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Por André Catto, g1


Gabriel Galípolo, indicado para cargo na diretoria do BC, foi sabatinado por senadores nesta terça (4) — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

O Senado aprovou nesta terça-feira (4) a indicação de Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, para diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil. O nome escolhido pelo governo Lula (PT) foi aceito por 39 votos a 12.

Considerado um economista heterodoxo moderado, o ex-número 2 do ministro Fernando Haddad (Fazenda) toma posse em meio a um forte atrito entre a cúpula do governo federal e o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um dos principais críticos à política econômica de Campos Neto à frente do BC é o próprio presidente Lula. O conflito está centrado justamente na taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano — patamar considerado alto e que, segundo afirmações reiteradas do petista, atrapalha o crescimento do país.

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Economistas ouvidos pelo g1 acreditam que Galípolo será uma espécie de mediador entre política fiscal e monetária, além de defensor da queda da Selic — mas não necessariamente um "nome da bancada do PT" na instituição.

Para Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec-RJ, Galípolo tem as qualificações necessárias para ocupar a diretoria do BC.

"Creio que, como ele mesmo pontuou, irá fazer o 'meio de campo' entre a política fiscal e a monetária. O ministro Haddad vem falando sobre essa harmonia entre o fiscal e monetário o tempo todo. Uma vez que Galípolo participou da equipe da Fazenda — sendo um dos responsáveis pela formulação do novo arcabouço fiscal — , ele pode colaborar nessa tarefa", afirma.

O economista acredita que Galípolo tende a ser um grande defensor de quedas mais rápidas e fortes da Selic. "Irá me surpreender muito se não for assim."

Para o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a leitura de que Galípolo será um "nome da bancada do PT" no Banco Central não se sustenta.

"Durante a campanha, quando Lula se aproximou de Galípolo, o economista era visto como um elo entre o presidente da República — à época, candidato — e o mercado financeiro. Era um aceno do PT ao mercado financeiro, diz Galhardo.

Galípolo foi presidente do Banco Fator, instituição com tradição em programas de privatização e parcerias público-privadas (PPPs), de 2017 a 2021. Saiba mais sobre o perfil do ex-número 2 de Haddad.

"Vejo a escolha [de Galípolo] com bons olhos. É um economista do mercado financeiro, mas que tem uma visão da importância da política monetária sobre o desenvolvimento econômico e dos impactos das decisões sobre as demais variáveis. Então, acho um bom nome e que representa equilíbrio", conclui.

Galhardo acredita que o novo diretor do BC não terá influência direta nas decisões do Conselho de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juros. Mas considera que o fato de ele ser o possível sucessor de Campos Neto pode, supostamente, dar mais peso às suas opiniões entre os membros do conselho.

"Talvez o primeiro corte da Selic, que deve ocorrer em agosto, coincida com a chegada dele. Mas isso está longe de ser influência do Galípolo", diz. "Essa seria uma leitura retórica. O BC já tem poucos argumentos para manter a taxa de juros a 13,75% ao ano. Então, é uma decisão tardia, mas que deve ocorrer".

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, relembra as críticas ao nome de Galípolo após sua indicação à autoridade monetária.

Um dos pontos que desagradou o mercado, diz, foi a falta de experiência do economista em mesa de operações (onde são negociados ativos do mercado financeiro), já que a política monetária está bastante atrelada a essa atividade.

"Ele, no entanto, vai estar muito bem assessorado no BC por técnicos de carreira, que acompanham isso há muitos anos", diz. "Então, acho que aquela crítica foi momentânea."

Agostini também acredita que Galípolo será o mediador da relação entre a autoridade monetária e governo federal.

"Ele acaba sendo, naturalmente, um ponto de equilíbrio entre a postura mais austera [rígida] do Banco Central e aquilo que o governo deseja", afirma. "Não significa, portanto, que ele irá sempre na mesma direção das vontades do governo."

O economista-chefe da Austin Rating reforça ainda que, apesar das possíveis mudanças de cenário até o próximo ano, são grandes as chances de que Galípolo assuma a presidência do BC em 2024, quando se encerra o mandato do atual presidente da instituição.

"Vale lembrar que ele tem uma boa relação com o Campos Neto. Eu acho que, se essa sucessão ocorrer, vai ser bastante tranquila e moderada", diz.

Alexandre Espirito Santo, da Órama, relembra que o perfil da diretoria do BC vem oscilando muito a cada governo.

"Alguns são professores, com grande reputação no meio acadêmico. Outros são mais operacionais, de origem no mercado financeiro", explica. "E, outros, um meio-termo — o que vejo com bons olhos."

Outro ponto que preocupa parte do mercado, segundo o economista, é que Galípolo seria alinhado à Teoria Monetária Moderna (MMT, na sigla em inglês). Trata-se de uma escola de pensamento econômico que não enxerga restrições para gastos do governo caso o BC seja o emissor da sua moeda — e desde que hajam algumas condições.

"Galípolo, contudo, negou que sua orientação econômica seja por aí. É algo a se observar", conclui.

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