Acompanhe os reflexos da greve dos caminhoneiros em todo o Brasil
Pelo sétimo dia seguido, caminhoneiros fazem manifestações pelo país. Os atos deste domingo (27) dão continuidade à mobilização contra a disparada do preço do diesel, que faz parte da política de preços da Petrobras em vigor desde julho de 2017.
O Palácio do Planalto passou o domingo em reunião. O presidente Michel Temer convocou alguns ministros, dentre eles Eliseu Padilha (Casa Civil), Raul Jungmann (Segurança Pública) e Segurança Institucional (Sérgio Etchegoyen), para a nova rodada de conversas.
Por volta das 21h30, Temer fez um pronunciamento. Ele anunciou a redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel por 60 dias – depois disso, os ajustes serão a cada 30 dias. Ele também disse que vai editar uma medida provisória isentando de pagamento de pedágio os eixos suspensos de caminhões vazios. A medida, de acordo com ele, vale para rodovias federais e estaduais.
À tarde, o Senado convocou para esta segunda-feira (28) uma sessão extraordinária para tentar votar a urgência do projeto que cria preços mínimos para o frete - outro anúncio feito durante o pronunciamento do presidente.
Durante o anúncio das medidas para acabar com a greve, "panelaços" foram registrados em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Distrito Federal.
Em Curitiba, Diumar Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), disse que as propostas do governo federal serão submetidas para a avaliação da categoria "o mais rápido possível".
Combustíveis
Em ao menos 11 estados (Alagoas, Amazonas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo) e no Distrito Federal alguns postos foram reabastecidos. Em diversas cidades, motoristas têm de esperar em filas de veículos para colocar combustível.
Além disso, as forças de segurança fizeram neste final de semana escolta de caminhões-tanque para garantir abastecimento de combustível em ao menos 11 estados, além do Distrito Federal.
- Em Santa Catarina, 254 dos 295 municípios relataram problemas de abastecimento de combustíveis, conforme dados do governo estadual divulgados na sexta. Em Florianópolis, não há mais combustíveis nos postos, assim como em Blumenau.
- Ao menos cinco postos de Salvador receberam gasolina e amanheceram com filas gigantes neste domingo. Apesar da chegada da gasolina, os postos não têm etanol, nem diesel. Os donos dos estabelecimentos não tem previsão de quanto a gasolina pode durar, porque isso depende da demanda. Eles também não têm detalhes de quando receberão a próxima carga, que desta vez foi escoltada pela polícia.
- O estoque de combustíveis nos postos de Alagoas deve ser normalizado em uma semana, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado (Sidicombustíveis-AL). Alguns começaram a ser abastecidos na noite de sábado (26), mas neste domingo (27) já havia relatos de baixo estoque novamente.
- No Pará, postos da região metropolitana estão sendo reabastecidos. Mas as regiões nordeste e sudeste do Estado ainda têm postos com estoque zerado.
- Com a liberação das estradas em Rondônia, os caminhões de combustível puderam abastecer os postos em diversas cidades, gerando filas ainda na noite do sábado.
- Desde sábado, o governador do Mato Grosso, Petro Taques (PSDB), decretou situação de emergência por causa do desabastecimento de combustível.
- Em Paulínia (SP), oito carretas com carga de querosene deixaram a refinaria Replan a caminho do Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Também saíram da refinaria 12 carretas com gás de cozinha.
Serviços essenciais
Mesmo com bloqueios e protestos, operações estão sendo feitas no país para garantir o funcionamento de serviços essenciais. (Veja abaixo a situação de alguns serviços essenciais em alguns estados do país)
Em Fortaleza, por exemplo, foi montada uma operação para reabastecer hospitais e postos. Em Rondônia, uma operação semelhante foi montada para garantir o reabastecimento em usinas e o transporte de materiais hospitalares.
Aeroportos
Ao menos 11 aeroportos estão sem combustível, segundo balanço da tarde deste domingo.
São eles:
- Ribeirão Preto (SP)
- Pampulha (MG)
- São José dos Campos (SP)
- Uberlândia (MG)
- Ilhéus (BA)
- Campina Grande (PB)
- Juazeiro do Norte (CE)
- Aracaju (SE)
- Maceió (AL)
- Joinville (SC)
- João Pessoa (PB)
As reservas de querosene do aeroporto de Brasília se esgotaram na tarde deste domingo. No fim da tarde, a operação ganhou fôlego na operação ao receber 550 mil litros de combustível. Com isso, o aeroporto saiu do zero e chegou a 18% das reservas.
Alimentos
Mapa dos estados onde houve impacto no abastecimentos dos Ceasa — Foto: Igor Estrella/G1
O abastecimento de carne de aves e suínos pode demorar até dois meses para se normalizar depois que for encerrada a greve dos caminhoneiros. A estimativa foi divulgada pela entidade que representa o setor, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Por falta de ração e espaço para os animais, há risco de canibalização, e os animais devem ser sacrificados.
- 64 milhões de aves e pintinhos já morreram
- 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos estão sem ração
- 167 unidades de produção de carne estão com atividades suspensas
- 234 mil trabalhadores estão com atividades interrompida
Estoque de frios está no fim em supermercados de Maceió que recebem carregamento do Recife — Foto: Cau Rodrigues/G1
- Continuam os relatos de escassez de produtos e alta de em supermercados. Em Maceió, por exemplo, o gerente de uma loja disse que a perda tem sido maior no setor de hortifrutigranjeiros, principalmente por causa do desabastecimento na Ceasa.
- As Centrais de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (Ceasa-SC) dizem que há desabastecimento de aproximadamente 85%. A Associação Catarinense de Supermercados (Acats) informou que já há falta de vários produtos nos estabelecimentos. Sem produtos, a Ceasa de Joinville foi fechada.
Inquéritos da Polícia Federal
PF abre 37 inquéritos para investigar locaute na greve dos caminhoneiros
Em entrevista coletiva na noite deste sábado (26), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que a Polícia Federal instaurou 37 inquéritos em 25 estados para apurar prática de locaute durante a greve dos caminhoneiros.
Locaute (termo originado a partir da palavra em inglês lock out) é o que acontece quando os patrões de um determinado setor impedem os trabalhadores de exercer a atividade. A prática é proibida por lei.
Na entrevista – da qual participou o ministro da Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen –, Jungmann disse que houve "apoio criminoso" de empresas ao movimento, que, segundo ele, "irão pagar por isso". O ministro declarou que os responsáveis estão sendo convocados para prestar depoimento.
"Temos comprovado, seguramente, que essa paralisação por caminhoneiros autônomos, em parte, teve desde seu início a promoção e o apoio criminoso de proprietários, patrões de empresas transportadoras e distribuidoras. E podem ter certeza que irão pagar por isso", declarou.
De acordo com o ministro, mandados de prisão já foram expedidos, mas ele não soube informar se eles já tinham sido cumpridos.
Jungmann afirmou que a Polícia Rodoviária Federal emitiu 400 autos de infração no valor total de R$ 2,03 milhões, sem incluir as multas de R$ 100 mil por hora determinadas em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fila de carros para abastecer em posto de combustível na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo, que vende etanol a R$ 4,89 reais o litro — Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
Ministro vai levar propostas a Temer
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse na noite deste sábado que vai levar para o presidente Michel Temer novas propostas para tentar encerrar o movimento dos caminhoneiros.
Marun se reuniu no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, com o governador Márcio França (PSB) e lideranças do movimento dos caminhoneiros de São Paulo.
Entre as propostas que serão levadas para Brasília, Marun destacou:
- garantia de que o desconto de 10% no valor do diesel vai chegar na bomba de forma efetiva;
- possibilidade de que a manutenção do preço seja ampliada de 30 para 60 dias;
- e o fim da suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para eixo elevado dos caminhões para todo o país. Este último ponto já foi acertado pelo governo de São Paulo com os caminhoneiros.
Temer assinou decreto
Na noite desta quinta-feira (24), o governo federal e respresentantes de caminhoneiros haviam anunciado proposta para suspender a greve por 15 dias. Ainda assim, a paralisação continou.
Já na tarde deste sábado (26), o presidente Michel Temer assinou um decreto que permite ao governo assumir o controle de caminhões para desobstruir as rodovias, uma medida chamada de "requisição de bens", anunciada já na sexta-feira (25).
Em pronunciamento também na sexta, Temer havia dito que o governo acionou forças federais para desbloquear as estradas.
No mesmo dia, o governo publicou um Decreto de Garantia da Lei e da Ordem que autoriza uso das Forças Armadas para liberar rodovias.
Válido até 4 de junho, o decreto inclui:
- remoção ou a condução de veículos que estiverem obstruindo a via pública;
- escolta de veículos que prestem serviços essenciais ou transportem produtos considerados essenciais;
- garantia de acesso a locais de produção ou distribuição de produtos considerados essenciais;
- e medidas de proteção para infraestrutura considerada crítica.
Veja os principais reflexos da paralisação pelo país:
Transporte
- Governo de São Paulo informa que quase 80% dos bloqueios foram liberados nas rodovias do estado. Último balanço divulgado pelo governo mostra que ainda há 35 pontos de manifestação em rodovias estaduais e dois em rodovias federais. No sábado, eram 157 interrupções em rodovias estaduais e 15 em rodovias federais no estado. Neste domingo, dia de menor demanda, a frota do metrô e da CPTM opera normalmente, dentro dos padrões do final de semana. No aeroporto de Guarulhos, nenhum voo foi cancelado pela manhã deste domingo – entre as 6h e 7h, nenhum voo com mais de 30 minutos registrou atraso. Em Congonhas, até as 8h, dois voos haviam sido cancelados.
- O estado do Rio de Janeiro possui ainda 24 pontos de bloqueio nas estradas no começo da manhã deste domingo. A cidade do Rio segue em estado de atenção desde as 16h30 de sexta. O BRT, que havia voltado a funcionar às 17h de sábado após interromper os serviços por causa da falta de combustíveis, opera com 56 ônibus articulados (menos de 20% da frota). Rio Ônibus, sindicato que reúne as empresas de ônibus do município, informa que 13% da frota está circulando nas ruas da cidade do Rio neste domingo.
- Em Minas Gerais, há 57 pontos de paralisação, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ônibus não circulam em Belo Horizonte neste domingo, diz BHTrans
- Em Porto Alegre, vans escolares e táxis a R$ 6 são alternativas de transporte, já que a cidade está sem ônibus. Eles não vão circular neste domingo para poupar combustível para o dia seguinte.
- Em Florianópolis, o transporte coletivo no semana funciona com horário de domingo. Caminhoneiros liberaram a passagem de combustíveis para abastecer a frota da capital e das linhas intermunicipais da Grande Florianópolis. Nesta segunda-feira (28), a operação será com horários de sábado para o convencional, enquanto os executivos [amarelinhos] estarão suspensos.
- No Paraná, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) informou que ainda há 50 pontos de bloqueio na região de Maringá, no norte do estado. Os bloqueios também continuam na BR-376 em Mandaguari, Mandaguaçu e Marialva, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A Infraero informou que as operações no Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu estão normais neste domingo. Já foram realizadas três decolagens. Até a meia-noite, estão previstos 22 pousos e 21 decolagens na fronteira.
- Segundo a Infraero, não teve problema de abastecimento de aeronaves no Aeroporto de Foz até este momento.
- Em Goiás, havia 50 trechos bloqueados às 8h30 deste domingo (três a menos que o no dia anterior), informou a Polícia Rodoviária Estadual. Já a última atualização da Polícia Rodoviária Federal, apontou 22 pontos.
- Em Mato Grosso, pelo menos 12 pontos de bloqueio são registrados na manhã deste domingo.
- No Agreste e Sertão de Pernambuco, continuam interditados trechos das BRs 423, em Garanhuns e Iati; 424, em Caetés e Pedra; 316, em Floresta; 104 em Caruaru; e 232, em Caruaru, Sertânia, Belo Jardim e Pesqueira. Carros de passeio, veículos de emergência, motos e ônibus passam pelos locais, segundo a PRF.
- No Pará, a PRF informou que há 11 pontos de interdições parciais na manhã deste domingo.
- Na Paraíba, até a noite do sábado havia aproximadamente 25 pontos de interdições em rodovias, segundo a (PRF). O órgão não informou o número de rodovias interditadas neste domingo até as 9h.
- Em Rondônia, o último ponto de bloqueio na BR-364 foi desfeito na noite de sábado. Os manifestantes que estavam concentrados na rodovia próximo a Candeias do Jamari retiraram os caminhões da estrada, permanecendo nas margens da BR.
Saúde
- Em São Paulo, as ambulâncias do Samu têm combustível para o atendimento até o fim de segunda-feira. Há ações no fim de semana para a recomposição dos estoques. A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que todas as unidades estão funcionando normalmente, com possibilidade de falhas pontuais por ausência de um ou outro funcionário.
- As cirurgias eletivas (agendadas) estão suspensas na rede estadual de Santa Catarina, que tem 13 hospitais próprios. Os procedimentos cirúrgicos serão reagendados.
- As cirurgias eletivas também foram suspensas em hospitais da rede estadual no Rio de Janeiro. Estoque de sangue está baixo, de acordo com o governo do estado.
Coleta de lixo e serviços públicos
- Em São Paulo, não há coleta aos domingos. A prefeitura diz ter obtido combustível para seguir com o serviço nesta segunda. Já o serviço funerário funciona normalmente. Segundo a prefeitura, o estoque de combustível para o serviço de remoção de corpos é suficiente para garantir o serviço até a manhã deste domingo.
- Em Florianópolis, a coleta de lixo, que havia sido alterada, voltou a operar na noite de sexta, após negociação da prefeitura com caminhoneiros para liberação de combustíveis.
Educação
- Aulas serão suspensas nesta segunda-feira (28) em parte de universidades do país e de escolas da rede estadual em razão da greve de caminhoneiros.
- Em ao menos 13 estados não haverá aula nas universidades federais: Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
- Não haverá aula na rede estadual de ensino em ao menos três estados (Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Sergipe) e também no Distrito Federal.
- Entre as capitais brasileiras, apenas a rede municipal do Rio de Janeiro não terá aulas nesta segunda.
- Em São Paulo, a USP, a Unesp e a Unicamp também tiveram as atividades letivas suspensas.
- A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) suspendeu a segunda fase do XXV Exame de Ordem, que aconteceria em todo o país neste domingo, atribuindo a decisão aos reflexos da paralisação dos caminhoneiros.
Energia e abastecimento
- A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) emitiu comunicado na tarde de quinta para que a população que diminua o consumo de água tratada, porque o abastecimento dos produtos necessários para tratamento está comprometido. O estoque atual é suficiente para mais alguns dias.
- Em João Pessoa, começa a faltar gás. Segundo vendedores, são 600 pontos de revenda, mas boa parte já não tem mais o produto. Eles dizem que situação é de "colapso".
Indústria
- A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) calcula que os prejuízos já passam dos R$ 200 milhões. Ainda não há estimativa total das perdas como um todo do setor produtivo.