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Por Alexandro Martello, g1 — Brasília


Pela proposta do governo para o salário mínimo, trabalhador receberia R$ 10 a menos em 2025. — Foto: Freepik

Além de anunciar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também revisou o resultado do ano de 2023, cuja expansão passou de 2,9% para 3,2%

Com o crescimento maior do PIB no ano passado, também deveria subir mais o salário mínimo em 2025. Isso porque, pela fórmula atual de correção, a remuneração básica do trabalhador sobe de acordo com a inflação, calculada em doze meses até novembro do ano anterior, junto com o resultado do PIB de dois anos antes.

Desse modo, considerando a alta do PIB de dois anos antes (2023), e a projeção de inflação oficial do Ministério da Fazenda para o período de doze meses até novembro, que é de 4,66%, o salário mínimo deveria ser elevado para R$ 1.525 a partir de janeiro — com pagamento em fevereiro.

Atualmente, o salário mínimo está em R$ 1.412.

🔎Como o resultado da inflação até novembro ainda não foi divulgada, o valor final do salário mínimo em 2025 ainda não foi fechado. Trata-se de uma estimativa. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de novembro será divulgado pelo IBGE somente na terça-feira da próxima semana (10).

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Limitação do salário mínimo

A medida, se implementada, impede que o crescimento real do salário mínimo, ou seja, acima da inflação, supere 2,5% a cada ano — que é o teto para expansão dos gastos no arcabouço fiscal, a regra para as contas públicas aprovada em 2023.

💵 Assim, o salário mínimo de 2025 seria reajustado para R$ 1.515, representando uma perda de R$ 10 por mês aos trabalhadores e aposentados.

Para ter validade, o novo método de atualização anual do mínimo ainda terá de ser aprovado pelo Congresso Nacional.

Despesa menor em 2025

Com a nova proposta para o salário mínimo, o governo deixará de pagar em aposentadorias e benefícios sociais cerca de cerca R$ 4 bilhões em 2025.

Isso porque, de acordo com cálculos do governo, a cada R$ 1 de aumento do salário mínimo se cria uma despesa de aproximadamente R$ 392 milhões.

Os benefícios previdenciários, entre outros, não podem ser menores que o valor do mínimo.

  • Esse é o valor que aposentados, pensionistas e beneficiados por programas sociais vinculados ao salário mínimo (como o BPC) deixariam de receber nos próximos cinco anos.
  • Isso equivale a um terço da expectativa total de economia de dinheiro público no período: R$ 327,1 bilhões.

Referência para 59,3 milhões de pessoas

De acordo com nota técnica divulgada em dezembro do ano passado, e atualizada em janeiro de 2024 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de referência para 59,3 milhões de pessoas no Brasil.

Além dos trabalhadores que, por contrato, recebem um salário mínimo (ou múltiplos do mínimo), há também as aposentadorias e benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) vinculados ao mesmo valor.

O salário mínimo também gera impactos indiretos na economia, como o aumento do "salário médio" dos brasileiros e a elevação do poder de compra do trabalhador.

Cortes de gastos

Com as propostas de cortes de gastos, incluindo a limitação do valor a ser pago no salário mínimo nos próximos anos, o governo busca conter gastos obrigatórios para tentar manter operante o arcabouço fiscal, a norma para as contas públicas.

A regra geral do arcabouço prevê que o aumento de algumas despesas do governo esteja atrelado ao crescimento das receitas. Além disso, a alta das despesas não pode ser maior do que 2,5% por ano acima da inflação.

Entretanto, alguns gastos têm regras específicas (distintas das do arcabouço) e, por isso, têm apresentado crescimento anual acima dos 2,5% limite para as despesas totais do governo. São eles:

  • aposentadorias dos trabalhadores (vinculadas ao salário mínimo)
  • despesas em saúde e educação
  • emendas parlamentares (indexadas à arrecadação)

A lógica é que, sem o corte de gastos, o espaço para as despesas livres dos ministérios, conhecidos como "gastos discricionários", terminará nos próximos anos.

🔎Entre esses gastos livres, há políticas públicas importantes, como bolsas de estudo, fiscalização ambiental e do trabalho, assim como o farmácia popular.

Por essa lógica, não adianta elevar a arrecadação, como vem fazendo a equipe econômica, para equilibrar as contas. É preciso, necessariamente, cortar gastos obrigatórios.

  • A previsão do Tribunal de Contas da União (TCU) é que, se nada for feito, o espaço para essas políticas importantes para a população acabará nos próximos anos, paralisando a máquina pública.
  • Com o arcabouço fiscal em risco, podendo ser abandonado, deixaria de existir uma regra que controlasse as contas públicas, o que, por sua vez, elevaria mais a dívida do setor público, que já é alta para o padrão dos países emergentes.
  • Isso aumentaria ainda mais os juros futuros, que servem de base para os empréstimos às famílias, para o consumo, e ao setor privado — e também pressionaria para cima a taxa de câmbio (dólar).
  • Essa dúvida sobre as contas públicas, que está sendo chamada pelo mercado financeiro de "risco fiscal", já está cobrando seu preço, com alta do dólar e dos juros futuros.

O próprio Banco Central cita o aumento de gastos em seus comunicados, explicando que isso também pressiona a inflação.

Segundo a instituição, a "percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos [dólar, juros futuros e bolsa de valores] e as expectativas [de inflação]".

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