07/05/2015 19h38 - Atualizado em 30/10/2015 16h11

Entenda por que o governo precisa fazer o ajuste fiscal em 2015

Para sair do vermelho, país precisa cortar gastos e aumentar impostos.
Medidas que impõem 'sacrifício' encontraram resistência no Congresso.

Taís LaportaDo G1, em São Paulo

Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, após participar de seminário no dia 22 de setembro.  (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, após seminário no dia 22 de setembro. (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

No ano passado, o governo gastou bem mais do que arrecadou. Fechou no vermelho, criando o maior rombo nas contas públicas da história. Não sobrou dinheiro nem para pagar os juros da sua dívida pública – o chamado superávit primário, uma espécie de garantia de que o país não dará calote nos credores.

Os gastos do governo em 2014 mais que triplicaram em relação às receitas – todo o dinheiro arrecadado com impostos e outras fontes. Pela primeira vez desde 2009, houve queda na arrecadação total de impostos. 

 

Para tentar salvar as finanças do governo em 2015, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu arrumar as contas até o fim do ano. Criou então a ambiciosa meta de um superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 66,3 bilhões.

Mas essa conta precisou ser revisada devido à piora das projeções para o PIB de 2015. Em julho, o governo reduziu a meta de superávit para 0,15% do PIB.

Três meses depois, o governo cortou novamente a meta fiscal de 2015, dessa vez para um déficit primário de R$ 51,8 bilhões, o equivalente a cerca de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB), – mas admitiu um rombo recorde de R$ 117,9 bilhões. Esse valor considera o abatimento de até R$ 55 bilhões das chamadas "pedaladas fiscais" (pagamentos atrasados a bancos públicos).

O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que o governo deverá revisar novamente para baixo a meta fiscal de 2015 – algo que o mercado financeiro já dava como certo.


 

Por que o governo gastou mais do que arrecadou em 2014?
Além das despesas maiores em ano eleitoral, a União precisou socorrer o setor energético, prejudicado pela falta de chuvas. Também pagou mais caro para segurar os reajustes na conta de luz e nos combustíveis, que só ocorreram este ano. Além disso, a atividade da indústria e do comércio começou a encolher, e alguns setores passaram a pagar menos impostos, reduzindo a arrecadação do governo. Tudo isso enxugou bastante as receitas, e a conta fechou no vermelho.


Quais os efeitos do rombo nas contas públicas?
Alguns foram imediatos. A dívida bruta do país ficou maior: passou de 56,7% para 63,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o problema foi além. Como o governo não conseguiu colocar “a casa em ordem” ao longo do ano, a agência Standard and Poor's retirou o chamado grau de investimento do Brasil, um selo de qualidade que garante aos investidores que o país tem baixo risco de dar calote.

A nota do país foi rebaixada de "BBB-" para "BB+", com perspectiva negativa. Na prática, alguns fundos de investimento são obrigados a retirar seu dinheiro de países sem esse selo de "bom pagador".


O que é a meta fiscal e por que ela foi reduzida?
A meta de superávit primário é o montante que o governo precisa economizar, a cada ano, para pagar os juros de sua dívida pública. Para fazer essa economia, o setor público precisa gastar menos do que arrecada. Quando isso acontece, as contas públicas têm superávit.

Quando assumiu o ministério da Fazenda no início do ano, Joaquim Levy fixou uma meta de superávit primário de R$ 66,3 bilhões, o equivalente a 1,19% do PIB. Mas em julho, diante de uma queda drástica na arrecadação e da piora nas projeções para o PIB de 2015, o governo reduziu a meta para R$ 8,7 bilhões, ou o equivalente a 0,15% do PIB. O Congresso ainda não aprovou essa mudança.


Como o ajuste fiscal pretende equilibrar as contas do governo?
Na prática, o “aperto” consiste em duas ações: cortar despesas do governo (como gastos da Previdência Social e o Orçamento da União, que cuida, por exemplo, da folha de pagamento dos servidores) e elevar a arrecadação (pelo aumento de impostos e demais receitas).

Ao assumir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy prometeu arrumar as contas públicas até o fim deste ano. Mas de lá para cá, deparou-se com uma série de resistências no Congresso e setores empresariais contra o aumento de tributos. Na outra ponta, gastos obrigatórios por lei dificultam o corte de despesas para este ano – dificultando ainda mais o cumprimento da meta

O ajuste fiscal chegou a ser chamado de “saco de maldades”, mas Levy deixou claro que esse seria o único caminho para retomar o crescimento e evitar o pior.


Quais medidas o governo adotou até agora?
O governo tenta emplacar medidas provisórias (MP) e projetos de lei para viabilizar o ajuste fiscal. Apesar de ter implantado algumas delas, como a redução de benefícios previdenciários (que afeta contribuintes e assalariados) e cortes nas desonerações da folha de pagamento de alguns setores (voltando atrás nas políticas de incentivo a empresas), o governo ainda enfrenta a resistência do Congresso para aprovar algumas das propostas, enquanto tenta barrar a chamada "pauta-bomba", com projetos de lei que preveem o aumento de gastos públicos. Veja as medidas aqui.


O governo conseguiu arrecadar mais recursos este ano?
Apesar de medidas como o aumento de tributos da gasolina e redução do IPI para automóveis, a arrecadação registrou o pior desempenho para o mês de agosto dos últimos cinco anos. Segundo a Receita Federal, o governo arrecadou R$ 93,7 bilhões – uma queda real de 9,32% sobre o mesmo mês de 2014. Já no acumulado dos oito primeiros meses do ano, a arrecadação foi de R$ 805,81 bilhões – com queda real de 3,68% frente ao mesmo período do ano passado. Este também foi o pior resultado para este período desde 2010.

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