26/07/2016 08h42 - Atualizado em 26/07/2016 10h43

Para Copom, queda da inflação está com velocidade 'aquém da almejada'

Inflação requer uma 'persistência maior' da política de juro, afirmou o comitê.
BC trabalha para trazer inflação para a meta central de 4,5% em 2017.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado responsável por fixar os juros básicos da economia, avaliou, por meio da ata de sua última reunião, que o processo de queda da inflação no Brasil "tem procedido em velocidade aquém da almejada" e acrescentou que o "balanço de riscos" indica não haver espaço para corte de juros.

Na semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros da economia estável em 14,25% ao ano, o maior patamar em dez anos na reunião foi a primeira comandada pelo novo presidente do BC, Ilan Goldfajn. O BC tem informado que que buscará atingir a meta central de inflação de 4,5% em 2017 - o que, segundo analistas, pressupõe um atraso maior no processo de queda dos juros.

"Alguns membros do Comitê esperam que os efeitos desinflacionários do nível de ociosidade na economia ainda possam vir a se manifestar de maneira mais intensa", acrescentou o Copom, por meio da ata de sua última reunião, divulgada nesta terça-feira (26).

O Banco Central também avaliou, no documento, que "há riscos de curto prazo para a inflação no Brasil". "A elevação recente nos preços de alimentos pode se mostrar persistente, dado o processo de transmissão dos preços do atacado para o varejo. Em contrapartida, o período sazonalmente favorável pode contribuir para uma reversão rápida desses preços", acrescentou.

A taxa de juros é o principal mecanismo usado pelo BC para controlar a inflação. Ao subir os juros ou mantê-los elevados, o BC encarece o crédito. O objetivo é reduzir o consumo no país para conter a inflação que tem mostrado resistência. Entretanto, os juros altos prejudicam a atividade economica e, consequentemente, inibem a geração de empregos.

Persistência da inflação
O Banco Central também observou, na ata da última reunião, que "períodos prolongados de inflação alta e expectativas acima da meta, como na experiência brasileira recente, tendem a reforçar mecanismos inerciais [de carregamento da inflação passada para o presente e futuro] e tornar o processo de desinflação mais lento e custoso".

"Nesse contexto, uma maior persistência inflacionária requer uma persistência maior da política monetária [de definição dos juros para conter as pressões inflacionárias]", explicou o Banco Central.

Acrescentou que, por outro lado, o processo contínuo de "distensão do mercado de trabalho" (aumento do desemprego) e a "desaceleração significativa da atividade econômica" (forte recessão) podem, a princípio, produzir uma "desinflação mais rápida (por exemplo, no setor
de serviços) do que a refletida nas expectativas de inflação medidas pela pesquisa Focus e nas projeções condicionais produzidas pelo Copom".

Expectativas para o IPCA
O Copom lembrou que a previsão do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano está em 7,25%, bem acima da meta central de 4,5% e também superior ao teto de 6% do sistema de metas para este ano, e que a estimativa para 2017 estava por volta de 5,3% - também acima do objetivo central de 4,5% fixado para o ano que vem.

"O Comitê deve procurar conduzir a política monetária [de definição dos juros para conter a alta dos preços] de modo que suas projeções de inflação, inclusive no cenário de mercado, apontem inflação na meta nos horizontes relevantes [cerca de 24 meses]", informou o Banco Central, por meio da ata do Copom.

Ajuste nas contas públicas
A autoridade monetária avaliou também que o "processo de implantação dos ajustes necessários na economia", inclusive de natureza fiscal (por meio do controle de gastos públicos), apresenta-se, ao mesmo tempo, como um "risco e uma oportunidade para o processo desinflacionário [queda da inflação] em curso".

"Os riscos se apresentariam caso houvesse percepção de que os ajustes seriam abandonados, ou postergados significativamente. Nesse cenário, o processo desinflacionário tenderia a ser mais lento, aumentando os custos de levar a inflação para a meta", avaliou o Copom, por meio da ata de sua última reunião.

Por outro lado, acrescenta o Banco Central, os ajustes necessários na economia "podem ser aprovados e implementados de forma mais célere [rápida], permitindo ganhos de confiança e queda das expectativas de inflação". Acrescenta que, nesse caso, a "redução de incertezas potencializaria os efeitos do ajuste monetário [alta do juro para conter a inflação] em curso".

Para tentar reequilibrar as contas públicas, o governo propôs ao Congresso Nacional a instituição de um teto para os gastos públicos nos próximos 20 anos, que poderiam avançar somente de acordo com a variação da inflação do ano anterior. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não tem descartado subir tributos para tentar melhorar as contas públicas.

"Todos os membros do Comitê enfatizaram que a continuidade dos esforços para aprovação e implementação dos ajustes na economia, notadamente no que diz respeito a reformas fiscais, é fundamental para facilitar e reduzir o custo do processo de desinflação", avaliou o Copom, por meio da ata de seu último encontro.

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