Os últimos comícios de Kamala e Trump na corrida à Casa Branca
A menos de uma semana para o pleito presidencial dos Estados Unidos, as campanhas de Kamala Harris e Donald Trump tentam suas últimas cartadas para convencer eleitores em estados decisivos, como Georgia, Nevada, Wisconsin e Michigan.
Enquanto nas pesquisas de intenção de voto a democrata e o republicano aparecem tecnicamente empatados, um movimento no mercado de títulos da dívida pública norte-americana (chamados de "Treasuries") sugere que o mercado financeiro aposta que Donald Trump será o vencedor do dia 5 de novembro.
No último mês, as taxas das Treasuries americanas saltaram. Veja abaixo.
- As taxas das Treasuries com vencimento em dois anos saíram de 3,61% para 4,16%;
- Já as taxas dos títulos com vencimento em 10 anos passaram de 3,78% para 4,35%.
Donald Trump e Kamala Harris disputam a eleição presidencial dos EUA em 2024 — Foto: REUTERS/Eduardo Munoz/Nathan Howard
Na prática, isso significa que os investidores estão pedindo um prêmio maior para emprestar dinheiro ao governo dos Estados Unidos. Isso porque a agenda de redução da arrecadação de Trump é vista como o cenário mais provável, o que diminuiria a capacidade do governo em cobrir o pagamento da dívida.
"Os mercados esperam um aumento na dívida pública americana sob qualquer um dos candidatos. Mas sob Trump e as medidas de corte de arrecadação, vemos o avanço da dívida pública ocorrendo em uma escala ainda maior", disse Garrett Melson, da Natixis Wealth Management, à agência Reuters.
Segundo dados do Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), a dívida pública dos Estados Unidos chega aos US$ 35 trilhões, um patamar maior que 100% do Produto Interno Bruto (PIB) gerado pelo país.
Durante o primeiro mandato Trump, o déficit público saltou US$ 7,8 trilhões. Na administração Joe Biden, até o presente momento, o incremento foi de US$ 4,8 trilhões.
Cálculos do CBO ainda apontam que o déficit poderá chegar a US$ 56,4 trilhões até 2034. De acordo com o presidente do Banco Central norte-americano, Jerome Powell, a trajetória fiscal dos Estados Unidos pode ser considerada como "insustentável".
Esse cenário fez com que a Moody's e a Fitch Ratings, duas das três principais agências de crédito, rebaixassem a nota da dívida soberana do país no ano passado.
A despeito do número astronômico, o tema fiscal não vem sendo explorado pelas candidaturas com tanta intensidade quanto a imigração e a estabilidade das instituições democráticas.
A falta de protagonismo do tema fiscal na disputa presidencial pode ter uma razão: o fato dos Estados Unidos serem capazes de refinanciar, constantemente, sua dívida através do dólar, contando com o poder da moeda como reserva mundial de valor.
Mas apesar dos efeitos serem minimizados pela condição especial do dólar, isso não significa que a economia dos Estados Unidos consiga sair totalmente ilesa do crescente déficit. O aumento da inflação e a convivência com juros básicos mais elevados seriam efeitos possíveis ante a expansão fiscal sem controle.
" Com a diminuição dos impostos, a vitória de Trump poderia aquecer a economia, mas também aumentar a inflação, a taxa de juros do BC norte-americano e o risco fiscal", afirmaram os economistas do grupo financeiro europeu Julius Baer.
LEIA MAIS
O impacto das medidas de Harris e Trump no orçamento
Entre as medidas defendidas por Kamala Harris que mais custariam aos cofres públicos dos Estados Unidos está a extensão da isenção de impostos para os americanos que ganham até US$ 400 mil por ano — o que poderia gerar um rombo de US$ 3 trilhões.
O programa de governo da democrata também prevê a expansão de programas sociais para o cuidado de crianças e para famílias de baixa renda, além da inclusão de novos públicos dentro do programa de saúde do governo.
Harris compensaria o impacto do seu programa com a proposta de aumentar a 28% a taxa sobre empresas e ganhos capitais, além de estudar a criação de novas taxas para os mais ricos.
Já entre as medidas defendidas por Donald Trump que mais afetariam o orçamento estão a revogação de impostos sobre gorjetas e horas extras trabalhadas, além da redução do imposto sobre empresas para 15%. Essas medidas, em conjunto, têm a capacidade de reduzir a receita em US$ 3,8 trilhões.
Do lado das despesas, Trump prometeu aumentar o orçamento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, além de investimentos no patrulhamento da fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Seja com Kamala Harris ou Donald Trump na Casa Branca, especialistas ressaltam que o novo presidente não conseguirá, sozinho, aprovar medidas de arrecadação ou corte do orçamento federal.
"Tudo dependerá do resultado das eleições do Congresso", disseram os analistas financeiros do Julius Baer.
Segundo dados do agregador FiveThirtyEight divulgados nesta quinta-feira (31), os republicanos são favoritos para manter o controle da Câmara dos Representantes, onde todos os assentos serão disputados.
E os republicanos podem vencer também no Senado, onde apenas um terço dos assentos estão abertos para disputa. Para isso, o partido de Donald Trump precisaria conquistar duas vagas, se Kamala for eleita, ou uma vaga, se Trump for eleito — o vice-presidente eleito também será o presidente do Senado.