• Saiu a francesa OU saiu à francesa?

    Todos certamente já ouviram a expressão SAIR À FRANCESA. Essa expressão é usada para indicar que a pessoa saiu discretamente, de fininho, sem se despedir de ninguém.

    O problema surge na hora de escrever essa expressão. Você escreveria esse À FRANCESA com o acento indicativo da crase ou sem o acento?

    E cuidado! Esse acento não é um detalhe sem importância. A presença ou ausência desse sinalzinho muda a mensagem transmitida.

    Sem o acento indicativo da crase a frase: SAIU A FRANCESA passa a mensagem de que uma moça que nasceu na França saiu. A francesa foi embora. A francesa seria o sujeito da oração.

    Já com o acento indicativo da crase, a expressão apresenta o modo como alguém saiu, ele saiu discretamente.

    Os adjuntos adverbiais de modo, desde que femininos, recebem obrigatoriamente o acento grave: vender à vista; falar às claras, sair às pressas, servir à francesa, andar à toa, ficar à míngua...

    Concerto OU conserto?

    Vamos recordar uma duplinha famosa: as palavras CONCERTO com C e CONSERTO com S. As duas formas existem e estão corretas? Pois é, e é aí que está o problema, porque, embora existam e estejam corretas, há significados diferentes.

    Como podem apresentar significados diferentes, devem ser usadas em situações diferentes. CONSERTO com S quer dizer restauração, reparação, remendo. Devemos, então, fazer um CONSERTO com S na roupa que está rasgada, no celular que está quebrado, no carro que bateu.

    Já a palavra CONCERTO com C refere-se a uma peça musical, com orquestra, coro, banda de rock... Devemos, então, escrever com C o CONCERTO da orquestra sinfônica, o CONCERTO da Madona, o CONCERTO de música indiana...

    Uma curiosidade: em Portugal, CONCERTO, que significa “harmonia”, é também usado como sinônimo de CONSERTO. Concertar pode ser “harmonizar”.

    Os Estados Unidos aceitou OU aceitaram?

    É comum pessoas ficarem em dúvida na hora de concordar o verbo com o nome de lugar no plural. Você diria que:

    “Os Estados Unidos aceitou a proposta da ONU” OU “Os Estados Unidos aceitaram a proposta da ONU”?

    Segundo a tradição, o correto, nesse caso, é: Os Estados Unidos aceitaram a proposta da ONU. A regra diz que quando o nome próprio vier antecedido de artigo no plural, como no caso doe OS ESTADOS UNIDOS, devemos concordar o verbo também no plural.

    Diga, então:

    Os Alpes estão sempre cobertos de neve.

    Os Andes fazem a fronteira do Chile com a Argentina.

    Se não houver artigo no plural, deixe o verbo no singular.

    Diga, por exemplo, “O Amazonas é o maior rio do Brasil”; “Memórias Póstumas de Brás Cubas foi escrito por Machado de Assis”.

    Ele quis ou quiz?

    Vamos falar de um erro muito frequente, principalmente, nas mensagens das redes sociais. É o péssimo hábito que algumas pessoas têm de escrever as formas conjugadas do verbo QUERER com Z.

    Na língua portuguesa, só podemos escrever com Z as formas conjugadas dos verbos que têm Z na raiz do verbo. Isso aparece na forma infinitiva. Por exemplo, como os verbos DIZER, FAZER e TRAZER se escrevem com Z, as formas ele DIZ, ele FAZ, eu FIZ, ele FEZ e ele TRAZ devem ser escritas com Z.

    O verbo QUERER não tem Z. Então, todas as suas formas conjugadas que têm o som de Z devem ser escritas com S. Assim, escreva com S:

    Ele quis, eles quiseram, se ele quisesse...

    Essa regra cabe também para o verbo PÔR e seus derivados, como dispor, propor... Como eles não têm a letra Z na sua forma infinitiva, todas as formas conjugadas deverão ser escritas com S.

    Escreva, então, com S:

    Eu pus, nós pusemos, se ele puser, se ele pusesse, eu dispus, ele propôs e eles propuseram.

  • Quando usar 'há' ou 'a'?

    Existem algumas palavras da nossa língua que só dão problema na hora de escrever. Isso acontece muito com as palavras têm o mesmo som, mas grafia e significado diferentes.

    Os exemplos de casos em que isso acontece são muitos, mas hoje vamos nos concentrar numa duplinha que nos atormenta: a diferença entre HÁ com agá e A sem agá.

    A dica mais importante para entender a diferença entre eles é lembrar que HÁ com agá é verbo (forma do verbo HAVER) e por isso pode ser substituído por outro verbo.

    Assim, devemos escrever com agá:

    “Há dúvidas na prova”.

    Nesse caso, podemos substituir o HÁ pelo verbo existir: “Existem dúvidas na prova”.

    Na frase “Há muito tempo não o vejo”, também é com agá, pois podemos dizer: “Faz tempo que não o vejo”.

    Já na frase “Estamos a dois minutos de casa”, o A deve ser escrito sem agá, pois não pode ser substituído por um verbo. Não tem sentido dizer: "Estamos faz dois minutos de casa" ou "Estamos existem dois minutos de casa".

    Trata-se da preposição “A”. Podemos usar quando nos referimos à distância ou a tempo futuro: “Estamos a vinte quilômetros do aeroporto”, “Ele chegará ao trabalho daqui a dez minutos”.

    Goteira no teto!

    Falar a nossa língua materna, geralmente, não exige muito esforço. Agora, falar BEM a nossa língua exige alguns cuidados. O problema é que para falar BEM devemos estar sempre muito atentos. E essa atenção não se limita apenas a estrutura da língua. Devemos também estar atentos para não sermos redundantes. Ou seja, para não ficarmos repetindo desnecessariamente as ideias, o que é muito comum numa fala mais descontraída.

    Onde está o problema da frase:

    Havia goteiras no teto do quarto?

    Além do pinga-pinga que acaba com a paciência de qualquer pessoa, o problema dessa frase está no fato de que só existe goteira no teto.

    Não existem goteiras nas paredes e muito menos no chão, ou você consegue imaginar água pingando de baixo para cima?

    Assim, bastaria dizer apenas que “Havia goteiras no quarto”.
     
    Ciúme OU ciúmes?

    Com frequência me perguntam se a palavra ciúme pode ser usada no plural: CIÚMES.

    Será que existem dois ciúmes? Estranho, não é mesmo?

    O caso é que a palavra CIÚMES existe sim. Você pode sentir ciúme ou ciúmes de alguém.

    O que você não pode é misturar o singular com o plural e dizer que sente MUITO CIÚMES. Isso seria a mesma coisa que dizer que sente MUITO MEDOS!

    Assim, se você optar por empregar a palavra no plural: CIÚMES, não se esqueça de também colocar no plural o verbo, o adjetivo, o artigo...

    Diga:
    Ele tem UNS ciúmes do carro! OU Ele tem UM ciúme do carro!
    Os ciúmes do meu filho são exagerados OU O ciúme do meu filho é exagerado.
    O mesmo acontece com a palavra SAUDADE. Podemos escolher empregá-la no singular ou no plural: SAUDADE ou SAUDADES. Só não pode deixar de fazer a concordância correta com o verbo, o adjetivo e o artigo.
    Senti MUITA saudade OU MUITAS saudades de você.
    AS saudades me deixam triste...

    Aceito OU aceitado?

    Qual é a forma do particípio que devemos usar quando o verbo apresenta duas opções?

    Vamos pegar como exemplo o verbo ACEITAR que tem duas formas corretas para o particípio: ACEITO e ACEITADO.

    O problema é saber em que situações devemos empregar a forma irregular ACEITO e em que situações a forma regular ACEITADO. 

    Você, por exemplo, diria:

    “Ele tinha aceitado a recompensa” OU “Ele tinha aceito a recompensa”?

    O correto, nesse caso, é “Ele tinha ACEITADO a recompensa”.

    A regra é simples.

    Quando o verbo tem dois particípios, como o verbo ACEITAR, devemos usar a forma regular (aquela terminada em -ado ou -ido) com os auxiliares TER e HAVER. Por isso, o correto é: Ele tinha aceitado a recompensa.

    Com os verbos auxiliares SER e ESTAR, devemos usar a forma irregular ACEITO, como nas frases:

    O seu pedido está aceito.
    Ele foi aceito pelo grupo.

  • Sentar-se à mesa ou sentar-se na mesa?

    Vamos observar um vício de linguagem tão comum no nosso dia a dia que muitos já nem percebem a inadequação. Você, por exemplo, sabe onde está o problema na frase: Ele sentou na mesa para almoçar?

    Descobriu? Rigorosamente são dois problemas.

    O primeiro é o verbo SENTAR que, no sentido de apoiar as próprias nádegas no assento, é pronominal, ou seja, deve ser conjugado com os pronomes ME, TE, SE, NOS E VOS.

    Devemos dizer:

    Eu ME sento; tu TE sentas, ele SE senta, nós NOS sentamos, eles SE sentam.
    O verbo SENTAR não é pronominal quando tem o sentido de “colocar”, como na frase: Ele sentou pedras e tijolos na beira do rio.

    Vamos, agora, ao outro problema da frase. Se você pretende comer, é melhor sentar-se À mesa. Seria muito deselegante você sentar-se na mesa, ocupando o lugar dos pratos e talheres.

    “Sentar-se NA mesa é SOBRE a mesa”. Para comer, é recomendável que “nos sentemos À mesa”.

    É o mesmo caso de “Sentar-se NO piano”. Só se for sobre o piano. Para tocar, devemos dizer que “Ele se sentou ao piano”.

    Todos nós podemos nos sentar NO sofá, NA cadeira, NO chão...

    Perda OU perca?

    É uma confusão muito comum que as pessoas fazem com as palavras PERDA e PERCA.

    Você sabe a diferença entre as duas?

    Você diria que seu carro teve perda total ou perca total?

    O correto é dizer que seu carro teve perda total. E você sabe por quê? Observe a diferença entre essas duas palavras, para nunca mais errar na hora de empregá-las.

    PERDA é um substantivo e tem o sentido de DEIXAR DE TER ALGO, DEIXAR DE CONVIVER COM ALGUÉM ou ainda de PREJUÍZO, DE DESTRUIÇÃO.

    A frase “Sentiu muito a perda da casa e dos amigos” quer dizer que ele deixou de ter a casa e deixou de conviver com os amigos.

    A palavra PERCA é uma forma do presente do subjuntivo do verbo PERDER:

    “Talvez eu perca o começo do filme.”
    “Você quer que seu time PERCA o campeonato?”
    “Nunca perca seu bom humor!”

    Este OU esse?

    Agora a dúvida é o uso dos pronomes ESTE e ESSE.

    Qual frase você considera correta:

    “Alguém leu ESTE relatório que está na minha mão?” ou “ESSE relatório que está na minha mão?”

    O correto, segundo nossa tradição gramatical, é ESTE relatório que está na minha mão. O pronome ESTE deve ser usado para indicar algo que está próximo da pessoa que fala.

    Se o relatório estivesse perto da pessoa que ouve a frase, deveríamos dizer: ESSE relatório que está na sua mão.

    O pronome AQUELE indica algo que está distante de quem fala e de quem ouve. Como na frase:

    Você leu AQUELE relatório que está na mesa do chefe?

    Assim, guarde a regrinha:

    Os pronomes ESTE, ESTA e ISTO indicam o que está próximo da pessoa que fala.

    Os pronomes ESSE, ESSA e ISSO indicam o que está próximo da pessoa que ouve.

    E os pronomes AQUELE, AQUELA e AQUILO indicam o que está longe dos dois.

    Se eu mantesse OU se eu mantivesse?

    Vejamos uma dúvida clássica: a conjugação verbal.

    Já perdi a conta de quantas vezes alunos, amigos e leitores me perguntaram como se faz a conjugação do verbo MANTER. A forma que mais atormenta nossos amigos é a do imperfeito do subjuntivo.

    Qual a forma correta entre:

    Se ele mantesse a calma, tudo se esclareceria OU Se ele mantivesse a calma, tudo se esclareceria?

    A resposta para essa dúvida é muito simples. Basta lembrarmos que o verbo MANTER é derivado do verbo TER. E, por isso, deve seguir o mesmo modelo de conjugação.

    Assim, se dizemos “Se ele TIVESSE calma”, devemos dizer “Se ele MANTIVESSE a calma”.

    O mesmo esquema vale para outros verbos derivados do verbo TER, como: RETER, CONTER, DETER, ENTRETER...

    Devemos, portanto, dizer: se ele retivesse, detivesse, contivesse, entretivesse, obtivesse...

  • Eu me lembro disso OU eu lembro isso?

    Todos conhecem os verbos LEMBRAR e ESQUECER. Mas, talvez, o que muitos não saibam é que devemos tomar cuidado na hora de empregar esses verbos.

    É preciso ficar atento, principalmente, para ver se eles devem vir ou não acompanhados da preposição DE.

    Por exemplo, você diria: Eu nunca esqueço DO aniversário dos meus amigos OU Eu nunca esqueço O aniversário dos meus amigos?

    Aqui, o correto é: Eu nunca esqueço O aniversário dos meus amigos.

    Isso acontece, porque os verbos LEMBRAR e ESQUECER só devem vir acompanhados da preposição DE quando forem empregados na sua forma pronominal, ou seja, quando usarmos as formas: eu ME lembro DE, ele SE esquece DE, nós NOS lembramos DE, eles SE esquecem DE. 

    Se usarmos esses verbos desacompanhados dos pronomes ME, SE e NOS, não usamos a preposição DE. Assim, está igualmente correto dizer:

    “Eu sempre lembro o aniversário dos meus amigos” e “Eu sempre ME lembro DO aniversário dos meus amigos”.

    Ano-novo OU ano novo?

    É muito comum, em dezembro, desejarmos e ouvirmos os votos de feliz Natal e próspero ano-novo. O problema é quando vamos escrever esses votos. O primeiro problema que surge é com a palavra Natal que deve ser escrita com N maiúsculo, pois se trata do nome da festa em que se comemora o nascimento de Jesus.

    O outro problema é decidir se devemos escrever ano-novo com hífen ou sem hífen. As duas formas existem, mas querem dizer coisas diferentes. Ano novo sem hífen significa um novo ano. Você pode escrever:

    Espero que neste ano novo (sem hífen) eu consiga arrumar um emprego. O presidente prometeu para o ano novo mais investimentos na saúde.

    Note que, nesses casos, não se trata da festa de réveillon, mas sim do novo ano que está começando. Quando a intenção for referir-se à celebração da passagem de ano, à festa de réveillon, devemos escrever "ano-novo" com hífen.

    Os dois João OU os dois Joões?

    Você alguma vez já esteve naquela situação embaraçosa de não saber se deve colocar um nome próprio no plural ou deixá-lo no singular?

    Por exemplo, como você diria:

    Hoje é aniversário dos dois Joões OU Hoje é aniversário dos dois João?

    Para você não passar mais por essa situação desconfortável de não saber como falar, lembre-se de que os nomes próprios estão sujeitos às mesmas regras de formação de plural que as outras palavras da nossa língua.

    Assim, se dizemos: um cartão/dois cartões e um feijão/dois feijões, devemos dizer: um João/dois Joões; uma Maria/três Marias; um Cléber/vários Cléberes; uma Cláudia/duas Cláudias...

    Agora, cuidado (com exceção do plural de Luís que é Luíses) os nomes que terminam com S ou Z não variam sua forma no plural. Diga: os dois Rodrigues, dois Carlos, os Muniz, os Lopes...

    Viagem OU viajem?

    A palavra VIAGEM se escreve com G ou com J? As duas formas existem, mas é preciso tomar cuidado, pois VIAGEM com G é uma coisa e VIAJEM com J é outra.

    Devemos escrever VIAGEM com G quando se tratar do substantivo, ou seja, quando antes da palavra VIAGEM tiver:

    a) um artigo:
    Essa foi A viagem dos meus sonhos.

    b) um numeral:
    Fiz DUAS viagens a Manaus.

    c) um pronome:
    MINHA viagem foi inesquecível.

    Mas devemos escrever VIAJEM com J quando se tratar do verbo VIAJAR na terceira pessoa do plural do presente do subjuntivo. Nesse caso, geralmente, a palavra VIAJEM vem precedida das palavras QUE ou TALVEZ.

    Assim, nas frases:  “Espero que vocês viajem em paz” e “Talvez as crianças viajem nas férias”.

    Então não esqueça: VIAGEM com G é substantivo: A viagem foi ótima; e VIAJEM com J é verbo: Quero que vocês viajem bem cedinho.

  • Comprimento ou cumprimento?

    Existem algumas palavras na língua portuguesa que sempre causam problema para um falante distraído. Isso, geralmente, acontece com os parônimos, que são aquelas palavras muito parecidas na escrita e na pronúncia, mas que querem dizer coisas bem diferentes.

    Quem, por exemplo, nunca se engasgou na hora de empregar as palavras COMPRIMENTO e CUMPRIMENTO.

    Você diria que: A costureira marcou o cOmprimento ou o cUmprimento do vestido?

    Certamente, a costureira marcou o COMPRIMENTO, o tamanho do vestido. A palavra COMPRIMENTO tem o sentido de dimensão, tamanho, extensão.

    Já CUMPRIMENTO tem o sentido de saudar alguém, de cumprimentar uma pessoa.

    Dizemos que foi amistoso o CUMPRIMENTO entre o presidente e o senador.

    A palavra cumprimento também pode derivar do verbo CUMPRIR que quer dizer executar.

    Assim podemos dizer que o delegado estava no CUMPRIMENTO de suas funções.

    Se eu a ver ou se eu a vir?

    Agora vamos observar dois verbos que são tão parecidos que é muito comum as pessoas se confundirem na hora de usá-los. Estou me referindo aos verbos VER e VIR.

    É claro que ninguém se atrapalha, por exemplo, com o presente do indicativo. Todos sabem a diferença entre eu venho e eu vejo.

    O problema surge quando temos que empregar o futuro do subjuntivo do verbo VER.

    Vamos relembrar?

    O futuro do subjuntivo é aquele tempo verbal que vem introduzido, geralmente, pelos vocábulos SE ou QUANDO.

    Pois quando o verbo VER vem precedido de uma dessas duas palavras muita gente se atrapalha.

    Por exemplo, você diria:

    Se eu a vir, finjo surpresa
    OU
    Se eu a ver, finjo surpresa?

    O correto é:
    Se eu a VIR.

    Guarde, então, a seguinte conjugação do verbo VER:
    Se tu vires o senador, não deixes de cumprimentá-lo.
    Quando ele vir a professora, dará o aviso.
    Quando nos virmos, falaremos sobre isso.
    Se eles me virem aqui, ficarão surpresos.

    Auto-escola ou autoescola?

    Você se atrapalha na hora de escrever, por exemplo, AUTOESCOLA?  Será que é uma palavra só ou será que tem aquele tracinho entre auto e escola?

    Se você ainda se confunde com o hífen, não fique triste, você não está sozinho. Essa ainda é uma das maiores dificuldades enfrentadas por estudantes e profissionais das mais diferentes áreas.

    Vamos, então, conhecer algumas regras. Começando com nosso problema inicial: a palavra AUTOESCOLA?

    Nesse caso, o correto é escrever tudo junto, sem hífen, uma palavra só. E isso acontece, porque a regra diz que devemos escrever tudo junto quando o prefixo terminar com uma letra diferente da letra que começa a palavra seguinte.

    Assim, como AUTO termina com O e ESCOLA começa com E, devemos escrever sem hífen, tudo junto.

    Já a palavra AUTO-OBSERVAÇÃO tem hífen, porque AUTO termina com a letra O e OBSERVAÇÃO também começa com a letra O.

    Segundo o novo acordo ortográfico, com o prefixo AUTO, só usaremos o hífen se a palavra seguinte começar por H ou pela vogal O: auto-hipnose, auto-oscilação.

    Se a palavra seguinte começar por qualquer outra letra, devemos escrever “tudo junto” (sem hífen): autoajuda, autoatendimento, automedicação, autodefinição, autobiografia...

    Ele namora a vizinha ou ele namora com a vizinha?

    Todo mundo diz que ele namora com a vizinha. Mas será que isso está certo? Bem, quanto ao namoro, eu não posso dizer nada, nem sequer conheço a vizinha.  Mas quanto à formulação da frase, aí temos um caso polêmico.

    Pois, embora seja muito comum as pessoas falarem NAMORAR COM, na tradição da língua culta, o verbo NAMORAR não pede a preposição COM. Não pede preposição alguma: quem namora, namora alguém.

    Assim, principalmente em provas oficiais, como concursos e vestibulares, escreva que Ele namora a vizinha, sem a preposição COM.

    E já que estamos falando das preposições que acompanham os verbos, vale lembrar que o verbo OBEDECER exige a preposição A. Quem obedece obedece A alguém.

    Portanto diga:
    As crianças obedecem aos pais.
    Os motoristas obedecem AO sinal.

  • O alface ou a alface?

    Vejamos algumas palavras que fazem parte do dia a dia, mas que nos deixam em dúvida quanto ao gênero, ou seja, não sabemos se são masculinas ou femininas. Quer um exemplo? Veja a palavra ALFACE.

    Você diria: O ALFACE está bonito ou A ALFACE está bonita?

    Guarde essa: a palavra ALFACE é feminina. Diga, portanto, que a alface está bonita e barata.

    Outra palavra em que as pessoas tropeçam na hora de determinar o gênero é a palavra DÓ. Nada de dizer que você tem MUITA DÓ dos cachorrinhos abandonados. A palavra DÓ é masculina. Diga, portanto, que você tem MUITO DÓ, UM DÓ IMENSO...

    Por fim, vamos comentar duas palavras que, por terminarem com a letra A, muitas pessoas acham que são femininas, mas não são. Estou falando de TELEFONEMA e PIJAMA.

    Essas duas palavras são masculinas. Diga, então, que você vai dar UM TELEFONEMA para encomendar UM PIJAMA NOVO. 

    Ele possue ou ele possui?

    Você já reparou que existem algumas palavras que, ao falar, nós não diferenciamos muito bem o E do I?

    Isso não nos causa embaraço na hora de falar, já que o E e o I são mesmo muito parecidos. A vogal E átona geralmente é pronunciada como se fosse um I.

    O problema é quando vamos escrever. Por exemplo, você acha que devemos escrever: Ele possue (com E) ou Ele possui (com I)?

    Difícil? Então guarde essa dica: os verbos terminados em UIR, como possuir, excluir, substituir, constituir e outros devem ser escritos com a letra "i". Escreva, então, com "i":

    Ele possui / exclui / substitui / inclui / constitui.

    Como sempre existem verbos que alimentam nossos pesadelos. Tome cuidado com os verbos em que a terminação UIR vier depois de GU, em que o U é mudo, como seguir, conseguir, perseguir. Esses verbos devem ser escritos com E.

    Escreva, então, com E:

    Ele segue, persegue e consegue.
     
    Meu óculos OU meus óculos?

    É muito comum as pessoas ficarem em dúvida com a concordância da palavra "óculos". Devemos dizer: Meus óculos quebraram OU Meu óculos quebrou?

    E essa dúvida não é sem razão. Já que existem palavras, como "pires" e "lápis", que apresentam a mesma forma para o singular (um lápis) e para o plural (dois lápis).

    A palavra “óculos” poderia perfeitamente se encaixar nesse grupo.

    O problema são os concursos que exigem o uso da palavra "óculos", diferentemente de lápis e pires, SEMPRE no plural.

    Segundo sua origem, é o plural da palavra "óculo", trata-se de dois óculos ou de um par de óculos. É um caso semelhante a um par de sapatos, um par de meias e um par de brincos.

    Segundo a tradição da nossa língua, você não deve dizer que comprou um óculos lindo ou que “meu óculos quebrou”, como a maioria dos brasileiros fala.

    Assim sendo, em concursos, diga:

    Meus óculos quebraram;

    Comprei uns óculos novos;

    Aqueles óculos escuros são lindos.

    Duas metades iguais?

    Com muita frequência ouvimos as crianças reclamando, ao dividir um bolo por exemplo, que a metade do irmão é maior que a delas. E pior ainda é a prova de matemática que pede ao aluno que divida a figura em duas metades iguais.

     Você não vê onde está o problema nesses dois casos? Pense comigo, se são METADES são obviamente duas e se não fossem iguais, não seriam metades.

    Falar de duas metades iguais é uma redundância desnecessária. A palavra metade já significa que algo foi dividido em duas partes iguais.

    Outra redundância muito ouvida é o famoso ELO DE LIGAÇÃO. Todos os técnicos de futebol procuram "um elo de ligação" entre o ataque e a defesa de seu time. A redundância, nesse caso, reside no fato de que todo elo, por definição, é de ligação. A função básica e única do elo é fazer a ligação.

    Bastaria, assim, o técnico contratar alguém para ser o elo entre a defesa e o ataque de seu time.

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

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O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.