Por Alexandro Martello, g1 — Brasília


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (14) que as mudanças que estão sendo estudadas no cartão de crédito rotativo – que tem os juros mais caros do mercado – não podem comprometer as vendas do varejo.

"Estamos há uns meses discutindo com os bancos, mas não podemos perder o varejo. Não pode mexer nisso aí, tem que proteger quem está no rotativo. Mas se for comprometer o sistema de vendas que é o padrão hoje...", declarou Haddad, durante entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo.

De acordo com dados do Banco Central, as vendas por meio do cartão de crédito respondem por 40% do consumo no Brasil.

Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que está avaliando alternativas para reduzir a inadimplência nas operações com cartão de crédito rotativo – que ocorre quando o cliente não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte.

  • Na ocasião, ele afirmou que uma possibilidade seria extinguir o rotativo do cartão, acionado automaticamente sobre o saldo devedor e enviar o devedor diretamente para um parcelamento desse saldo – com juros mais baixos.
  • Além disso, o BC também estuda em criar algum tipo de "tarifa" para desincentivar a compra desenfreada no crédito em uma quantidade muito grande de parcelas – o que, com frequência, leva o comprador a perder o controle da própria fatura.
  • Outra alternativa, ainda de acordo com o chefe do BC, seria limitar os juros no cartão de crédito rotativo. Esse cenário, no entanto, poderia levar os bancos a retirarem o crédito de correntistas com "maior risco" de não honrar a fatura, o que prejudicaria o consumo e o varejo.

Campos Neto informou que a proposta do Banco Central para o cartão de crédito rotativo deve ser apresentada nas próximas semanas. Segundo ele, há um projeto de lei ligado ao Desenrola, que está refinanciando dívidas de inadimplentes, que tem um prazo de até 90 dias para ser apresentado.

Banco Central avalia fim do rotativo do cartão de crédito

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PIX crédito pode ser alternativa

Também na semana passada, Campos Neto, do Banco Central, afirmou que a instituição continua trabalhando em novas funcionalidades do PIX, o sistema de transferência de recursos em tempo real, e avaliou que isso poderá ser, no futuro, uma alternativa ao cartão de crédito.

Ainda não há informações detalhadas sobre como funcionaria o PIX na modalidade de crédito, pois o produto ainda não foi oficialmente lançado.

A ideia é autorizar os bancos a oferecerem empréstimos por meio dessa ferramenta - inclusive com parcelamento (como ocorre atualmente com o cartão de crédito).

Julia Duailibi comenta a preocupação do governo com o patamar de juros no cartão de crédito e a inadimplência

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Arrecadação em queda

O ministro Fernando Haddad também afirmou nesta segunda-feira que o corte de juros de 0,5 ponto percentual implementado no começo desse mês pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, para 13,25% ao ano, foi importante para evitar problemas na economia.

"Esse corte de meio (ponto) do ponto de vista técnico, se não viesse, iríamos ter um problema grave na economia. Pois em julho a arrecadação despencou no país inteiro", disse o ministro.

Ele avaliou que essa queda de arrecadação decorre da desaceleração da economia, movimento já captado pelo Banco Central por meio da prévia do PIB - que mostrou desaceleração no segundo trimestre.

"Vínhamos dizendo que não podíamos nos iludir com o PIB do primeiro trimestre, que é agro. Que em abril vai começar desaceleração. Quando saiu o PIB do primeiro trimestre, o pessoal veio me cumprimentar. Eu disse que não era comigo. Não vamos nos iludir, veio a desaceleração e não veio o corte de juros. Período entre abril e julho, foi o momento de maior tensão com o BC. Se não viesse o corte de agosto, eu não sei o que que iríamos fazer", declarou Haddad.

Economistas ouvidos pelo g1 lembram que o corte de juros melhora as contas públicas brasileiras ao gerar uma economia nos gastos com juros. Isso possibilitar um crescimento menor na dívida pública brasileira. O cálculo é que os cortes de juros podem gerar uma economia de R$ 100 bilhões em 2024.

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