos "outra opção".

    E lembre-se, "duas alternativas" não está errado: são "duas outras opções".


    CANDIDATO "A DEPUTADO" OU "À DEPUTADO"?

    Sempre que chega a época das eleições, tanto as propagandas eleitorais quanto os telejornais nos premiam com muitas pérolas.

    Uma delas é escrever "Fulano, candidato À deputado", com acento indicador de crase na preposição A. Talvez isso ocorra porque as pessoas se atrapalham com as seguintes situações:
    “Candidato À REELEIÇÃO” (com o acento indicativo da crase, correto);
    “Candidato A DEPUTADO” (sem o acento da crase).

    A diferença entre os dois exemplos é que no segundo caso não há ocorrência de crase (união de dois as) já que "deputado", além de ser um substantivo masculino, está tomado no sentido genérico, isto é, sem artigo definido.

    É o mesmo caso de "candidato A PRESIDENTE", "candidato A GOVERNADOR", tudo sem o acento grave indicativo da crase.

    E atenção, se houver uma "candidata A SENADORA", ou uma "candidata A PRESIDENTA", também não ocorre crase.


    Fulano é SUPER PAI, SUPER-PAI ou SUPERPAI?

    Eis que voltamos ao uso (ou não) do hífen, esse tema tão frequente em provas e concursos.

    A forma correta é SUPER PAI (separado), SUPER-PAI (com hífen) ou SUPERPAI, tudo junto?

    Com os prefixos terminados em "R" (SUPER, HIPER e INTER), usamos hífen quando a palavra seguinte começa por "H" ou "R": super-homem, super-herói, super-resistente, super-rápido, hiper-realismo, inter-regional, inter-helênico. Tudo isso é com hífen.

    Com as demais letras, devemos escrever sem hífen, sempre junto: supermercado, superinteressante, supersábado, superlegal, SUPERPAI, hipermercado, hipertensão, interestadual, intermunicipal, internacional, etc.

    As formas "super pai" (separado, sem hífen) e "super-pai" (com hífen) estão erradas.

    BODE ESPIATÓRIO ou EXPIATÓRIO?

    Como vocês escreveriam a expressão bode expiatório, que significa "penar pelas culpas alheias"?

    Pois é, ao contrário do que muita gente pensa, esse bode aí não é um sujeito chato que vive espionando a vida dos outros, no caso, um "bode espião".

    Por isso é que não se escreve com S, mas com X. Isso mesmo, escreva BODE EXPIATÓRIO, com X.

    Esse adjetivo vem do verbo EXPIAR (com X), que significa "penar, sofrer", e não de ESPIAR (com S), cujo sentido é espionar, bisbilhotar.

    O tal bode expiatório é aquele que paga pelas culpas alheias, é quem pena pelos outros.

    A origem é bíblica. Os hebreus tinham o costume de, anualmente, fazer uma festa para aplacar a ira divina. Um bode, após receber todas as maldições, era jogado no deserto. Sua função era expiar, ou seja, redimir, purificar a culpa do povo. Daí o bode expiatório.

  • Como escrever? 'As milhões', 'Nova Iorque', 'Antártica' e 'Independente'

    AS MILHÕES DE PESSOAS ou OS MILHÕES DE PESSOAS?

    De vez em quando, no noticiário de rádio e televisão, alguém se refere a multidões, a populações, a "milhões de pessoas". E muitos jornalistas tarimbados acabam errando.

    Mas afinal, qual é a forma correta: "OS milhões de pessoas" ou "AS milhões de pessoas"?

    Nós já vimos que o numeral deve concordar com o substantivo a que se refere. Ora, se "milhão" é numeral, então ele deve concordar, na frase acima, com PESSOAS, certo?

    Não é bem assim.

    No caso, MILHÃO é invariável para gênero, isto é, fica sempre no masculino. Dizemos:
    “UM MILHÃO DE PESSOAS visitou o Brasil durante o Mundial”;
    “DOIS MILHÕES DE ESPÉCIES já foram extintas desde aquela época”.

    NOVA IORQUE ou NOVA YORK?

    No meio jornalístico, há uma discussão quanto à grafia de York, em inglês ou na sua forma aportuguesada? É uma briga sem fim.

    A maioria dos jornais brasileiros hoje prefere NOVA YORK, em inglês (com Y e K).

    O antigo "Jornal do Brasil" preferia a forma NOVA IORQUE, aportuguesada, começando com I e terminando com QUE. Até para ser coerente com o adjetivo gentílico, afinal, quem nasce naquela cidade é NOVA-IORQUINO, com I e QUE, como está nos dicionários.

    Nesse caso, fica à vontade do freguês.

    A forma NOVA IORQUE, com I e QUE, vem caindo cada vez mais em desuso na imprensa brasileira, embora seja ainda forte em Portugal. Tanto é que aquele famoso filme com Leonardo de Caprio "Gangues de Nova YORK" (com Y e K) chamou-se "Gangues de Nova IORQUE", com I e QU, nas terras d'além-mar.

    ANTÁRTICA ou ANTÁRTIDA?

    Você sabe a diferença entre ANTÁRTICA e ANTÁRTIDA?

    Antártida é o nome do continente gelado do Polo Sul do nosso planeta.

    Antártica é toda a região, incluindo os mares e o próprio continente.

    A ANTÁRTIDA também pode ser chamada de ANTÁRTICA, mas a região é sempre ANTÁRTICA. 

    A palavra Antártico é formada pelo prefixo ANTI-, que significa "contra", mais o substantivo Ártico, que é a região dos ursos no polo contrário.     

    Antártico, portanto, é a região que se opõe ao Ártico, que é o extremo do Polo Norte.

    Por essa razão, muitos defendem que a forma ANTÁRTIDA seria errada, que só a forma ANTÁRTICA é correta, pois não existe "Ártida".    

    Esqueça. Para denominar o continente gelado do Polo Sul, o uso consagrou as duas formas.


    INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE?

    Vocês sabem a diferença ente INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE?

    Essa dúvida é muito comum entre as pessoas que escrevem textos com frequência.

    É a diferença entre um adjetivo e um advérbio. INDEPENDENTE é um adjetivo. Deve ser usado para qualificar um substantivo: nação independente, liga independente.

    Como advérbio, isto é, se o falante quer dizer “de um modo independente”, segundo a tradição, deveríamos usar INDEPENDENTEMENTE.

    Muitos estudiosos, porém, aceitam o uso de INDEPENDENTE na função de advérbio. Observe os exemplos:
    “Ele agiu INDEPENDENTEMENTE (ou INDEPENDENTE) do conselho dos pais”;
    “INDEPENDENTE (ou INDEPENDENTEMENTE) da decisão da diretoria, o presidente assinou o contrato”.

    Que se pode deduzir disso tudo?

    Que você pode usar INDEPENDENTE no lugar de INDEPENDENTEMENTE, mas não o contrário.

    O mesmo ocorre com outros advérbios:
    “Eles falavam CLARO ou CLARAMENTE”;
    “Elas retornarão BREVE ou BREVEMENTE”;
    “Ela deve voltar RÁPIDO ou RAPIDAMENTE”.


    A FORA ou AFORA?

    Vamos observar uma duplinha que causa confusão: a fora (separado) e afora (tudo junto).

    AFORA, tudo junto, tem vários significados. Veja os exemplos:
    “Saiu porta AFORA” (quer dizer saiu "para o lado de fora da porta");
    “Serviu-lhe pela vida AFORA” (tem sentido de "ao longo da vida").
    “AFORA este caso, o restante está correto” (quer dizer "com exceção deste caso");
    “AFORA ser muito bonita, é também muito inteligente” (quer dizer "além de bonita")

    Já a forma A FORA, separadamente, só se usa na expressão "de fora a fora" (ou seja, em toda a extensão), como na frase: "Atravessou a casa de fora a fora".

  • É possível usar "parabenizarmos", "informamo-lhe", "consigo mesmo" e "qüestão"?

    Queremos parabenizar ou queremos parabenizarmos?

    Novamente nos deparamos com dúvidas na flexão do infinitivo....

    Essa é uma questão que trata do infinito pessoal e do impessoal.               

    Você diria: QUEREMOS PARABENIZAR OU QUEREMOS PARABENIZARMOS?

    O certo é "queremos PARABENIZAR", sem flexionar o verbo. E por quê?

    Em locuções verbais, usamos o infinitivo IMPESSOAL, ou seja, aquela forma que não varia. Veja os exemplos:
    “Eles podem SAIR”, e não "Eles podem saírem";
    “Tu deves VIAJAR”, e não "Tu deves viajares".

    O que varia, nas locuções, é o verbo auxiliar.

    Na frase QUEREMOS PARABENIZAR, note que o verbo QUERER já foi flexionado na primeira pessoa do plural, virou QUEREMOS.

    Em "Eles PODEM sair", o verbo auxiliar (PODER) foi para a terceira pessoa do plural ("podem").

    Em "Tu DEVES viajar", o verbo auxiliar DEVER foi para a segunda pessoa do singular ("deves").

    Devemos tomar um cuidado especial com frases longas e invertidas:
    “Devem todos os interessados observarem melhor os fatos”. O correto é “DEVEM todos os interessados OBSERVAR melhor os fatos”, ou seja, “Todos os interessados devem observar melhor os fatos”.

    Informamo-lhe ou informamos-lhe?

    Nossa dúvida envolve verbos e pronomes...

    Na língua portuguesa, é mais ou menos comum que o verbo sofra alguma alteração por causa do pronome enclítico.

    Enclítico, você lembra, é o pronome colocado após o verbo.

    Veja este exemplo:
    “Assim que viu o novo modelo de sapatos, foi correndo COMPRÁ-LO”.

    Essa forma, COMPRÁ-LO, equivale a "comprar isso" ou, no caso, "comprar o novo modelo de sapatos". O verbo COMPRAR, no infinitivo, foi alterado  e o pronome “O” vira "LO". Em vez de "COMPRAR-LO", ficou "COMPRÁ-LO", sem o R final e com acento agudo no "A".

    E agora, a questão crucial. O correto é INFORMAMO-LHE ou INFORMAMOS-LHE?

    Não importa o que vai ser informado, o correto é INFORMAMOS-LHE, mantendo o S final.

    Isso porque o pronome LHE, em qualquer posição, não causa alteração gráfica no verbo.


    Questão ou qüestão?

    Algumas palavras da língua portuguesa admitem pronúncias diferentes.

    Por exemplo: "LÍQÜIDO" (pronunciando o U após o Q) e LÍQUIDO (com U mudo), a forma mais comum.

    Até a reforma ortográfica que entrou em vigor em 2009, não era errado grafar LÍQÜIDO, com trema, aqueles dois pontinhos que se punham sobre o U e que agora estão extintos.

    Outro exemplo é a palavra ANTIGUIDADE (com GUI como em ENGUIÇO, PREGUIÇA), o período histórico que muitos chamam de ANTIGÜIDADE, com GUI de LINGUIÇA, PINGUIM.

    Será que a palavra QUESTÃO também pode ser pronunciada como "QÜESTÃO", com Q-U-E de SEQUESTRO, EQUESTRE?

    Oficialmente a palavra QUESTÃO nunca teve trema. Isso significa que a pronúncia oficial sempre foi QUESTÃO (com U mudo).

    Assim também se pronunciam as palavras derivadas: QUESTIONAR, QUESTIONÁRIO, QUESTIONAMENTO, etc.

    "Consigo mesmo", isso pode?

    Estamos de volta aos pronomes... E vejam só: o pronome consigo, em Portugal, é usado no sentido de "com você", "com o senhor".

    No Brasil, é usado mais no sentido de "com si próprio", ou seja, é uma forma reflexiva. Rigorosamente, consigo só poderia ser "com si mesmo".

    Assim sendo, falar "consigo mesmo" seria redundante, uma espécie de pleonasmo, mas não pode ser considerado um erro. O uso dos pronomes "mesmo" e "próprio" caracteriza, portanto, um reforço.

    Em alguns casos pode evitar ambiguidades:
    "Assumir um compromisso consigo" poderia ser interpretado como um compromisso com você ou um compromisso consigo mesmo. Nesse caso, melhor seria usar “consigo mesmo”, "com si próprio".

    Quando não houver perigo de ambiguidade, o uso do pronome de reforço é desnecessário:

    Veja exemplos:
    “Ele sempre carrega o passaporte consigo” (= com ele mesmo, junto dele);
    “Ele tem um compromisso consigo mesmo” (=compromisso com si mesmo, com sua própria pessoa).

  • Ele tirou férias para não ESTRESSAR ou não SE ESTRESSAR?

    É a nossa velha conhecida regência verbal. Vamos analisar a seguinte frase: "Ele tirou férias para não ESTRESSAR" ou não será "Ele tirou férias para não SE ESTRESSAR?"

    Falando em termos gramaticais, trata-se de saber se o verbo ESTRESSAR pode ou não ser intransitivo. Se o verbo é ESTRESSAR ou ESTRESSAR-SE.

    Os dicionários registram que só é possível estressar alguém ou alguma coisa, ou seja, o verbo pede um complemento, que pode ser até a própria pessoa.

    Se eu digo "tirou férias para não estressar", alguém poderia perguntar "não estressar o quê?" ou "não estressar quem?"

    O correto, portanto, é que "Ele tirou férias para não SE ESTRESSAR", ou seja, para não estressar a si mesmo.

    Prendi os documentos com CLIPS ou com CLIPES?
    Vocês dizem e escrevem clipes ou clips (sem E ) de papel?

    Antes de responder vamos a uma curiosidade. Esse pequeno objeto de arame foi inventado pelo norueguês Johan Vaaler em 1899 e em inglês se diz clip, que é a redução da expressão paper ("papel") clip ("juntar").

    Até então, quem queria manter juntas duas ou mais folhas de papel, usava um alfinete. E assim, como tudo que vem para simplificar a vida, essa presilha ganhou mundo e veio parar no Brasil, onde ficou tão familiar que teve seu nome aportuguesado para CLIPE.

    Seu plural é normal: CLIPES, e não como alguns pronunciam, querendo esnobar, "clips", em inglês.

    Portanto, pode dizer, sem medo de errar: “Eu prendi os documentos com CLIPES”, com ES no final.

    CO-SENO, COSSENO ou COSENO?
    Esta dúvida persegue muitos estudantes e professores de matemática. Como escrever o nome da função trigonométrica - CO-SENO (com hífen), COSSENO (tudo junto e com 2 esses) ou COSENO (tudo junto e com um esse só)?

    O Novo Acordo Ortográfico diz que, nas formações de palavras com o prefixo CO-, este sempre se aglutina sem hífen ao segundo elemento.

    Sendo assim, a forma "CO-SENO" (com hífen), que era usada até 2009, quando entrou em vigor o Novo Acordo, agora está desatualizada.

    Mas ficamos ainda com a dúvida: COSENO (com um S só) ou COSSENO (com dois SS).

    Veja que, se mantivermos um S só, mudaremos a pronúncia da palavra, pois o S entre duas vogais tem som de Z. Quando isso acontece, devemos DOBRAR essa consoante, para manter o som original, o som pretendido.

    Então, para não dizer /cozeno/, devemos escrever COSSENO, com SS.

    A forma "coseno", com um só S, não existe e nunca existiu.

    EXISTE TIME "BIMUNDIAL"?
    Voltamos ao tema do futebol, que tanto encanta os brasileiros.

    Vamos falar de um clube que ostenta em sua camisa a palavra BIMUNDIAL, escrita sem hífen.

    Mas será que esse time é "bimundial" mesmo?

    Sem entrar nos méritos futebolísticos da questão (que esse clube deve ter), vamos pensar na formação dessa palavra.

    Em toda palavra formada por prefixo, este último se une ao segundo elemento para modificá-lo. Veja estes exemplos:

    "O São Paulo sagrou-se TRICAMPEÃO". Isso significa que ele foi CAMPEÃO TRÊS VEZES, porque o "TRI" significa "três".

    "A usina de Itaipu é BINACIONAL". Isso significa que ela pertence a dois países. No caso, Brasil e Paraguai.

    Ao escrever "bimundial" sem nenhuma separação, o clube está dizendo que pertence a dois mundos. Terra e Marte, talvez? É lógico que não é nada disso.

    Ele quis dizer que seu clube é BICAMPEÃO MUNDIAL. O "BI" é uma forma abreviada de BICAMPEÃO.

    A forma BIMUNDIAL (sem hífen) é típica do chamado “futebolês”: não tem lógica, mas todos entendem. É mesmo que dizer que o seu time conseguiu o “vice-campeonato”. A verdade é que ele é o vice-campeão.

    Duas dicas valiosas sobre o uso do hífen:

    1ª) Com prefixos monossílabos, o normal é escrevermos “tudo junto” (sem hífen: bicampeão, tricampeão, bissexual, bisavô, binóculo, bisneto, bicolor, tricolor, trilegal, triângulo, triatleta, triatlo, trifásico...

    2ª) Com prefixos com mais de uma sílaba (dissílabos, trissílabos), só devemos usar hífen, se a palavra seguinte começar por H ou VOGAL IGUAL: infra-hepático, anti-hemorrágico, auto-hipnose, contra-ataque, sobre-erguer, anti-inflamatório, anti-inflacionário, micro-ondas, micro-ônibus...

    Com as demais letras, devemos escrever “sempre junto” (sem hífen): infraestrutura, sobrecoxa, antivírus, microcomputador...

    Assim sendo, se o seu time ganhar campeonatos mais de três vezes, será TETRA, PENTA, HEXA, HEPTA, OCTO ou OCTA, ENEA, DECA...

    E isso significa não haverá hífen. O correto, portanto, é: tetracampeão, pentacampeão, hexacampeão, heptacampeão, octacampeão, eneacampeão, decacampeão...

  • Ele tinha chego ou chegado?

    A primeira dúvida de hoje é fonte de muitas discussões: os verbos que têm dois particípios, como o verbo ACEITAR, que apresenta as formas ACEITADO e ACEITO.

    Podemos dizer:
    “Ele tinha aceitado o novo emprego.”
    “Ele foi aceito na escola militar.”

    O problema é pensar que todos os verbos têm dois particípios. O verbo CHEGAR, por exemplo, só apresenta uma forma para o particípio, que é a forma regular CHEGADO.

    Portanto devemos dizer sempre:
    “Ele tinha chegado atrasado.”

    E nunca, em nenhuma hipótese, diga:
    “Ele tinha “chego” atrasado.”

    A forma verbal CHEGO só existe no presente do indicativo:
    “Eu nunca chego atrasado.”

    É inaceitável o uso de CHEGO como particípio.

    Ele vive às custas do pai ou à custa do pai?

    Com frequência ouvimos frases como:
    “Ele venceu na vida às custas de muito trabalho.”
    E
    “Ele ainda vive às custas do pai.”

    O problema é que, embora frases desse tipo sejam muito comuns, elas são condenadas pela gramática tradicional. A dúvida está no uso da expressão ÀS CUSTAS DE, pois a palavra CUSTAS, assim no plural, só poderia ser empregada no meio jurídico com o significado de "despesas de processo".

    É correto, então, dizer:
    “O advogado apresentou as custas do processo.”

    Mas, no sentido de despesa ou de sacrifício, deveríamos usar a forma singular: À CUSTA DE.

    É correto, portanto, dizer:
    “Ele venceu na vida À CUSTA DE muito trabalho.”
    “Ele ainda vive À CUSTA DO pai.”
    “Ele passou no concurso À CUSTA DE muito esforço e dedicação.”

    Traz ou trás?

    Vamos observar duas palavrinhas que têm o mesmo som, mas que, dependendo de como as escrevemos, têm significados diferentes e, logicamente, devem ser usadas em situações diferentes.

    É o caso da dupla TRAZ (com z) e TRÁS (com S e acento).

    A palavra TRÁS (com S e acento) indica um lugar posterior e sempre vem acompanhada de uma preposição, geralmente DE ou PARA. Veja estes exemplos de TRÁS (com S e acento):
    “Saia e não olhe para trás.”
    “Ela saiu de trás da porta.”
    “A pasta estava no banco de trás.”

    Por outro lado, TRAZ (com Z) é a forma conjugada do verbo TRAZER. Veja alguns exemplos de TRAZ (com Z):
    “Ele sempre TRAZ flores para a namorada.”
    “Ele traz paz para minha alma.”
    “Traz esse caderno aqui agora!”

    Eles reaveram ou reouveram o dinheiro perdido?

    Vamos analisar verbos. Mais especificamente um verbo bem esquisito, o verbo REAVER. Você acha que o certo é dizer: “Eles REOUVERAM o dinheiro perdido”?
    Ou você diria: “Eles REAVERAM o dinheiro perdido”?
    Ou seria: “Eles REAVIRAM o dinheiro perdido”?

    Difícil, não é mesmo?

    Para ajudar a desembaraçar esse problema, lembre-se de que o verbo REAVER deriva do verbo HAVER. Isso quer dizer que ele segue a conjugação do verbo HAVER.

    Assim, se dizemos que eles HOUVERAM, devemos dizer que eles REOUVERAM. Não podemos dizer “eles reaveram nem reaviram”, porque não existem na língua padrão.

    Mas o que deixa esse verbo com a fama de esquisitão não é só o fato de ele seguir a conjugação do verbo HAVER. O que o torna mais estranho é o fato de só podermos conjugá-lo nas pessoas em que o verbo HAVER tem a letra V.     

    Por causa disso, ele só tem duas formas no presente do indicativo: nós reavemos e vós reaveis. Não apresenta, no presente indicativo, as três formas do singular nem a terceira pessoa do plural. Nada no presente do subjuntivo.

    O verbo REAVER apresenta todas as formas do pretérito e do futuro, mas devem seguir o verbo HAVER: reouve, reavia, reouvera, reaverá, reavaria...

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.