Oferecido por

Por Alexandro Martello, g1 — Brasília


Banco Central deve subir o juro básico da economia pela terceira vez seguida nesta quarta — Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira (11) e deve acelerar novamente o ritmo de elevação dos juros básicos da economia. A decisão será anunciada após as 18h.

Na última reunião, em novembro, a taxa subiu 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano.

  • De acordo com projeção do mercado financeiro, com base no relatório Focus, do BC, que ouviu mais de 100 bancos na semana passada, a Selic deve subir para 12% ao ano nesta quarta, uma elevação de 0,75 ponto percentual.
  • Entretanto, os contratos de opções (um tipo de aposta) embutem, em sua maioria, um aumento maior ainda: de 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano. Esse foi o patamar da taxa em janeiro de 2023, no início do governo Lula.
  • Se confirmado, esse será o terceiro aumento seguido, e o maior desde março de 2022, ou seja, em quase três anos, quando a taxa subiu também um ponto percentual.

"Ao longo dos últimos meses, testemunhamos um crescente de incerteza e aversão a risco. Parte dessa pressão decorreu do contexto externo, mas foi também bastante impulsionada pelo anúncio de um ajuste fiscal que, pelo menos em um primeiro momento, frustrou os analistas independentes", avaliou o Itaú, em comunicado.

O Itaú, que projeta uma alta de um ponto percentual na Selic nesta quarta-feira, para 12,25% ao ano, também citou a alta do dólar como fator que pressiona a inflação, além de um dinamismo maior da economia com o crescimento do PIB do terceiro trimestre surpreendendo.

'Espero que meu sucessor não seja criticado pela cor da camisa que ele veste', diz Campos Neto

'Espero que meu sucessor não seja criticado pela cor da camisa que ele veste', diz Campos Neto

Troca de comando no BC

Essa também será a última reunião do Copom comandada por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro e alvo de críticas de Lula e da bancada petista.

A partir de janeiro, o BC será comandado por Gabriel Galípolo, escolhido pelo atual presidente da República e que conta com seu apoio, mesmo votando pela alta dos juros nos últimos meses.

Galípolo é aprovado com folga pelo Seando

Galípolo é aprovado com folga pelo Seando

Disparada do dólar

A decisão do Copom sobre o patamar da taxa de juros ocorre em meio à forte alta do dólar, que acumulou aumento, em 2024, de mais de 25% até segunda-feira (6) – cotado a R$ 6,08. Segundo analistas, esse é mais um fator a pressionar a inflação.

De maneira geral, a taxa de câmbio pode ter influência nos preços domésticos em diferentes frentes, como por meio da importação de produtos e insumos ou mesmo pela equiparação dos preços praticados no Brasil com o mercado internacional.

Alta do dólar impacta em diversos setores da economia brasileira

Alta do dólar impacta em diversos setores da economia brasileira

De acordo com o estudo "O impacto cambial no consumo dos brasileiros e a necessidade de diversificação internacional", do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGVcef), a taxa de câmbio tem um impacto significativo sobre a inflação em diversos segmentos, com variações que se traduzem em aumentos de preços ao consumidor.

"Esse impacto é muitas vezes subestimado pelo investidor, que não enxerga diretamente como a inflação setorial está conectada ao câmbio", diz o estudo, que recomenda investimentos em ativos que protejam contra a desvalorização cambial, como parte de uma estratégia de diversificação.

A alta da moeda norte-americana, por sua vez, tem relação com o crescimento das dúvidas sobre o controle de gastos públicos, tarefa a cargo dos Ministérios da Fazenda e Planejamento, além de incertezas sobre a política monetária dos Estados Unidos. Com juros mais altos nos EUA, o dólar sobe mais no Brasil.

Como as decisões são tomadas

Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.

Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.

Neste momento, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro semestre de 2026.

  • A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
  • A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
  • Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 4,84% (acima do teto da meta anual) e, a de 2025, 4,59% (também acima do teto da meta), e de 4% em 2026.
  • Em setembro, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em 4,3% em 2024, 3,7% em 2025 e 3,3% em 2026.

Efeitos na economia

De acordo com especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Veja abaixo algumas delas:

▶️ Reflexo nos juros bancários: a tendência é que a alta da queda da Selic influencie as taxas cobradas dos clientes bancários. Em outubro, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas somou 40,2% ao ano, o maior nível desde março de 2024 (40,4% ao ano).

▶️ Crescimento da economia: com juros mais altos, a expectativa é de um comportamento mais contido do consumo da população e, também, de mais dificuldades aos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Nos últimos meses, porém, os dados de atividade têm surpreendido positivamente.

▶️ Piora das contas públicas: juros mais altos também desfavorecem as contas públicas, pois aumentam as despesas com juros da dívida pública. Em doze meses, até outubro de 2024, a despesa com juros somou R$ 869 bilhões (7,57% do PIB). Com isso, o endividamento avançou para 78,6% do PIB, patamar alto para países emergentes.

▶️ Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, terão um rendimento maior, com o passar do tempo, do que seria registrado com juros mais baixos. Isso contribui para diminuir a atratividade do mercado acionário.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!