Imagens de lâmpadas e conta de luz na região de São Paulo (SP); queda do preço da energia elétrica foi destaque do IPCA-15 de maio — Foto: WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) – considerado uma prévia da inflação oficial do país – ficou em 0,59% em maio, após ter registrado taxa de 1,73% em abril, segundo divulgou nesta terça-feira (24) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar de ter desacelerado frente a abril, foi o maior índice para meses de maio desde 2016 (0,86%).
O resultado veio um pouco acima do esperado. A mediana das estimativas de 35 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data era de 0,45%, com intervalo de 0,29% a 0,70%.
Em 12 meses, o IPCA-15 passou a acumular alta de 12,20%, contra o 12,03% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. No ano, os preços ao consumidor subiram em média 4,93%.
Com o resultado de maio, já são 9 meses seguidos com a inflação anual rodando acima dos dois dígitos.
A taxa de 12,20% em 12 meses é a maior inflação anual no país desde novembro de 2003, quando ficou em 12,69%.
Queda da energia elétrica é a boa notícia
Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram aumento nos preços, exceto habitação (-3,85%), influenciado pela queda de 14,09% na energia elétrica.
Em 16 de abril, passou a vigorar a bandeira verde, em que não há cobrança adicional na conta de luz, após seis meses de bandeira “Escassez Hídrica”, com acréscimo de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos. Desde setembro do ano passado, estava em vigor a bandeira de Escassez Hídrica, que acrescentava R$14,20 a cada 100Kwh consumidos.
Já as maiores pressões do IPCA-15 de maio vieram da alta dos custos do grupo Transportes (1,80%), que desaceleraram em relação a abril (3,43%), assim como aconteceu com Alimentação e bebidas (1,52% em maio frente aos 2,25% do mês anterior).
Veja a inflação de maio para cada um dos grupos
- Alimentação e bebidas: 1,52%
- Habitação: -3,85%
- Artigos de residência: 0,98%
- Vestuário: 1,86%
- Transportes: 1,80%
- Saúde e cuidados pessoais: 2,19%
- Despesas pessoais: 0,74%
- Educação: 0,06%
- Comunicação: 0,50%
Quanto às regiões, todas as áreas pesquisadas tiveram alta em maio. A maior variação ocorreu em Fortaleza (1,29%), e a menor foi verificada em Curitiba (0,12%).
Vilões do mês
Dentre os itens e subitens de maior impacto no índice do mês, destaque para as altas dos remédios (5,24%), produtos de higiene pessoal (3,03%), passagem aérea (18,40%), gasolina (1,24%) e etanol (7,79%).
Segundo o IBGE, o item de maior influência na inflação de maio foi produtos farmacêuticos, com aumento de 5,24% nos preços e impacto de 0,17 ponto percentual no IPCA-15, registrado após o reajuste de até 10,89% autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Nos alimentos, as altas de maior impacto na inflação foram as do leite longa vida (7,99%) e da batata-inglesa (16,78%). Também foram registradas altas em outros alimentos importantes na cesta de consumo dos brasileiros, como a cebola (14,87%) e o pão francês (3,84%). No lado das quedas, destaque para a redução nos preços das frutas (-2,47%), do tomate (-11%) e da cenoura (-16,19%).
Nos transportes, além da nova alta nos combustíveis (2,05%), também merece destaque os aumentos do diesel (2,15%) do seguro de veículo (3,48%) e do táxi (5,94%)
No grupo de habitação, houve aumento de 0,81% no gás encanado e de 0,55% na taxa de água e esgoto (0,55%). Já preço do gás de cozinha recuou 0,02%.
O IPCA-15 é considerado uma prévia do indicador oficial de inflação do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado com base em uma cesta de consumo típica das famílias com rendimento entre um e 40 salários mínimos, abrangendo nove regiões metropolitanas, além de Brasília e do município de Goiânia. A diferença em relação ao IPCA está no período de coleta e na abrangência geográfica.
Para de Felipe Sichel, economista-chefe do banco Modal, a composição do IPCA-15 de maio foi extremamente desfavorável.
"A queda expressiva na energia elétrica não foi capaz de atenuar as fortes elevações de itens subjacentes, ampliando os riscos de que tenhamos inflação elevada por mais tempo. Além disso, observamos aceleração dos serviços intensivos em trabalho, com tendência de alta dada a projeção mais forte para a atividade econômica", afirmou o analista.
Inflação acima da meta pelo 2º ano seguido
A média das expectativas do mercado para a inflação fechada de 2022 está atualmente em 7,89% segundo a última pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central. Mas parte dos analistas já projeta uma inflação mais perto de 9%.
Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%. O próprio Banco Central já admitiu, entretanto, que a meta de inflação deve superar pelo 2º ano seguido o teto da meta.
Para tentar trazer a inflação de volta para a meta, o Banco Central tem feito um maior aperto monetário. A taxa básica de juros (Selic) está atualmente em 12,75% e o BC sinalizou que caminha para elevar mais os juros.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o "inferno" da inflação já passou. O governo, porém, aumentou a estimativa de inflação para este ano, passando de 6,55% para 7,9%.
Para 2023, a projeção do Ministério da Economia para a inflação subiu de 3,25% para 3,60%. Para o próximo ano, a meta foi fixada em 3,25% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
Inflação global: veja os efeitos da alta de preços pelo mundo