Diante de uma possível recessão técnica na economia brasileira no fim do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por reduzir o ritmo de alta da taxa básica da economia brasileira - que subiu 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, nesta quarta-feira (26).
Nos seis últimos encontros do Copom, os juros haviam avançado mais fortemente: 0,5 ponto percentual por reunião. Com a decisão de hoje, que representou a oitava alta seguida na taxa Selic, o BC também confirmou a expectativa da maior parte dos economistas do mercado.
A nova elevação também levou a taxa básica da economia brasileira ao maior patamar desde o fim de 2011 - quando estava em 11% ao ano. O nível de 10,75% ao ano também é o mesmo valor do início do mandato da presidente Dilma Rousseff, em 2011.
Deste modo, todo corte dos juros feito pelo BC, comandado por Alexandre Tombini (a taxa chegou à mínima histórica de 7,25% ao ano entre outubro de 2012 e abril do ano passado), foi "devolvido" nos últimos meses. A taxa básica da economia vem subindo desde abril de 2013 para conter pressões inflacionárias.
A expectativa dos economistas dos bancos é de que a elevação dos juros de hoje não seja a última deste ano. A previsão é de que aconteçam dois novos aumentos em 2014, sendo que o primeiro aconteceria em abril, para 11% ao ano, e outro em dezembro, para 11,25% ao ano.
Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,25 p.p., para 10,75% a.a., sem viés".
Metas de inflação
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para 2014 e 2015, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Nos quatro últimos anos, o IPCA oscilou ao redor de 6% - distante da meta central de 4,5% e mais próximo do teto do sistema de metas de 6,5%. Em 2010, a inflação somou 5,91%, passando para 6,5% em 2011, para 5,84% em 2012 e para 5,91% no ano passado. Para 2014, a expectativa dos analistas do mercado financeiro é de que o IPCA some 6%.
Cenário econômico
O cenário econômico é considerado complicado por economistas. Dados do próprio BC apontam para desaceleração da atividade econômica no fim do ano passado - o que poderia atuar para conter as pressões inflacionárias. Mesmo assim, as estimativas dos analistas são de que a inflação continuará pressionada neste ano, rondando o patamar de 6%.
"A recessão bate à porta, ocasionada pelo impacto da produção em baixa e da previsão de crescimento do PIB [de 2014] em torno de 1,8%. A situação só não é pior porque ainda temos um bom índice de empregabilidade", avaliou o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM), Reginaldo Gonçalves.
"Não vejo um ano fácil [para a inflação]. Se o BC esmorecer agora, corre um grande risco de passar algum calafrio para cumprir essa meta [inflação de até 6,5% em 2014]", avaliou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Segundo ele, os preços administrados (como energia elétrica), além de alimentos e dos serviços, tendem a continuar pressionando os índices de inflação neste ano.
O professor da Trevisan, Alcides Leite, avalia que últimas medidas do governo (cortes de gastos) contribuíram para o aumento menor da taxa básica de juros. "Antes estimado em 0,5% pelo mercado, com as medidas, cria-se o cenário para aumento de 0,25%”, afirmou ele.
Juros reais mais altos do mundo
Com a decisão desta quarta-feira do Copom de subir os juros básicos para 10,75% ao ano, o Brasil disparou na primeira posição no ranking mundial de juros reais (com 4,48% ao ano) feito pelo MoneYou. Os juros reais são calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses. Em segundo e terceiro lugares, aparecem a China (3,41% ao ano) e a Turquia (3,09% ao ano). A taxa média de juros real em 40 países pesquisados está negativa em 1,1% ao ano.