• Algo que ocorre uma vez a cada dois meses é BIMENSAL ou BIMESTRAL?

    BIMENSAL ou BIMESTRAL?
    Imagine que você esteja lendo a previsão do tempo e se depare com a informação:
    “A Lua Cheia será BIMENSAL.”
    Antes de achar que nosso satélite saiu da órbita ou que os meteorologistas estão no mundo da Lua, pense um pouco e responda: você sabe a diferença entre BIMENSAL e BIMESTRAL?
    São palavras semelhantes, mas de significados diferentes:
    BIMENSAL é tudo que ocorre DUAS VEZES NO MÊS.
    BIMESTRAL é tudo que ocorre DE DOIS EM DOIS MESES.
    Algumas empresas, por exemplo, depositam parte dos salários no dia 1º e a outra metade no dia 15, portanto é um pagamento BIMENSAL. Já as provas nas faculdades costumam ser aplicadas a cada dois meses, portanto são provas BIMESTRAIS.
    A informação meteorológica de que falamos no início, portanto, não tem nada de errado. Embora raramente, a Lua Cheia pode, sim, ocorrer duas vezes no mesmo mês. Mas de dois em dois meses, só se for na ficção científica.

    AO INVÉS ou EM VEZ DE?
    É correto dizer “AO INVÉS de ir à padaria, foi ao mercado”?
    Errado não é, mas...
    Esse AO INVÉS virou palavra curinga. Serve para tudo.
    Muitos estudiosos já aceitam a frase "AO INVÉS DE ir à padaria, foi ao mercado".
    Mas é bom lembrar que a expressão AO INVÉS DE significa "ao contrário de", e só poderia ser usada no caso de trocas entre coisas opostas:
    “Entrou à direita ao invés de entrar à esquerda.” (Direita é o oposto de esquerda)
    “Subiu ao invés de descer.” (Subir é o oposto de descer.)
    Já naquela nossa frase de exemplo, mercado nunca foi oposto de padaria. Nesses casos, e sempre que houver dúvida, use EM VEZ DE, que serve tanto para coisas opostas quanto para não opostas. Veja os exemplos: “EM VEZ DE ir à padaria, foi ao mercado.”
    “Subiu EM VEZ DE descer.”“Entrou à direita EM VEZ DE entrar à esquerda.”
    Sem discutir certo ou errado, sugiro que só usemos AO INVÉS DE quando a substituição for entre opostos. E podemos usar EM VEZ DE para qualquer tipo de substituição (opostos ou não). Assim sendo, na dúvida, use sempre EM VEZ DE.

    Ao persistirem os sintomas???
    Esta frase aparece com muita frequência na televisão, em anúncios de remédios: AO PERSISTIREM os sintomas, um médico deverá ser consultado.
    Será que está correta? O que mudaria se a agência publicitária usasse A PERSISTIREM, em vez de AO PERSISTIREM?
    Quando diz AO PERSISTIREM, o comercial está praticamente afirmando que os sintomas persistirão, pois AO PERSISTIREM significa QUANDO PERSISTIREM. Compare:
    “Ao SOAR O APITO FINAL, os jogadores trocaram camisas.” (Ou seja: QUANDO SOOU o apito final, os jogadores trocaram camisas.)
    Agora, veja a diferença:
    “A CONTINUAR ESSA VENTANIA, vai chover mais tarde.”
    Percebeu? A pequena mudança do AO para A fez muita diferença. A CONTINUAR ESSA VENTANIA significa SE CONTINUAR ESSA VENTANIA.
    Certamente, a intenção do redator daquele anúncio imaginou essa hipótese: SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, ou SE OS SINTOMAS PERSISTIREM, consulte um médico.
    Deveria ter escrito, portanto: A PERSISTIREM OS SINTOMAS, e não "ao persistirem".

    ROLÊ ou RULÊ?
    Chega o inverno, é hora de tirar as blusas do armário, todas cheirando a naftalina.
    Uma das roupas mais comuns nessa época é a blusa com aquela gola que se enrola no pescoço – como se chama mesmo? Gola ROLÊ ou RULÊ?
    A palavra veio do francês roulé, que significa "enrolado". Em português, ficou RULÊ, com U.
    E aquele bife recheado, geralmente amarrado com uma linha ou preso por palitos: bife ROLÊ ou RULÊ?
    Curiosamente, o bife é ROLÊ, com O, muito embora a origem da palavra seja a mesma.
    Às vezes essa nossa língua é "enrolada", não é mesmo?

  • Adivinha ou advinha? Toda-poderosa ou todo-poderosa? Trezentas ou trezentos gramas?

    ADIVINHA ou ADVINHA?
    Qual é a forma correta: "ADVINHA [com “D mudo”] quem me ligou!" ou "ADIVINHA [com DI] quem me ligou"?

    A língua portuguesa tem muitas palavras iniciadas com o prefixo “AD”, com o “D mudo”: ADMITIR, ADMOESTAR, ADMIRAR, ADVOGADO, ADVERSÁRIO, etc. Por essa razão, muita gente acaba pondo “D mudo” onde não tem.

    É o caso do verbo A-DI-VI-NHAR, que muita gente escreve e fala  “advinhar” (com “D mudo”).

    A verdade é que o verbo ADIVINHAR tem a sílaba DI em todas as suas formas: eu ADIVINHO, nós ADVINHAREMOS, ela ADIVINHOU, vós ADIVINHARÍEIS, etc.

    Portanto a frase correta é "ADIVINHA (ênfase no DI) quem me ligou!".

    Quer dizer que a forma ADVINHA não existe, professor?

    Existe, sim, mas é do verbo ADVIR, que significa "vir depois", "suceder a", e se conjuga como o verbo VIR.

    Por exemplo:
    “Quando estive em Belém, sempre ADVINHA uma chuva refrescante após o calor da manhã”.

    Essa confusão já tirou muita gente de concurso público. ADIVINHA o que acontecia com quem errava? ADVINHA a reprovação!

    Ela é TODA-PODEROSA ou TODO-PODEROSA?
    Estamos num mundo em transformação. Quem diria, 50 anos atrás, que veríamos tantos países governados por mulheres?

    Nosso país, governado por Dilma Rousseff, a Argentina, por Cristina Kirchner; a Alemanha, por Angela Merkel. E vários outros.

    Essas mulheres têm um grande poder nos países que governam. Podemos, então, nos referir a cada uma delas como... TODO-PODEROSA?

    Opa, é mulher, será que não é... TODA-PODEROSA?

    Nesse caso, a palavra TODO é um advérbio, portanto invariável. Devemos dizer que Merkel é TODO-PODEROSA, que Dilma é TODO-PODEROSA.

    É diferente do pronome TODO, que tem plural (TODOS) e feminino (TODA, TODAS). É o caso, por exemplo, da frase "TODAS as mulheres merecem respeito."

    Podemos dizer, então, que TODAS aquelas líderes são TODO-PODEROSAS.

    TREZENTAS gramas ou TREZENTOS gramas?
    Você precisa de umas fatias de mortadela para seu sanduíche. Então vai à padaria e pede como? TREZENTAS ou TREZENTOS gramas de mortadela?

    Muita gente se atrapalha na hora de pedir, e acaba indo pela forma mais popular, que é o feminino. Esse uso tem uma explicação: existe a grama, que é aquela cobertura vegetal dos campos de futebol.

    Pois é, mas, embora cause estranheza, segundo nossos dicionários, devemos pedir TREZENTOS gramas. A unidade de massa GRAMA é palavra masculina, assim como suas derivadas: centigrama, quilograma, miligrama, etc.

    Portanto, é bom tomar cuidado. Já pensou se o atendente é um gaiato que ao ouvir seu pedido de "trezentas gramas”, resolve levar ao pé da letra e lhe oferecer trezentas folhas da gramínea?

    Diga sempre DUZENTOS gramas, TREZENTOS gramas, DOIS gramas, UM grama, quando se referir ao "peso" de alguma coisa.

    O preço está caro?
    Não faz muito tempo, um site de esportes publicou na manchete: "Torcedor acha caro o preço dos ingressos".

    Qual o problema com essa frase? Aparentemente, nenhum, não é? Mas o redator escorregou num falso sinônimo.

    É comum a confusão entre o uso de CARO e ALTO, e muita gente pensa que são sinônimos, mas não são.

    O preço ou o valor pode ser ALTO ou BAIXO, nunca "caro" ou "barato". Já os produtos ou os serviços, esses sim, é que são CAROS ou BARATOS.

    Veja os exemplos:
    “O tomate está CARÍSSIMO na feira hoje”;
    “O preço do tomate está muito ALTO”;
    “Aproveite para viajar agora, as passagens estão mais BARATAS”;
    “O preço das passagens ABAIXOU, ficou mais fácil ir à Europa”.

    O redator daquele jornal acertaria se dissesse:
    “Torcedor acha ALTO o preço dos ingressos”

    Ou então:
    “Torcedor acha CARO o ingresso”.

  • Quando você tira 'xerox', qual sílaba é a tônica? Veja a resposta

    Látex ou latex? Xérox ou xerox?
    Temos aqui uma dupla de palavrinhas cuja pronúncia sempre gera confusão. Afinal, aquela substância extraída da seringueira se chama LÁTEX ou LATEX? E a fotocópia, é XÉROX ou XEROX?
    Vamos começar pela primeira. A palavra que designa a matéria-prima da borracha é LÁTEX, com acento agudo no A, é paroxítona, ou seja, a sílaba mais forte é a penúltima: LÁ-tex.
    A forma "latex" não existe, não tem registro.
    LÁTEX também designa um tipo de tinta, usado em paredes.
    Quanto a XÉROX ou XEROX, as duas pronúncias e duas formas de escrever são aceitas, fica a gosto do freguês.
    Essa palavra é um daquelas marcas que acabaram dando o nome ao produto, como gilete, cotonete, bombril etc.
    A pronúncia em inglês é paroxítona (e daí vem XÉROX), mas o produto ficou tão conhecido no Brasil que seu nome foi aportuguesado como oxítona (XEROX).

    Foi diagnosticado com câncer?
    Tem se tornado comum, em manchetes de jornais, internet e até na TV, frases como "Fulano FOI DIAGNOSTICADO com câncer".
    Se você tivesse que relatar essa triste notícia a alguém, diria também que "Fulano foi diagnosticado"?
    Bem, a verdade é que DIAGNOSTICADA É A DOENÇA, não a pessoa, por isso deveríamos evitar dizer que "Fulano foi diagnosticado".
    Vamos olhar no dicionário? O que significa DIAGNOSTICAR?
    É fazer o diagnóstico DE UMA DOENÇA. DIAGNÓSTICO, por sua vez, é a arte de reconhecer A DOENÇA por seus sinais e sintomas.
    Portanto, em vez de dizer que "Fulano foi diagnosticado com câncer", deveríamos dizer que "Fulano RECEBEU O DIAGNÓSTICO de câncer", ou então que "Fulano TEVE O CÂNCER DIAGNOSTICADO", ou ainda que "FOI DIAGNOSTICADO O CÂNCER de Fulano."
    Não que seja errado dizer que "Fulano foi diagnosticado", mas é bom evitar.

    MÚSICO tem feminino?
    Como devemos nos referir a uma mulher que toca algum instrumento?
    Claro, podemos nos basear no instrumento que ela toca. Se toca piano, é pianista, "A" pianista. Caso toque violão, é "A" violonista.
    Quando o profissional é homem, essa dúvida não existe, e nem precisamos saber que instrumento ele toca. Nós o chamamos de "O" músico, e está resolvido.
    Mas dá para chamar a mulher instrumentista de... "A" música? Fica muito estranho, não fica? É capaz de alguém perguntar "que música?", "quem toca?"
    Os dicionários permitem esse uso. Se procurarmos a palavra MÚSICA no dicionário, veremos que também é o feminino de músico.
    Mas também podemos usar a forma "o músico" tanto para homens quanto para mulheres.
    Quando isso acontece, o substantivo é chamado de sobrecomum, isto é, um único gênero que serve aos dois sexos. Observe outros exemplos: a criança, a vítima, o indivíduo, etc.
     
    Encarar de frente?
    Sempre que alguém está em crise, um time de futebol em má fase, uma empresa com dificuldade para saldar os compromissos, lá vem a frase: "É preciso ENCARAR DE FRENTE os problemas" ou então "ENFRENTAR DE FRENTE os problemas".
    O que há de errado nessa frase? Gramaticalmente, nada. Mas, cá entre nós, você conseguiria encarar alguma coisa ou alguém de lado? Ou de costas? E enfrentar? Essa então é terrível, pois ENFRENTAR já tem na origem a palavra FRENTE.
    Isso é uma espécie de PLEONASMO. É a redundância, o excesso de palavras para dizer a mesma coisa.
    Outro exemplo, bastante comum, é SORRISO NOS LÁBIOS. Às vezes, essas duas expressões vêm na mesma frase: "É preciso ENFRENTAR DE FRENTE os problemas, mantendo um SORRISO NOS LÁBIOS". Seria possível sorriso nas orelhas?
    Veja como ficaria a frase sem essas redundâncias: "É preciso enfrentar os problemas mantendo um sorriso."
    Sentiu falta de alguma coisa? Nem eu.

  • Multiúso é com hífen ou sem hífen? Tem acento ou não?

    DÚVIDAS ETERNAS

    MULTIUSO ou MULTIÚSO?

    Você já deve ter reparado que, hoje em dia, é tudo "multiúso":
    “detergente multiúso, escova multiúso, roupa multiúso...”, tudo em nome da praticidade para facilitar o dia a dia.
    Mas como se escreve essa palavrinha: MULTIUSO (sem acento) ou MULTIÚSO (com acento agudo no U)?
    A maioria das embalagens traz a palavra sem acento. Há quem atribua a ausência do acento à formação da palavra: prefixo MULTI + palavra USO.
    Realmente, o argumento está correto, mas a conclusão é incorreta.
    A junção do prefixo MULTI com o substantivo USO deu origem a uma nova palavra, e esta deve seguir as normas ortográficas. Nesse caso, as normas são claras: devem-se acentuar o I e o U que fizerem hiato com a vogal anterior, ou seja, que não ficarem na mesma sílaba que essa vogal. É o caso de RE-Ú-NE, SA-Ú-DE, SU-Í-ÇA, etc.
    Essa regra praticamente não foi alterada com o novo acordo ortográfico.
    Só perderam o acento agudo aquelas palavras em que as vogais “i” ou “u” formam hiato com um ditongo decrescente na vogal anterior: fei-u-ra, bai-u-ca, Bo-cai-u-va, Sau-i-pe...
    Nos demais casos, ainda devemos usar o acento agudo em palavras como: saída, eu saí, país, raízes, prejuízo, Icaraí, baú, Grajaú,
    Por essa razão é que MUL-TI-Ú-SO deve receber o acento no U.

    Obedeça O sinal ou Obedeça AO sinal?

    Você já deve ter reparado, nas ruas e rodovias brasileiras, aquela placa onde se lê: “OBEDEÇA O SINAL”.
    Será por isso que ninguém obedece? O certo é: “OBEDEÇA AO SINAL”. Todos nós aprendemos que o verbo OBEDECER é transitivo indireto, ou seja, ele exige a preposição A.
    E o que dizer então de “OBEDEÇA A SINALIZAÇÃO”? É lógico que falta aí o acento indicador da crase: “OBEDEÇA À SINALIZAÇÃO”.
    A crase, não custa lembrar, é a união da preposição A com outro A, geralmente o artigo definido feminino A.
    Prevenir acidentes é dever de todos. “Obedeça À sinalização”, “Obedeça AOS sinais”, são as formas corretas, e não dê bola para a regência verbal mal usada nas placas de trânsito.

    Criança MAL-EDUCADA, MAU-EDUCADA ou MÁ-EDUCADA?

    Quem é mãe ou pai de primeira viagem, logo se depara com a dúvida. Essa criança é MAL-EDUCADA ou MÁ-EDUCADA?
    A dúvida faz sentido. Afinal, CRIANÇA é palavra feminina, portanto o adjetivo deve concordar com ela, MÁ, certo?
    Errado. Nesse caso, o único adjetivo da frase é EDUCADA, que está no feminino para concordar com CRIANÇA. Mas qual a resposta, então?
    O correto é CRIANÇA MAL-EDUCADA. MAL é um advérbio, ou seja, palavra INVARIÁVEL que modifica adjetivos, verbos e até outro advérbio.                 
    Observe como ela não se modifica:
         Crianças MAL-EDUCADAS
         Menino MAL-EDUCADO
         Meninos MAL-EDUCADOS
    Mas por que o hífen?
    Devemos usar hífen para separar MAL da palavra seguinte que começar por H ou vogal, como em MAL-ESTAR, MAL-HUMORADO, MAL-ACABADO.
    Se a palavra seguinte começar por uma consoante diferente de H, devemos escrever tudo junto. Por exemplo:
    Criança MALCRIADA.
    Serviço MALFEITO.
    Rodovia MALCONSERVADA.
    Noites MALDORMIDAS.
     
    TENÇÃO ou TENSÃO?
     
    Essa é uma dúvida que pega muita gente. Essa palavra se escreve com Ç (TENÇÃO) ou com S (TENSÃO)?
    A verdade é que as duas formas existem, mas cada uma tem um significado.
    A forma TENÇÃO (com Ç) é o mesmo que INTENÇÃO, ou seja, refere-se àquilo que se pretende fazer:
    “Eu não tive a TENÇÃO de ofendê-lo.”
    A forma com S, TENSÃO, se refere à qualidade do que está TENSO, do que está em vias de um rompimento:
    “O varal está com muita TENSÃO, vai acabar arrebentando”;
    “A TENSÃO na Faixa de Gaza preocupa os países vizinhos”.
    Em eletricidade, TENSÃO é usada para se referir à voltagem de uma instalação ou de um aparelho:
    “A TENSÃO do equipamento é de 220 volts.”
    Portanto, não erre mais. Confira o significado do que pretende dizer. Para se referir ao propósito, à INTENÇÃO de algo, é com Ç.
    Se a intenção é dizer que algo está TENSO, então use TENSÃO, com S.

  • Não aprenda crase com placas de trânsito (e mais quatro dicas de português)

    Obras À 100 metros ou obras A 100 metros?
    Não queira aprender o uso do acento da crase em placas de trânsito. É impossível. Essas placas devem ter sido escritas por algum especialista "anticrase". Ele não acerta uma.

    Em TRÁFEGO PROIBIDO À CAMINHÕES (com acento de crase no A), encontramos um caso absurdo. Caminhão é substantivo masculino. Não pode haver antes dele o artigo definido feminino, por isso é impossível ocorrer crase.

    O certo é: TRÁFEGO PROIBIDO A CAMINHÕES, sem acento no A, pois temos apenas a preposição.

    Erro semelhante ocorre em TRÁFEGO PROIBIDO À MOTOCICLETAS. Você talvez diga, "mas, professor, MOTOCICLETA é feminino!". Sim, mas está no plural. Jamais ocorre crase quando a preposição A aparece antes de um substantivo plural, mesmo sendo feminino. O tráfego só pode ser PROIBIDO A MOTOCICLETAS, sem acento no A, pois temos apenas a preposição.

    E para encerrar, o famoso caso da placa OBRAS À 100 METROS. Mais uma vez, o autor tinha duas informações para checar e, assim, não errar: primeira, 100 METROS é masculino, e segunda, está no plural. O certo é: OBRAS A 100 METROS, sem acento no A.

    Verbos REPUGNAR e DIGNAR-SE

    Como você pronuncia o verbo REPUGNAR, ao dizer que algo (por exemplo, a guerra) lhe causa repulsa? “A guerra me REPUGNA” (com G “mudo” e força na sílaba PUG) ou “A fome me REPUGUINA” (com GUI e força nessa sílaba)?

    É o mesmo caso do verbo DIGNAR-SE: “Fulano não se DIGNA responder-me” ou “Fulano não se DIGUINA responder-me”?

    Repugnar e dignar-se têm pronúncias semelhantes: “A guerra me REPUGNA” e “Fulano não se DIGNA responder-me”.

    Desta forma, também, se conjugam esses verbos: não existe REPUGUINA nem DIGUINA.

    REPUGNAR e DIGNAR-SE são verbos regulares. Como o infinitivo desses verbos não apresenta GUI, sua conjugação também não terá, nem na escrita nem na pronúncia.

    ÓPTICA ou ÓTICA?
    Vamos a mais uma dica? Se você não usa óculos, certamente conhece alguém que usa e que teve de recorrer a certo estabelecimento para mandar fazê-los.

    E como se chama esse estabelecimento: ÓPTICA ou ÓTICA?

    Originalmente, a palavra ÓTICA se refere a ouvido. Sua raiz é grega, OTOS, presente em palavras como OTITE (inflamação no ouvido), OTORRINOLARINGOLOGISTA (médico que trata de ouvido, nariz e garganta), etc.

    E ÓPTICA, que também vem do grego, significa "visão".

    Hoje em dia, porém, a forma ÓTICA também é aceitável para as lojas que vendem óculos. Mas um "exame ÓTICO" continua sendo só um exame de ouvido.

    PÁRA ou PARA?
    O que você entenderia ao ler a seguinte manchete num jornal: "Marcha PARA São Paulo"?

    Até a vigência do Novo Acordo Ortográfico, a partir de 2009, era possível distinguir a preposição PARA (“Viajou para longe”) do verbo PARAR na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo (“Ele não pára de falar!”, com acento agudo no primeiro A).

    A frase em questão, naquela época, não deixaria dúvidas.

    "Marcha PARA São Paulo" (sem acento) significaria que uma marcha se dirige à cidade de São Paulo. Já "Marcha PÁRA São Paulo", com acento, seria a notícia de uma marcha que paralisou a cidade.

    O Acordo Ortográfico, no entanto, aboliu esse acento, e agora, em certos casos, fica difícil deduzir o significado de PARA. No caso dessa frase, é preciso ler a reportagem toda para saber do que se trata.

    Portanto não erre mais: tanto a preposição PARA quanto a flexão do verbo PARAR (Ele PARA) se escrevem sem acento algum.

  • Vimos ou viemos à reunião?

    Nós VIMOS ou VIEMOS à reunião?

    Muita gente tem dúvida na hora de flexionar o verbo VIR. Quer um exemplo: Como você diria: “Nós VIMOS ou nós VIEMOS à reunião?”

    A resposta é: depende. Sim, depende do tempo a que nos referimos.

    A forma VIMOS é do presente do indicativo. Por exemplo:
    “VIMOS, por meio desta, solicitar..." (o verbo VIR está na 1ª pessoa do plural, no presente do indicativo);

    A forma VIEMOS é do pretérito, do passado. Exemplo:
    "Ontem nós VIEMOS à reunião." (o verbo VIR está também na 1ª pessoa do plural, mas desta vez no pretérito perfeito do indicativo).

    Muita gente evita usar o presente, porque a forma VIMOS é, também, o passado do verbo VER: "Nós o vimos ontem, quando saía do escritório".

    Para não ter dúvidas sobre qual é o verbo que está sendo usado (o VIR ou o VER), ponha o verbo no singular. Veja:
    “VENHO, por meio desta, solicitar...” (essa é a 1ª pessoa do singular, em vez de VIMOS, 1ª do plural);
    “Eu o VI ontem, quando saía do escritório” (essa é a 1ª pessoa do singular, em vez de VIMOS, 1ª do plural).

    EXISTE "OUTRA ALTERNATIVA"?


    Você certamente já se deparou com a expressão outra alternativa.               

    Será que ela existe?

    Muita gente, até mesmo em programas de televisão, revela essa dúvida. Alguns até já trazem a resposta, dizendo que é uma redundância, por causa da origem da palavra "alternativa".

    ALTER significa "outro". Assim sendo, dizer "outra alternativa" seria um sacrilégio. Deveríamos, por isso, dizer "outra opção". 

    Etimologicamente, essas pessoas podem até ter razão, mas a verdade é que, hoje em dia, alternativa se tornou sinônimo de opção. Não chega a ser um erro, mas, se pudermos evitar, é melhor.

    Quando dizemos que "não há alternativa", já estamos afirmando que só temos uma opção.

    Não é preciso dizer que temos "outra alternativa". Basta dizer que temos "uma alternativa", que já significa que temos "outra opção".

    E lembre-se, "duas alternativas" não está errado: são "duas outras opções".


    CANDIDATO "A DEPUTADO" OU "À DEPUTADO"?

    Sempre que chega a época das eleições, tanto as propagandas eleitorais quanto os telejornais nos premiam com muitas pérolas.

    Uma delas é escrever "Fulano, candidato À deputado", com acento indicador de crase na preposição A. Talvez isso ocorra porque as pessoas se atrapalham com as seguintes situações:
    “Candidato À REELEIÇÃO” (com o acento indicativo da crase, correto);
    “Candidato A DEPUTADO” (sem o acento da crase).

    A diferença entre os dois exemplos é que no segundo caso não há ocorrência de crase (união de dois as) já que "deputado", além de ser um substantivo masculino, está tomado no sentido genérico, isto é, sem artigo definido.

    É o mesmo caso de "candidato A PRESIDENTE", "candidato A GOVERNADOR", tudo sem o acento grave indicativo da crase.

    E atenção, se houver uma "candidata A SENADORA", ou uma "candidata A PRESIDENTA", também não ocorre crase.


    Fulano é SUPER PAI, SUPER-PAI ou SUPERPAI?

    Eis que voltamos ao uso (ou não) do hífen, esse tema tão frequente em provas e concursos.

    A forma correta é SUPER PAI (separado), SUPER-PAI (com hífen) ou SUPERPAI, tudo junto?

    Com os prefixos terminados em "R" (SUPER, HIPER e INTER), usamos hífen quando a palavra seguinte começa por "H" ou "R": super-homem, super-herói, super-resistente, super-rápido, hiper-realismo, inter-regional, inter-helênico. Tudo isso é com hífen.

    Com as demais letras, devemos escrever sem hífen, sempre junto: supermercado, superinteressante, supersábado, superlegal, SUPERPAI, hipermercado, hipertensão, interestadual, intermunicipal, internacional, etc.

    As formas "super pai" (separado, sem hífen) e "super-pai" (com hífen) estão erradas.

    BODE ESPIATÓRIO ou EXPIATÓRIO?

    Como vocês escreveriam a expressão bode expiatório, que significa "penar pelas culpas alheias"?

    Pois é, ao contrário do que muita gente pensa, esse bode aí não é um sujeito chato que vive espionando a vida dos outros, no caso, um "bode espião".

    Por isso é que não se escreve com S, mas com X. Isso mesmo, escreva BODE EXPIATÓRIO, com X.

    Esse adjetivo vem do verbo EXPIAR (com X), que significa "penar, sofrer", e não de ESPIAR (com S), cujo sentido é espionar, bisbilhotar.

    O tal bode expiatório é aquele que paga pelas culpas alheias, é quem pena pelos outros.

    A origem é bíblica. Os hebreus tinham o costume de, anualmente, fazer uma festa para aplacar a ira divina. Um bode, após receber todas as maldições, era jogado no deserto. Sua função era expiar, ou seja, redimir, purificar a culpa do povo. Daí o bode expiatório.

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.