Dólar — Foto: Karolina Grabowska/Pexels
O dólar interrompeu a sequência de altas vista nos últimos dias e encerrou a sessão desta terça-feira (3) em queda, a R$ 6,05, conforme investidores reagiam à divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2024 e ficavam de olho em notícias vindas do exterior.
Por aqui, o PIB registrou uma alta de 0,9% em relação ao trimestre anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio em linha com o esperado pelo mercado financeiro.
Já no exterior, investidores ficam de olho em dados dos Estados Unidos e repercutem falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
Além disso, o mercado também segue atento às notícias internacionais. O foco fica com a Coreia do Sul, após o governo do país ter imposto a lei marcial — que restringe o acesso a direitos civis e substitui a legislação normal por leis militares.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, encerrou em alta.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Ao final da sessão, o dólar recuou 0,21%, cotado a R$ 6,0558. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 0,92% na semana;
- ganho de 0,92% no mês;
- alta de 24,80% no ano.
No dia anterior, a moeda subiu 1,13%, cotada a R$ 6,0685.
Ibovespa
Já o Ibovespa encerrou em alta de 0,72%, aos 126.139 pontos.
Com o resultado, acumulou:
- avanço de 0,38% na semana;
- alta de 0,38% no mês;
- recuo de 6,00% no ano.
Na véspera, o índice encerrou em baixa de 0,34%, aos 125.236 pontos.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Na agenda doméstica, o destaque desta terça-feira ficou com o resultado do 3º trimestre do PIB brasileiro. O indicador cresceu 0,9% no período em relação aos três meses imediatamente anteriores, segundo dados do IBGE, em linha com o esperado pelo mercado.
Apesar de representar o 13º resultado positivo seguido do indicador em bases trimestrais, o resultado ainda representa uma desaceleração em relação aos meses de abril a junho deste ano, quando a atividade registrou alta de 1,4%.
Neste 3º trimestre, a Indústria (0,6%) e o setor de Serviços (0,9%) tiveram altas importantes e compensaram a queda de 0,9% da Agropecuária.
Pelo lado da demanda, todos os itens cresceram. O Consumo das famílias cresceu 1,5%, e o Consumo do governo subiram 0,8%, enquanto os Investimentos tiveram ganho de 2,1% neste trimestre.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, os dados "são positivos e indicam revisões para cima nas projeções de crescimento, que ainda não refletiam um avanço de 3% ou mais".
Esse cenário, no entanto, deve contribuir para uma maior pressão da inflação no país e, consequentemente, juros também em patamares mais restritivos.
"Com a revisão do crescimento do PIB de 2023 de 2,9% para 3,2%, o Brasil demonstra um avanço acima de sua média estrutural, o que pode levar o Banco Central a manter condições monetárias mais restritivas no curto prazo", afirma Cruz.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, compartilha do mesmo ponto de vista e explica: "embora positivo, para mantermos esse ritmo de crescimento de maneira sustentável é necessário que o país tenha ganhos de produtividade, o que não estamos vendo por ora. Esse cenário leva a um aquecimento da economia para além da sua capacidade (hiato positivo) e torna o controle de preços mais desafiador".
Cenário fiscal segue no radar
Além disso, o quadro fiscal do país também seguiu na mira dos investidores. Na véspera, o governo enviou o pacote de cortes de gastos ao Congresso. A expectativa é que as medidas passem pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal ainda neste ano, visando o equilíbrio das contas públicas.
As medidas preveem um corte de R$ 70 bilhões em gastos públicos em 2025 e 2026, chegando a uma contenção de gastos de R$ 327 bilhões até 2030.
Para isso, o pacote traz uma série de mudanças, como por exemplo no salário-mínimo, em programas sociais, na aposentadoria de militares e em emendas parlamentares. O pacote era amplamente esperado pelo mercado, e o total de R$ 70 bilhões em cortes era visto com bons olhos.
No entanto, o anúncio, junto ao pacote de cortes, de uma proposta para isentar pessoas com rendimentos de até R$ 5 mil da cobrança do Imposto de Renda pegou mal e gerou dúvidas sobre a eficácia das medidas de contenção de gastos.
Na última sexta-feira, durante um evento promovido pelo Banco XP, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o pacote fiscal não é o "gran finale" do esforço do governo para o ajuste das contas públicas, destacando que se houver algum desconforto no cálculo do impacto das medidas, a equipe econômica não hesitará em voltar para a mesa de discussão.
"Todo mundo tem que dar sua cota de contribuição para voltarmos ao equilíbrio e ao superávit primário. Não é tarefa só do Executivo", afirmou o ministro. "Temos que convencer o Congresso que as bondades têm que ser compensadas do ponto de vista da despesa", acrescentou.
Também na sexta-feira, declarações dos presidentes da Câmara, Artur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, ajudaram a atenuar o nervosismo entre os investidores. Ambos deixaram claro que a prioridade no Congresso será votar as propostas para cortar gastos e que as discussões sobre mudanças no IR ficarão para depois.
Com o fiscal em foco, novas falas do diretor de política monetária e presidente indicado do Banco Central para 2025, Gabriel Galípolo, também ficaram no radar.
Na segunda-feira, Galípolo afirmou que o cenário econômico atual aponta para uma política monetária "mais contracionista" por parte da instituição, sinalizando "juros mais altos por mais tempo" no Brasil.
O mercado já espera uma nova alta da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontecerá na próxima semana.
Cenário internacional
Por fim, o mercado também seguiu atento a novos dados de atividade dos Estados Unidos, previstos para essa semana. O destaque fica com o payroll, relatório de emprego mais importante do país, que deve sair na sexta-feira (6).
O relatório é considerado crucial para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em sua estratégia de política monetária, já que serve como um termômetro da economia nos EUA.
Nessa toada, falas de dirigentes do Fed também ficam no radar. Na segunda-feira, o diretor da instituição Christopher Waller, disse que está inclinado "no momento" a defender outro corte na taxa de juros neste mês.
O presidente da distrital do Fed de Nova York, John Williams, no entanto, ainda não pôde dizer qual será o próximo passo do banco central.
*Com informações da agência de notícias Reuters.