A guerra na Ucrânia, iniciada pela Rússia na quinta-feira passada (24), pode trazer consequências diretas para a economia brasileira.
Além de reflexos no preço do petróleo e dos alimentos, que devem gerar inflação no Brasil, o governo tem demonstrado especial preocupação com o impacto da guerra no setor agrícola.
Esse temor ocorre porque a Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes. Cerca de 30% de tudo o que o Brasil compra desse produto no exterior vem de lá.
Em fevereiro, antes da invasão russa à Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com Vladimir Putin, em Moscou, para discutir, entre outros assuntos, o fornecimento de fertilizantes a produtores brasileiros.
Depois que a Rússia deu início à guerra, Bolsonaro, apesar de pressões dentro e fora do país, tem evitado condenar a invasão justificando os prejuízos que isso pode trazer à economia brasileira.
Valdo: Bolsonaro teme que sanções à Rússia prejudiquem o Brasil
Segundo o Blog do Valdo Cruz, diplomatas brasileiros também têm demonstrado temor de que as sanções financeiras impostas à Rússia por potências como EUA, Inglaterra, França e Alemanha inviabilizem a importação de fertilizantes e de trigo pelo Brasil.
No ano passado, a Rússia exportou US$ 5,7 bilhões em produtos para o Brasil, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. O valor mais do que dobrou em relação a 2020 (US$ 2,7 bilhões).
Com isso, a Rússia alcançou o posto de sexto maior exportador para o Brasil no ano passado.
Entretanto, esses US$ 5,7 bilhões correspondem a 12% do total comprado da China, nosso maior parceiro comercial (US$ 47,6 bilhões); e a 14,5% do exportado pelos EUA, o segundo maior parceiro, ao Brasil (US$ 39,4 bilhões).
Dos US$ 5,7 bilhões vendidos para o Brasil em 2021, US$ 3,5 bilhões (61,4%) foram em adubos e fertilizantes químicos. A Rússia responde, ainda, por cerca de 31% do total de adubos e fertilizantes comprados pelo Brasil.
Já o Brasil vendeu US$ 1,6 bilhão em produtos para os russos em 2021, o que colocou o país comandado por Vladimir Putin como o 36º colocado no ranking de exportações brasileiras.
Veja a lista dos principais produtos comercializados entre Brasil e Rússia:
Exportações do Brasil para Rússia:
- soja, mesmo triturada – US$ 343,3 milhões, 0,89% do total exportado;
- carnes e miudezas comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas, das aves da posição –US$ 167,2 milhões, 2,40% do total exportado;
- café, mesmo torrado ou descafeinado; cascas e películas de café; sucedâneos do café contendo café em qualquer proporção – US$ 132,8 milhões, 2,28% do total exportado;
- amendoins não torrados nem de outro modo cozidos, mesmo descascados ou triturados – US$ 129,7 milhões, 39,25% do total exportado;
- açúcares de cana ou de beterraba e sacarose quimicamente pura, no estado sólido – US$ 127 milhões, 1,38% do total exportado.
- Bulldozers, angledozers, niveladoras, raspo-transportadoras (scrapers), pás mecânicas, escavadoras, carregadoras e pás carregadoras, compactadores e rolos ou cilindros compressores, autopropulsores – US$ 51,4 milhões, 2,26% do total exportado.
Exportações da Rússia para o Brasil:
- adubos (fertilizantes) minerais ou químicos – US$ 3,5 bilhões, 31% do total exportado;
- hulhas (carvão negro); briquetes, bolas e combustíveis sólidos semelhantes, obtidos a partir da hulha – US$ 480,1 milhões, 17,33% do total exportado;
- óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, exceto óleos brutos – US$ 432, 7 milhões, 3,22% do total exportado;
- produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado – US$ 368,2 milhões, 60,45% do total exportado;
- alumínio em formas brutas – US$ 142,8 milhões, 9,60% do total exportado.
A Ucrânia, por sua vez, tem menor destaque na balança comercial brasileira. O Brasil vendeu US$ 227 milhões para o país em 2021, e importou US$ 211 milhões em produtos.
As vendas para a Ucrânia respondem por 0,08% do total exportado pelo Brasil no ano passado. Já as importações equivalem a 0,09% do total.
Apesar do volume total modesto, a Ucrânia é o principal fornecedor para o Brasil de ferro fundido bruto e de uma liga chamada ferro especular.
No ano passado, 99,76% desse tipo de produto foi importado da Ucrânia, movimentado US$ 11,7 milhões.
Veja a lista dos principais produtos comercializados entre Brasil e Rússia:
Exportações do Brasil para a Ucrânia:
- amendoins não torrados nem de outro modo cozidos, mesmo descascados ou triturados – US$ 29,2 milhões, 8,83% do total exportado;
- açúcares de cana ou de beterraba e sacarose quimicamente pura, no estado sólido – US$ 25,2 milhões, 0,27% do total exportado;
- minérios de alumínio e seus concentrados – US$ 24,5 milhões, 13,30% do total exportado;
- aparelhos mecânicos (mesmo manuais) para projetar, dispersar ou pulverizar líquidos ou pós; extintores, mesmo carregados; pistolas aerográficas e aparelhos semelhantes; máquinas e aparelhos de jacto de areia, de jacto de vapor e aparelhos de jacto semelhantes – US$ 21,9 milhões, 6,80% do total exportado;
- extratos, essências e concentrados de café, chá ou de mate e preparações à base destes produtos ou à base de café, chá ou de mate; chicória torrada e outros torrados do café e respectivos extratos, essências e concentrados – US$ 21,6 milhões, 3,96% do total exportado.
Exportações da Ucrânia para o Brasil
- produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado – US$ 45,3 milhões, 7,44% do total exportado;
- polímeros de cloreto de vinilo – US$ 41,3 milhões, 3,99% do total exportado;
- produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600 mm, laminados a quente, não folheados ou chapeados, nem revestidos – US$ 23,1 milhões,9,30% do total exportado;
- fio-máquina de ferro ou aço não ligado – US$18,5 milhões, 9,06% do total exportado;
- medicamentos (exceto os produtos das posições 3002, 3005 ou 3006) constituídos por produtos misturados ou não misturados, preparados para fins terapêuticos ou profilácticos, apresentados em doses – US$ 14,7 milhões, 0,39% do total exportado.