Dólar — Foto: Karolina Grabowska/Pexels
O dólar voltou a fechar em queda nesta quarta-feira (4), à medida que investidores monitoravam eventuais desdobramentos do quadro fiscal brasileiro e repercutiam sinais de desaceleração da economia dos Estados Unidos.
Por aqui, falas do presidente da Câmara dos Deputados. Arthur Lira (PP-AL), e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ficaram na mira do mercado, em meio às expectativas pela aprovação do pacote fiscal. (Entenda mais abaixo)
Além disso, novos números da indústria brasileira também seguiram no radar, após o indicador registrar uma queda de 0,2% em outubro.
Também no cenário interno, uma pesquisa da Quaest com agentes do mercado financeiro mostra que a reprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a 90%.
No exterior, o foco ficou com os novos de atividade nos Estados Unidos.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Ao final da sessão, o dólar recuou 0,13%, cotado a R$ 6,0477. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 0,79% na semana e no mês;
- ganho de 24,63% no ano.
No dia anterior, a moeda caiu 0,21%, cotada a R$ 6,0558.
Ibovespa
Já o Ibovespa encerrou com um recuo de 0,04%, aos 126.087 pontos.
Com o resultado, acumulou:
- avanço de 0,33% na semana e no mês;
- recuo de 6,04% no ano.
Na véspera, o índice encerrou em alta de 0,72%, aos 126.139 pontos.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Sem grandes destaques no noticiário doméstico, o cenário fiscal continuava a fazer preço nos mercados nesta quarta-feira (4). Investidores voltaram as atenções para novas falas de Lira e Haddad, que participaram durante a tarde de um evento promovido pelo portal "Jota", em Brasília.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que a decisão do Supremi Tribunal Federal (STF) de liberar o pagamento de emendas parlamentares afetou o clima na Casa e que, neste momento, o governo não teria votos para aprovar a urgência dos projetos de lei do pacote fiscal. Ainda assim, garantiu que a medida será aprovada nas próximas semanas.
"Temos que tratar esse assunto [pacote fiscal] com toda a seriedade, o que não está sendo fácil, porque tem muitas variáveis que estão acontecendo que não dependem só da vontade do Congresso e não estão ajudando no encaminhamento da sensibilidade política nesse momento", disse.
Já Haddad falou sobre o pacote fiscal anunciado pelo governo na última semana e defendeu que o aumento da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil é uma medida neutra, e não populista.
"Dizem que a reforma da renda é populista, mas ela é neutra do ponto de vista fiscal, como a reforma do consumo é neutra. Não estamos pretendendo arrecadar mais ou menos, mas tributar melhor", afirmou Haddad.
🔎 Ao dizer que a reforma tributária e a reforma do IR são "neutras", Haddad quer dizer que elas não impactam o volume da cobrança de impostos. Ou seja: mudam o formato da cobrança, mas não geram uma taxação maior ou menor que a atual.
Com a capacidade de cumprimento da meta fiscal do governo em voga, também ficou no radar dos investidores uma nova pesquisa Quaest sobre a popularidade do presidente Lula no mercado financeiro.
A pesquisa foi realizada com 105 agentes do mercado e mostra uma piora expressiva na avaliação do governo. A reprovação de Lula disparou para 90%, contra 26% registrados no último levantamento, feito em março.
Outros 3% avaliam o governo Lula como positivo (eram 6% em março) e 7%, como regular (eram 30%).
Para o diretor da Quaest, Felipe Nunes, os números representam um forte alta na reprovação do governo Lula e a reação do mercado financeiro ao pacote de corte de gastos apresentado na semana passada.
Entre os entrevistados, 86% acreditam que Lula está preocupado com sua popularidade e 29%, com o equilíbrio das contas públicas.
A avaliação do Congresso também piorou, segundo Nunes, e uma possível explicação é que o mercado acredita que a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil deve ser aprovada, mas o aumento da tributação para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, não.
No exterior, falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, ficaram no radar. Em um evento durante a tarde, Powell afirmou que o desempenho recente da economia norte-americana permite que o BC do país seja mais criterioso com a trajetória dos cortes de juros.
"A economia está forte e está mais forte do que pensávamos em setembro", disse o banqueiro central, reforçando que a inflação norte-americana também está um pouco acima do esperado.
Powell também disse que não teme que o novo governo de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, possa prejudicá-lo como líder do Fed.
Indicadores econômicos
Na agenda do dia, investidores também repercutiram indicadores econômicos locais e internacionais. Por aqui, a produção industrial brasileira caiu 0,2% em outubro em relação a setembro, interrompendo dois meses consecutivos de alta, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 12 meses, no entanto, a indústria nacional cresceu 3,0%, enquanto no acumulado do ano até aqui, a alta é de 3,4%.
Esses números reforçam a visão de que a economia brasileira segue aquecida, principalmente após a divulgação do PIB do terceiro trimestre na véspera. Nesse caso, o indicador cresceu 0,9% no período em relação aos três meses imediatamente anteriores, segundo dados do IBGE, em linha com o esperado pelo mercado.
Apesar de representar o 13º resultado positivo seguido do indicador em bases trimestrais, o resultado ainda representa uma desaceleração em relação aos meses de abril a junho deste ano, quando a atividade registrou alta de 1,4%.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, os dados "são positivos e indicam revisões para cima nas projeções de crescimento, que ainda não refletiam um avanço de 3% ou mais".
Esse cenário, no entanto, deve contribuir para uma maior pressão da inflação no país e, consequentemente, juros também em patamares mais restritivos.
"Com a revisão do crescimento do PIB de 2023 de 2,9% para 3,2%, o Brasil demonstra um avanço acima de sua média estrutural, o que pode levar o Banco Central a manter condições monetárias mais restritivas no curto prazo", afirma Cruz.
Já no exterior, novos dados de atividade dos Estados Unidos ficaram sob os holofotes. Por lá, o Relatório Nacional de Emprego da ADP indicou que o país criou 146 mil novos postos de trabalho no setor privado em novembro.
O resultado veio abaixo do esperado pelos economistas (150 mil) e representa uma desaceleração em comparação ao mês anterior (184 mil, dado revisado).
Já o setor de serviços norte-americano desacelerou no mês passado, após registrar fortes ganhos nos últimos meses, segundo dados do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM). Ainda assim, o indicador permaneceu acima dos níveis compatíveis com crescimento econômico sólido.
Por fim, as encomendas à indústria dos EUA subiram 0,2% em outubro, após uma queda revisada de 0,2% em setembro. Os dados são do Departamento de Comércio norte-americano.
*Com informações da agência de notícias Reuters