Cédulas de dólar — Foto: Pexels
O dólar fechou em queda nesta terça-feira (6), de volta aos R$ 5,65, em um dia de alívio para os investidores, que gostaram do tom mais duro da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta manhã.
Depois de manter a taxa básica de juros do país em 10,50% ao ano, o Banco Central do Brasil (BC) se mostrou preocupado com a alta do dólar e diz que 'não hesitará' em elevar a Selic se julgar apropriado.
O clima também melhorou no exterior, após um dia de pânico na véspera. As bolsas ao redor do mundo desabaram e o dólar ganhou força com os sinais de que a economia dos Estados Unidos poderia estar caminhando para uma recessão.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
- ENTENDA: Copom endurece discurso, e deixa a dúvida: a Selic pode subir?
- ENTENDA: A cronologia da disparada do dólar motivada pelos juros nos EUA, o cenário fiscal brasileiro e as declarações de Lula
- CONSEQUÊNCIAS: Alta do dólar deve pressionar inflação e impactar consumo das famílias no 2º semestre, dizem especialistas
Dólar
O dólar fechou em queda de 1,48%, cotado a R$ 5,6561. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 0,93% na semana;
- ganho de 0,04% no mês;
- alta de 16,56% no ano.
No dia anterior, a moeda norte-americana teve alta de 0,56%, cotada em R$ 5,7412, renovando o maior patamar desde dezembro de 2021.
Ibovespa
O Ibovespa fechou em alta de 0,80%, aos 126.267 pontos.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
- alta de 0,33% na semana;
- recuo de 1,09% no mês;
- perdas de 5,90% no ano.
Na véspera, o índice fechou em queda de 0,46%, aos 125.270 pontos.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
No Brasil, o destaque deste pregão foi a ata do Copom, que sinalizou que os juros podem voltar a subir caso o Comitê considere necessário para controlar a inflação.
De acordo com o BC, os movimentos recentes dos fatores que contribuem para a dinâmica da inflação, tais como as expectativas de inflação e a taxa de câmbio, com o dólar subindo fortemente nas últimas semanas, foram amplamente debatidos na reunião da semana passada, que manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano.
"Observou-se que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê. Em função disso, o Comitê avaliou que o momento é de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação e de maior vigilância perante um cenário mais desafiador", diz a ata.
Uma expectativa de juros mais altos por mais tempo ou, até mesmo, de uma alta na taxa Selic, impacta diretamente nas projeções de rendimentos dos títulos do Tesouro Direto, que passam a entregar mais rentabilidade.
Isso atrai mais investidores para o país, já que as expectativas são de uma queda nas taxas de juros americanos já na próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Em sua última reunião, também na semana passada, o Fed manteve seus juros inalterados entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas o mercado projeta o início dos cortes já em setembro. Especialistas começam a questionar, inclusive, se a instituição não "dormiu no ponto" quanto ao momento de iniciar os cortes nos juros e como se posicionar em seus comunicados.
Para César Garritano, economista-chefe da SOMMA Investimentos, o Fed foi mais agressivo em sua comunicação e condução dos juros americanos quando não era necessário —e vice-versa. O analista aponta que o Fed projeta apenas um corte de juros para este ano, enquanto o mercado chegou a esperar 1,50 ponto percentual de corte.
"É algo realmente muito fora do que a gente tinha projetado duas semanas atrás, por exemplo", explica Garritano.
Apenas dois dias após a decisão do Fed, dados do mercado de trabalho americano mostraram um desaquecimento e geraram preocupação nos mercados globais sobre a possibilidade de a economia dos EUA passar por uma recessão.
Na última sexta-feira, o payroll, um dos principais relatórios de emprego dos Estados Unidos, reportou 114 mil vagas não agrícolas criadas em julho, bem abaixo das 175 mil vagas que eram esperadas pelo mercado financeiro.
Juros altos encarecem processos de tomada de crédito e financiamento para pessoas e empresas, o que tende a diminuir o consumo da população e frear os investimentos das companhias em seu próprio crescimento — o que pode afetar ainda mais o mercado de trabalho.
Ontem, as bolsas viveram um dia de derretimento em todo o mundo. Nos EUA, os principais índices acionários recuaram cerca de 3%, enquanto Europa, Ásia e Oceania seguiram a mesma tendência. No Japão, a queda foi de 12,40%.
No Japão, as ações despencaram também por conta de uma valorização do iene, a moeda oficial do país. O BC japonês elevou suas taxas de juros pela segunda vez em 17 anos.
A manobra do BC pegou investidores de surpresa. Eles se aproveitavam para pegar dinheiro emprestado a juros baixos no Japão e aplicar em outros países com taxas mais altas. A diferença de juros entre um país e outro dá um lucro garantido para a operação, chamada de "carry trade".
Quando os juros subiram, a vantagem do "carry trade" diminui, e os investidores passaram a vender suas aplicações ao redor do mundo para quitar a dívida no Japão. Assim, o iene ganhou força contra moedas de outros países e as bolsas derreteram.
Nesta terça, porém, o mercado japonês recuperou parte das perdas e disparou 10,23%. Depois de um pregão com quedas tão expressivas, é normal que o mercado realize um movimento conhecido como correção dos preços, em que investidores aproveitam os valores mais baixos de ações para investir por um preço mais atrativo.
Além do Japão, na Ásia e na Oceania a maioria das principais bolsas subiu nesta terça, com exceção de Hong Kong:
- No Taiwan, o índice Taiex subiu 3,38%, depois de uma queda forte de 5,7% na véspera;
- Em Hong Kong, o Hang Seng continuou o movimento de baixa e caiu 0,31%;
- Na Austrália, o S&P/ASX200 avançou 0,41%, contra uma queda de 1,3% ontem;
- Na Coreia do Sul, o Kospi subiu 3,3%, quase igualando as perdas de 3,4% da segunda-feira.
Já na Europa, o índice pan-europeu STOXX 600 fechou em alta de 0,29%, depois de registrar a maior queda em três dias desde junho de 2022, e de fechar abaixo da marca-chave de 500 pontos pelo segundo dia na segunda-feira.
O índice de volatilidade Euro STOXX, conhecido como "medidor de medo", também arrefeceu em relação ao seu nível mais alto desde março de 2022, atingido na segunda-feira, refletindo uma melhora no humor dos investidores.