O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve promover nesta quarta-feira (30) o segundo corte seguido na taxa básica de juros, de 14% para 13,75% ao ano. Essa é a expectativa da maior parte dos economistas consultados pelo BC na semana passada, em pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras.
Em outubro, o BC realizou o primeiro corte na Selic em quatro anos. Naquele momento, a taxa passou de 14,25% para 14% ao ano.
Apesar de ainda apostarem em nova redução da Selic nesta quarta, os economistas reduziram, nas últimas semanas, a previsão para o tamanho do corte: de 0,50 para 0,25 ponto percentual. O motivo foi a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, que espalhou incertezas nos mecados, gerou alta do dólar e queda da bolsa nas economias emergentes.
Série de cortes
A estimativa dos economistas de bancos é de que o Copom, que se reúne a cada 45 dias, continuará a reduzir a Selic nos próximos meses, chegando a 10% ao ano em abril de 2018.
O aumento dos juros, ou sua manutenção em um patamar elevado, é o principal mecanismo usado pelo BC para frear a inflação, que tem mostrado resistência. O objetivo é encarecer o crédito e reduzir o consumo no país.
Porém, os juros altos prejudicam a atividade econômica e, consequentemente, inibem a geração de empregos. Quando o Banco Central julga que a inflação está compatível com as metas preestabelecidas, pode baixar os juros.
O Banco Central toma as decisões sobre a taxa de juros olhando para a frente e tendo como objetivo cumprir as metas de inflação previstas pelo sistema em vigor no país.
Para 2016, 2017 e 2018, a meta central é de inflação em 4,5%. Entretanto, o sistema prevê um piso e um teto, que é de inflação em 6,5%, em 2016, e em 6% em 2017 e 2018.
Isso significa que se a inflação deste ano, por exemplo, superar o alvo central de 4,5% mas ficar abaixo de 6,5%, o BC terá cumprido a meta. Isso, entretanto, não deve acontecer. O mercado estima um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6,72% para 2016.
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Cenário econômico
A vitória de Trump fez o dólar se valorizar na maioria dos países emergentes, incluindo o Brasil. Esse é um fator que pode pressionar a inflação no país, pois dólar mais alto encarece os produtos e insumos importados. Nos últimos dias, a moeda tem oscilado ao redor de R$ 3,40.
Entretanto, cresceu nas últimas semanas a percepção de que a economia brasileira vai demorar mais para se recuperar - fator que atua em sentido inverso, contribuindo para atenuar as pressões inflacionárias.
Para este ano, os analistas intensificaram suas previsões de queda do Produto Interno Bruto (PIB) - que está ao redor de 3,5% para este ano - e revisaram para baixo suas previsões de crescimento em 2017, que já estão abaixo de 1%. No ano passado, o PIB registrou um tombo de 3,8%, o maior em 25 anos.
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o ambiente político se deteriorou fortemente nos últimos dias e a agenda para as últimas semanas do ano "não é nada favorável".
"Ademais, fica claro que a PEC do teto se deve em grande parte à estratégia de criar mais pressão sobre a reforma da Previdência", avaliou em comunicado. Ele observou que as expectativas para a economia pioraram de "maneira relevante, assim como a atividade corrente".
"Somando tudo, há argumentos para acelerar o ritmo de queda da Selic, assim como há argumentos para manter o andamento de 0,25 p.p. [ponto percentual]. Entendemos que a cautela vai levar o Copom a manter [o ritmo e baixar a Selic para 13,75% ao ano]", acrescentou Gonçalves.
Segundo economistas, a queda dos juros poderá ajudar na recuperação da economia brasileira – que atravessa a maior recessão de sua história – por meio do aumento da confiança dos investidores, do recuo dos juros bancários e poderá resultar em menos pressões de alta do dólar – contribuindo para impedir a volta da inflação no futuro. Além disso, também resultará em pagamento menor de juros pelo setor público.