• Homenagem a Caetano

    Não sei o porquê da polêmica em torno da bronca de Caetano Veloso em sua equipe, que escreveu "homenagem à Bituca" na página do cantor em uma rede social. Trata-se de um caso indiscutível de mau uso do acento indicativo da crase.

    Crase significa fusão. Na língua falada é a fusão da preposição "a" mais outro "a", que geralmente é o artigo definido feminino.

    Na língua escrita, para indicar a existência dos dois "aa", usamos o acento grave indicativo da crase: "homenagem à música brasileira".

    Quem faz homenagem sempre faz homenagem "a" alguma coisa ou "a" alguém. A preposição é uma exigência do substantivo "homenagem". Chamamos a isso de regência.

    O segundo "a" é o artigo definido que antecede o substantivo, também feminino, "música". É como se falássemos "homenagem a a música brasileira".

    Por que no caso do "Bituca" a crase é impossível?

    Simples: Bituca é Milton Nascimento, é masculino. É impossível haver artigo feminino antes do Bituca. Se houvesse, seria o artigo masculino "o". Nesse caso, seria "homenagem ao Bituca".

    É interessante lembrar que o uso dos artigos definidos diante dos antropônimos (nomes próprios de pessoas) é facultativo. Há regiões (países, estados, cidades) que gostam dos artigos e outras não: "casa do Paulo" ou "casa de Paulo"; "livro da Maria" ou "livro de Maria". Isso pode ser um simples regionalismo.

    E há lugares em que a presença do artigo caracteriza intimidade, que a pessoa é da família ou um amigo muito próximo.

    Assim sendo, se Bituca fosse mulher, a crase seria facultativa, pois poderia ou não haver o artigo feminino.
    Como no caso em questão Bituca é homem, portanto substantivo masculino, a única dúvida que poderia haver é a homenagem seria "a Bituca" ou "ao Bituca".

    Crase... Impossível.

    Um abraço ao Caetano ou a Caetano (sem crase).

  • Fuzil ou fusível?

    Fuzil ou fusível?
                       Vamos analisar uma dúvida muito comum: quando usar a palavra FUZIL e quando usar a palavra FUSÍVEL.
                       Por exemplo, quando acaba a luz, você diz que queimou o fuzil ou que queimou o fusível?
                       O correto, nesse caso, é dizer que queimou o FUSÍVEL. Lembre-se de que FUSÍVEL é aquele dispositivo que protege o sistema elétrico, cortando a corrente quando a intensidade dela fica excessiva. Assim, quando acaba a luz, não se esqueça de trocar o FUSÍVEL.
                       O FUZIL é uma arma de fogo, um tipo de espingarda.   
                       Podemos comemorar o dia sete de setembro com tiros de FUZIL.
                       É correto dizer:
    “O traficante foi preso com um FUZIL do exército.”
                       E não esqueça outra diferença entre FUZIL e FUSÍVEL:
                       FUZIL se escreve com Z e FUSÍVEL, com S.

    Você tem planos para o futuro?
                       Você já percebeu que, às vezes, para intensificar aquilo que falamos, usamos algumas expressões, sem prestar muita atenção no que elas significam e acabamos dizendo o óbvio, repetindo desnecessariamente a informação?
                       Isso acontece com frequência, inclusive com você. Não acredita? Então confira duas redundâncias que repetimos na nossa fala descuidada do dia a dia, sem nos darmos conta.
                       Aposto, por exemplo, que você já deve ter feito “planos para o futuro”, sem se dar conta de que é impossível fazer planos para o passado. Na verdade, "fazer planos" ou "planejar" já é uma atividade direcionada para o futuro. Assim, no próximo réveillon, evite a redundância e diga apenas que tem muitos planos.
                       Outra dica é não “adiar suas resoluções para depois”. O que é óbvio, se considerarmos que o verbo ADIAR significa transferir algo para o futuro. Assim, sendo impossível adiar para ANTES, a palavra DEPOIS é desnecessária.

    O prêmio foi oferecido a ela ou à ela?
                       Crase é um assunto que atormenta muita gente. Vamos voltar a esse tema e falar de um uso específico da crase que é fonte frequente de dúvida: Será que tem crase antes de pronome pessoal?
                       Por exemplo, observe a frase:
    “O prêmio foi oferecido A ela.”
                       Existe crase antes do pronome ELA?
                       Cuidado! Antes de pronomes pessoais, como: eu, tu, ele, nós, eles, mim... não ocorre crase, pois não são antecedidos de artigos.
                       Escreva, portanto, sem o acento indicativo da crase, pois se trata apenas de uma preposição:
    “O prêmio foi oferecido A ELA.”
    “Deu flores A MIM.”
                       Também não ocorre crase antes de pronomes de tratamento, como: você, Vossa Senhoria (V.Sa), Vossa Excelência (V. Exa)...
                       Então, também escreva sem o acento grave:
    “Entreguei tudo a você.”
    “Ele não disse nada a Sua Excelência.”
                       Fique atento, porém, aos pronomes de tratamento que só podem ser usados em relação às mulheres, como senhora, senhorita, madame... 
                       Esses pronomes são antecedidos de artigos e, nesses casos, pode ocorrer crase:
    “Entregou os presentes à senhora.”
    “Referiu-se à Madame Sabrina.”

    G ou J?
                       Vamos observar a duplinha G e J. Essas duas letras nos dão muito trabalho na hora de escrever quando o G representa o mesmo som do J. E isso acontece toda vez em que o G está diante das vogais E e I.
                       Por exemplo, você escreve a palavra LOJINHA com G ou com J?
    Se você ficar em dúvida e não tiver um dicionário por perto para consultar, faça o seguinte: verifique como se escrevem as outras palavras da mesma família.            
                       Assim, você vai chegar à conclusão de que LOJINHA se escreve com J porque ela deriva da palavra LOJA que é escrita com J.
                       Do mesmo jeito, devemos escrever com “j” NOJENTO e NOJEIRA porque derivam da palavra NOJO que se escreve com “j”.
                      Já as palavras MASSAGISTA e MASSAGEAR devem ser escritas com G, pois vêm da família da palavra MASSAGEM, que é escrita com G.
                       Isso não resolve todas as dúvidas, mas ajuda um pouco, não é mesmo?

  • Ele tinha chego ou chegado?

    A primeira dúvida de hoje é fonte de muitas discussões: os verbos que têm dois particípios, como o verbo ACEITAR, que apresenta as formas ACEITADO e ACEITO.

    Podemos dizer:
    “Ele tinha aceitado o novo emprego.”
    “Ele foi aceito na escola militar.”

    O problema é pensar que todos os verbos têm dois particípios. O verbo CHEGAR, por exemplo, só apresenta uma forma para o particípio, que é a forma regular CHEGADO.

    Portanto devemos dizer sempre:
    “Ele tinha chegado atrasado.”

    E nunca, em nenhuma hipótese, diga:
    “Ele tinha “chego” atrasado.”

    A forma verbal CHEGO só existe no presente do indicativo:
    “Eu nunca chego atrasado.”

    É inaceitável o uso de CHEGO como particípio.

    Ele vive às custas do pai ou à custa do pai?

    Com frequência ouvimos frases como:
    “Ele venceu na vida às custas de muito trabalho.”
    E
    “Ele ainda vive às custas do pai.”

    O problema é que, embora frases desse tipo sejam muito comuns, elas são condenadas pela gramática tradicional. A dúvida está no uso da expressão ÀS CUSTAS DE, pois a palavra CUSTAS, assim no plural, só poderia ser empregada no meio jurídico com o significado de "despesas de processo".

    É correto, então, dizer:
    “O advogado apresentou as custas do processo.”

    Mas, no sentido de despesa ou de sacrifício, deveríamos usar a forma singular: À CUSTA DE.

    É correto, portanto, dizer:
    “Ele venceu na vida À CUSTA DE muito trabalho.”
    “Ele ainda vive À CUSTA DO pai.”
    “Ele passou no concurso À CUSTA DE muito esforço e dedicação.”

    Traz ou trás?

    Vamos observar duas palavrinhas que têm o mesmo som, mas que, dependendo de como as escrevemos, têm significados diferentes e, logicamente, devem ser usadas em situações diferentes.

    É o caso da dupla TRAZ (com z) e TRÁS (com S e acento).

    A palavra TRÁS (com S e acento) indica um lugar posterior e sempre vem acompanhada de uma preposição, geralmente DE ou PARA. Veja estes exemplos de TRÁS (com S e acento):
    “Saia e não olhe para trás.”
    “Ela saiu de trás da porta.”
    “A pasta estava no banco de trás.”

    Por outro lado, TRAZ (com Z) é a forma conjugada do verbo TRAZER. Veja alguns exemplos de TRAZ (com Z):
    “Ele sempre TRAZ flores para a namorada.”
    “Ele traz paz para minha alma.”
    “Traz esse caderno aqui agora!”

    Eles reaveram ou reouveram o dinheiro perdido?

    Vamos analisar verbos. Mais especificamente um verbo bem esquisito, o verbo REAVER. Você acha que o certo é dizer: “Eles REOUVERAM o dinheiro perdido”?
    Ou você diria: “Eles REAVERAM o dinheiro perdido”?
    Ou seria: “Eles REAVIRAM o dinheiro perdido”?

    Difícil, não é mesmo?

    Para ajudar a desembaraçar esse problema, lembre-se de que o verbo REAVER deriva do verbo HAVER. Isso quer dizer que ele segue a conjugação do verbo HAVER.

    Assim, se dizemos que eles HOUVERAM, devemos dizer que eles REOUVERAM. Não podemos dizer “eles reaveram nem reaviram”, porque não existem na língua padrão.

    Mas o que deixa esse verbo com a fama de esquisitão não é só o fato de ele seguir a conjugação do verbo HAVER. O que o torna mais estranho é o fato de só podermos conjugá-lo nas pessoas em que o verbo HAVER tem a letra V.     

    Por causa disso, ele só tem duas formas no presente do indicativo: nós reavemos e vós reaveis. Não apresenta, no presente indicativo, as três formas do singular nem a terceira pessoa do plural. Nada no presente do subjuntivo.

    O verbo REAVER apresenta todas as formas do pretérito e do futuro, mas devem seguir o verbo HAVER: reouve, reavia, reouvera, reaverá, reavaria...

  • Vossa Senhoria está 'cansado' ou 'cansada'?

    Certamente você conhece os pronomes de tratamento, não é verdade? Sabe que Vossa Excelência deve ser usado para as autoridades; Vossa Alteza, para príncipes e nobres; Vossa Majestade, para os reis; Vossa Santidade, para o papa.

    O problema surge quando devemos concordar o adjetivo com o pronome de tratamento. Por exemplo, se você tivesse que se dirigir, cerimoniosamente, a um homem, você diria: “Vossa Senhoria está cansado” (concordando o adjetivo cansado com o sexo da pessoa) OU “Vossa Senhoria está cansada” (concordando o adjetivo cansada com a forma feminina de Vossa Senhoria)?

    Situação difícil essa, não é mesmo?

    A concordância no feminino “Vossa Senhoria está cansada”, mesmo referindo-se a um homem não está errada, mas para não correr o risco de ser mal-interpretado, lembre-se de sempre concordar o adjetivo com o sexo da pessoa com quem se fala.

    Assim, ao dirigir-se a um homem, é correto e melhor dizer:

    “Vossa Senhoria está cansado”.

    E ao se dirigir a uma mulher, diga:

    “Vossa Senhoria está cansada”.

     Moro à Rua dos Pinheiros OU moro na Rua dos Pinheiros?

    Alguns modismos surgem de repente e demoram a passar. Alguns, inclusive, surgem com fama de chique e todo o mundo resolve usar, achando que está falando bonito e corretamente.

    Esse é o caso da mania de as pessoas dizerem que moram À Rua dos Pinheiros. Talvez imaginem que é alguma forma superior e mais atualizada de falar ou escrever. O problema é que essa regência é condenada na chamada norma culta. O correto é dizer "Eu moro NA Rua dos Pinheiros".

    Para você entender melhor por que devemos dizer NA rua e não À rua, basta você trocar a palavra RUA por BAIRRO.

    Ninguém diz "Eu moro AO bairro de Pinheiros". Todos dizem que moram NO bairro de Pinheiros. Do mesmo jeito, devemos dizer que moramos NA Rua da Consolação e não À Rua da Consolação.

    Essa mesma construção deve ser aplicada para RESIDIR e RESIDENTE.

    Diga, portanto, que “O professor reside NA Rua dos Andradas; que “O motorista, residente na Rua São Bento, foi multado”.

    Ele foi à Roma OU a Roma?

    Vamos recordar mais um caso de crase. Vamos ver quando devemos usar a crase antes de nome de lugar (= topônimos), como nome de cidade, de bairro, de país...

    Por exemplo, na frase “Ele foi a Roma”, você acha que esse "A" antes de Roma deve levar o acento indicativo da crase ou não?

    Você acertou se respondeu NÃO.

    Não ocorre a crase porque o topônimo Roma não é usado com artigo. Dizemos simplesmente “Roma é uma belíssima cidade”.

    Para saber se o nome de lugar aceita o acento indicativo da crase, basta imaginar a frase com o verbo "voltar". Se dizemos: "Ele voltou DE Roma", vamos escrever que ele foi A Roma sem crase. 

    Mas se dizemos que ele voltou DA Itália, devemos escrever que ele foi À Itália com crase. Isso significa que o topônimo Itália é antecedido de artigo. Dizemos que “A Itália é um belíssimo país”.

    Guarde a dica: Se você volta DA, você vai À com acento indicativo da crase.

    Se você volta DE, você vai A sem o acento indicativo da crase.

    Exemplos:
    Vou à Tijuca (volto da Tijuca);
    Vou a Copacabana (volto de Copacabana);
    Vou à Bahia (volto da Bahia);
    Vou a Brasília (volto de Brasília);
    Vou à Alemanha (volto da Alemanha);
    Vou a Portugal (volto de Portugal).

    Peixe tem espinho OU espinha? 

    Você já notou como, às vezes, nos confundimos com algumas palavras parecidas, mas que querem dizer coisas bem diferentes? É o que acontece com as palavras ESPINHO e ESPINHA.

    Você diria que “O peixe tem muita espinha” OU que “O peixe tem muito espinho”?

    Se você está se referindo ao nome daqueles “ossinhos” finos e pontiagudos que formam o esqueleto do peixe, diga que ele tem muita espinha.

    Assim, para não se engasgar nem com o peixe nem com o português, compre peixe sem ESPINHA.

    Peixe com ESPINHO eu só conheço um: o baiacu, que parece um porco-espinho. Esse peixe quando irritado apresenta umas saliências fininhas e pontiagudas DO LADO DE FORA DO CORPO. Esse, então, seria o único peixe com espinhas (dentro do corpo) e com espinhos (fora do corpo).

    Peixes têm ESPINHA. O caule de algumas plantas e o ouriço-do-mar têm ESPINHOS.

  • A gente OU agente?

    Muita gente me pergunta se o correto é escrever AGENTE junto ou separado. Depende do que se quer falar, pois as duas formas existem, só que querem dizer coisas bem diferentes.

    Devemos escrever a letra A (artigo definido feminino singular) separada da palavra GENTE (substantivo) quando estivermos nos referindo, de uma maneira informal, à primeira pessoa do plural, o NÓS. Assim, se queremos dizer que nós fomos à festa ontem, devemos escrever que “A GENTE (separado) foi à festa ontem”.

    Perceba que embora a palavra A GENTE escrita separadamente expresse uma ideia de plural (a ideia de nós) o verbo deve ser empregado no singular. Escreva: a gente faz, a gente come, a gente viaja... sempre no singular.

    Já a palavra AGENTE escrita junto, sem o espaço entre o A e o GENTE indica um profissional: o agente de turismo, o agente penitenciário, o agente secreto...

    Houve acidentes OU houveram acidentes?

    Vamos recordar um verbo muito especial e fonte de muitos tropeços: o verbo HAVER. Você sabia que é inaceitável dizer que “Houveram dois acidentes”?

    Embora muita gente ache que o verbo haver deve ir para o plural para concordar com OS DOIS ACIDENTES, nesse caso, o correto é dizer que HOUVE DOIS ACIDENTES. Isso mesmo, com o verbo HAVER no singular.

    Sabe por quê? Isso ocorre porque o verbo HAVER, quando tem o sentido de EXISTIR ou ACONTECER é impessoal, ou seja, não tem um sujeito com quem concordar. E por não ter esse sujeito, ele deve ficar fixo na terceira pessoa do singular. 

    Assim, nada de dizer “Haviam dúvidas, houveram reclamações”.

    Diga, sem medo de errar:
    HÁ muitas pessoas na reunião.
    HAVIA muitas dúvidas no processo.
    HOUVE muitas reclamações.
     
    Olhos verdes-claros OU olhos verde-claros?

    Todos sabem concordar o adjetivo com o substantivo, não é mesmo? Ninguém diz: Comprei uma camisa CLARO ou Comprei um casaco CLARA.

    Todos dizem:
    UMA CAMISA CLARA e UM CASACO CLARO.

    O problema aparece quando o adjetivo é formado por duas palavras ligadas por um hífen.

    Vejamos um exemplo? Vamos observar o adjetivo composto VERDE-CLARO.

    Você diria: olhos verdes-claros OU olhos verde-claros?

    O correto é OLHOS VERDE-CLAROS. 

    Para você não errar mais, guarde a seguinte dica: quando o adjetivo for composto por dois adjetivos (verde e claro são dois adjetivos) só a última palavra varia.

    Portanto, diga:
    camisas amarelo-escuras
    camisetas verde-amarelas
    decisões político-partidárias
    questões latino-americanas
    relações luso-brasileiras.

    Caçar OU cassar?

    Vamos falar de duas palavrinhas que têm o mesmo som, mas, dependendo do sentido, devemos escrever de forma diferente. Estou falando dos verbos CAÇAR com Ç e CASSAR com dois esses.

    Por exemplo, imagine a seguinte manchete de jornal: “Na assembleia de ontem, o deputado da oposição foi cassado”.

    Esse CASSADO deve ser escrito com Ç ou com dois esses?

    Bom, aí depende do que aconteceu na assembleia. Se o deputado correu e foi perseguido pelos nobres colegas, devemos escrever CAÇADO com Ç. Seria o mesmo caso de “ O peru foi CAÇADO (com Ç) na véspera do Natal”.

    Entretanto, se a intenção foi dizer que o deputado não andou na linha e que seu mandato vai ser anulado, aí devemos escrever CASSADO com dois esses.

    Quem compra votos deve ter seu mandato cassado (com dois esses).

  • Quando escrever 'senão' OU 'se não'?

    Vamos resolver uma dúvida que vira e mexe nos atormenta na hora de escrever. Quando devo escrever SENÃO junto e quando devo escrever SE NÃO separado?

    Por exemplo, na frase “Fale alto, SENÃO ninguém vai ouvir”, você escreveria esse SENÃO junto ou separado?

    Achou difícil? Então anote a dica. Escreva SENÃO tudo junto quando significar DO CONTRÁRIO.

    Assim, na frase “Fale alto, SENÃO ninguém vai ouvir”, devemos escrever esse SENÃO tudo junto, pois tem o sentido de “Fale alto, DO CONTRÁRIO ninguém vai ouvir”.

    Devemos escrever SE NÃO separado quando pudermos substituir por CASO NÃO. Veja a frase: “Se não chegar a tempo, perderá o trem”. Esse SE NÃO é separado porque é o mesmo que dizer: “Caso não chegue a tempo, perderá o trem”.

    Uma observação importante: no primeiro exemplo, poderíamos escrever SE NÃO (separado) se houvesse um vírgula logo a seguir.

    Na frase “Fale alto, SE NÃO, ninguém vai ouvir”, é possível interpretarmos a frase assim: “Fale alto, SE NÃO (falar alto = CASO NÃO fale alto), ninguém vai ouvir. 

    Ele está entre mim e você OU entre eu e você?

    Vamos lembrar o emprego dos pronomes MIM e EU. Vejamos como usar os pronomes depois da preposição ENTRE.

    Por exemplo, você diria: “Não há problema algum entre MIM e meus alunos” OU “Não há problema algum entre EU e meus alunos”?

    Segundo a norma culta, o correto é “Não há problema algum entre MIM e meus alunos”.

    Só devemos usar o pronome EU quando ele for o sujeito da oração. Nesse caso, isso só vai acontecer quando houver um verbo no infinitivo depois do pronome.

    Veja o exemplo:
    “Não há diferença entre EU LAVAR a louça e você arrumar a casa”.
    Mas cuidado! Se não houver verbo depois do pronome, o correto é dizer entre MIM e VOCÊ ou entre MIM e ELE. E não adianta inverter, nada muda. Tanto faz dizer: “Não há problema algum entre MIM e meus alunos” como dizer “Não há problema algum entre meus alunos e MIM”.

    Cinquenta OU cincoenta?

    Você alguma vez já ficou em dúvida na hora de preencher um cheque, pois não sabia como escrever determinado número por extenso?

    Isso é muito frequente, pois como geralmente escrevemos os números com algarismos, é comum aparecer a dúvida na hora de escrever alguns números por extenso.

    Várias pessoas escrevem CINCOENTA com as letras C e O, pois acreditam que essa palavra deriva da palavra CINCO. Mas isso não é verdade.    

    A palavra CINQUENTA deve ser escrita com QU e sem trema, que foi abolido na última reforma ortográfica.

    A palavra CINCOENTA com C e O não tem registro em nossos dicionários.

    Já o numeral CATORZE aceita duas grafias e duas formas de se pronunciar: pode-se escrever com QU e aí devemos dizer QUATORZE. Ou podemos escrever com C e, nesse caso, a pronúncia é CATORZE. Você escolhe!

    Zero grau OU zero graus?

    Certamente, ninguém se confunde ao empregar a palavra grau no singular e no plural, não é mesmo? Todos dizem que em Manaus faz 30 GRAUS e que no alto da serra a temperatura pode chegar a um GRAU.

    E se o termômetro chegar a zero? Você diria que está fazendo zero grau ou que está fazendo zero graus?

    Perceba que a palavra ZERO representa um numeral sem valor absoluto, indica uma quantidade inexistente. Assim, por não haver o sentido de pluralidade de elementos, o número ZERO deve ser considerado singular.

    Diga, portanto, que o termômetro marcou ZERO GRAU, que ele chegou à ZERO HORA e que ele gastou ZERO REAL.

    E já que estamos falando da palavra ZERO, lembre-se de que você deve escrever ZERO-QUILÔMETRO com hífen e nunca no plural.

    Diga que comprou dois carros zero-quilômetro.

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.