Notas de dólar. — Foto: Murad Sezer/ Reuters
O dólar subiu nesta sexta-feira (27) e fechou a semana com alta acumulada de 2%, cotado a R$ 6,19. Além do persistente impacto dos cenários político e, sobretudo, fiscal, o mercado repercutiu hoje os novos dados de inflação e emprego no Brasil.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia oficial da inflação, registrou alta de 0,34% em dezembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As projeções do mercado financeiro eram de uma alta superior, de 0,45%.
O IBGE também divulgou números do mercado de trabalho. O desemprego caiu a 6,1% no trimestre entre setembro e novembro, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, atingindo o menor patamar da série histórica pelo segundo mês consecutivo. O resultado veio em linha com as expectativas do mercado.
No campo político, foco na legalidade das emendas indicadas pelas comissões parlamentares da Câmara dos Deputados. A Casa enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), na madrugada desta sexta, uma série de informações sobre o tema, a pedido do ministro Flávio Dino.
Na última segunda-feira (23), Dino voltou a suspender o pagamento dessas emendas por entender que as indicações não estavam obedecendo os novos critérios de transparência definidos em decisões anteriores.
As emendas parlamentares são verbas previstas no Orçamento da União pagas pelo governo para deputados e senadores, que repassam o dinheiro para obras em seus estados. O STF vem restringindo, desde agosto, o pagamento das emendas exigindo maior transparência para o uso das verbas.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
'Temos que corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui', diz Haddad
Dólar
O dólar subiu 0,26%, cotado a R$ 6,1932. Na máxima do dia, chegou aos R$ 6,2147. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
- ganhos de 2% na semana;
- alta de 3,21% no mês;
- avanço de 27,63% no ano.
No dia anterior, a moeda norte-americana fechou em alta de 0,38%, cotado a R$ 6,1773.
Ibovespa
O Ibovespa caiu 0,67%, aos 120.269 pontos.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 1,50% na semana;
- perda de 4,30% no mês;
- recuo de 10,37% no ano.
Na véspera, o índice encerrou em alta de 0,26%, aos 121.078 pontos.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Em um dia de menor movimento nos mercados pelo fim de ano, investidores repercutiram os mais recentes dados econômicos.
O resultado do IPCA-15 veio abaixo do esperado, mas mostrou que a prévia da inflação encerrou 2024 acima da meta do Banco Central do Brasil (BC). A meta é de 3%, mas é considerada formalmente cumprida se a inflação oficial fechar o ano entre o intervalo de 1,50% e 4,50%.
Em relação ao mês anterior, quando a alta foi de 0,62%, o IPCA-15 de dezembro mostra uma desaceleração. O número também foi menor do que o resultado de dezembro de 2023, quando teve alta e 0,40%.
Em geral, a alta no mês foi puxada pelos grupos de Alimentação e Bebidas e Despesas Pessoais, principalmente, enquanto Habitação teve um alívio com a energia elétrica residencial.
Enquanto isso, os números da PNAD Contínua mostram que o o país atingiu a menor taxa de desocupação de toda a série histórica da pesquisa.
A queda da taxa em novembro foi de 0,5 ponto percentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior, terminado em agosto, quando era de 6,6%. No mesmo período do ano passado, a desocupação atingia 7,5% da população em idade de trabalhar (14 anos ou mais).
Ao todo, 6,8 milhões de pessoas estão sem emprego no país, o menor contingente desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014. Foi um recuo de 7% em relação ao trimestre anterior, e de 17,5% na comparação com 2023.
No Brasil, as preocupações com o quadro fiscal brasileiro e o noticiário político também continuaram na mira dos mercados. Nesta sexta, a Câmara enviou argumentos ao STF afirmando cumprir as regras atuais ao destinar emendas parlamentares. O ministro Flávio Dino, porém, ainda não se manifestou.
Mais cedo, o ministro deu um prazo de 10 dias para o governo federal explicar por que o Ministério da Saúde, estados e municípios ainda não estão adotando as regras adicionais de transparência para as emendas parlamentares na área de saúde.
Na quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira, convocou os líderes da Casa para uma reunião por videoconferência para tratar da sucessão na mesa. A eleição deve acontecer em 3 de fevereiro.
Apesar de ser claro o incômodo dos líderes a respeito da decisão do ministro do Supremo, Flávio Dino, de suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares, Lira informou ao blog da Ana Flor que "não há possibilidade de a Câmara fazer nada neste momento para reverter" a decisão.
Outra notícia que também ficou na mira dos investidores foi a entrevista do ministro das relações institucionais, Alexandre Padilha, à "CNN Brasil". O ministro fez um balanço do governo em 2024 e indicou as principais expectativas para 2025.
Segundo Padilha, a expectativa é que o Orçamento seja votado entre fevereiro e março.
"Estava tudo pronto para ser votado, mas o relator usou como argumento o fato de que as medidas que consolidam o marco fiscal têm de fato um impacto sobre o detalhamento do Orçamento e a consultoria técnica da Comissão precisava receber medidas primeiro e ver a sanção dela para, com esse detalhamento, poder recalcular o que for necessário", disse o ministro em entrevista.
Já do lado econômico, investidores repercutem a notícia de que o presidente Lula deve publicar um decreto presidencial nos próximos dias para corrigir o valor do salário mínimo no próximo ano. O valor deve subir dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025.
Se confirmado o valor, o aumento será de R$ 106, o equivalente a uma alta de 7,5%. A correção vale a partir de janeiro, com pagamento em fevereiro do ano que vem.
Na semana passada, o Congresso concluiu a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.
A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.
Em café da manhã com jornalistas, na última sexta-feira (20), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.
"Fala-se em 'desidratação', mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver 'hidratação' [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo", afirmou Haddad.
O mercado, mais uma vez, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.
"Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos", diz um relatório da empresa.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico reforçaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.
*Com informações da agência de notícias Reuters