Magnata Rupert Murdoch, em imagem de 2009. — Foto: Reuters
O empresário Rupert Murdoch anunciou nesta quinta-feira (21) que deixará o cargo de presidente da Fox Corporation e da Fox News. Ambas as posições em seu império de mídia serão ocupadas pelo seu filho mais velho, Lachlan Murdoch.
Em comunicado oficial, a Fox informa que Murdoch se torna presidente emérito das empresas a partir da próxima Assembleia Geral Anual de Acionistas em meados de novembro. (veja a íntegra do texto abaixo)
Lachlan Murdoch participa da conferência de mídia anual da Allen and Co. Sun Valley, Idaho — Foto: REUTERS/Brendan McDermid/File Photo
“Em nome dos conselhos de administração da Fox e da News Corp, das equipes de liderança e de todos os acionistas que se beneficiaram de seu trabalho árduo, parabenizo meu pai por sua notável carreira de 70 anos”, disse Lachlan Murdoch em nota.
Lachlan passa a comandar um conglomerado de notícias, esportes e entretenimento por meio de marcas como Fox News Media, Fox Sports, Fox Entertainment, Fox Television Stations e Tubi Media Group. Não está claro se a mudança causará uma grande mudança na linha editorial conservadora a qual a Fox se notabilizou.
Certo é que uma de suas principais funções de Lachlan será desanuviar as polêmicas recentes em torno do grupo, tanto pelo alinhamento estrito com o governo de Donald Trump e pautas de extrema-direita, como por polêmicas internas da rede de mídia.
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A carreira de Rupert Murdoch
Aos 92 anos, o australiano Rupert Murdoch é um dos principais magnatas de mídia do mundo, empresário do setor desde os anos 1950. Hoje, a fortuna de Murdoch passa dos US$ 17,3 bilhões, de acordo com a revista Forbes.
Seu pai Keith Murdoch faleceu em 1952, deixando a ele o jornal australiano The News. Junto com a empresa, passou ao Conselho da News Limited, uma empresa pública de mídia que comandava o segundo maior jornal da cidade de Adelaide.
Em 1954, assumiu o controle da News Limited, onde comandou a expansão para a TV. Em 1959, fundou, dentro do guarda-chuva da empresa, a Southern Television Corporation, que licenciou o primeiro canal da cidade, o Channel 9 Adelaide.
Nos anos 1960, a News Limited passou a investir em aquisição de outras empresas de mídia na Austrália e passou também pelo início de sua expansão internacional. Em 1964, a empresa criou o primeiro jornal nacional do país, The Australian. No fim da década, a News Limited abriu escritório no Reino Unido e efetivou a compra dos jornais News of the World e The Sun.
Já nos anos 1970, a ampliação da empresa chega aos Estados Unidos com a compra de jornais em San Antonio. Em 1974, Murdoch introduziu o sistema consagrado dos tabloides no país, com o lançamento do jornal The Star.
O próximo passo, em 1976, foi a compra do jornal New York Post. Um ano depois, foi a vez da New York Magazine e do The Village Voice.
Em 1980, Murdoch transforma a News Limited na holding News Corporation. A nova empresa segue com a estratégia de compras de concorrentes para expandir o império de mídia. O principal foi o jornal The Sunday Times.
Em 1981, houve a entrada na edição de livros, com compra de uma fatia da Collins Publishing. Com a aquisição da Harper & Row anos depois, uma fusão entre elas deu origem à HarperCollins em 1990.
Mas, ainda em 1985, a News Corporation fez uma de suas expansões mais importantes, com a aquisição da Twentieth Century Fox Film Corporation. Foi a entrada de Murdoch como executivo proeminente em Hollywood.
A News Corporation segue adquirindo estações de TV nos EUA para criar a Fox Broadcasting em 1986. Dali saíram produções lendárias da história da TV, como "Os Simpsons", "Beverly Hills, 90210" e "Arquivo X".
Lachlan Murdoch e Rupert Murdoch chegam para o TIME 100 Gala em Nova York, em abril de 2015 — Foto: REUTERS/Brendan McDermid/File Photo
No fim da década, Murdoch também conduz o lançamento da primeira TV via satélite do Reino Unido, a Sky. Dentro do pacote, também foi lançado o Sky News, primeiro canal de notícias 24 horas da Europa. Já na década de 1990, a empresa adquiriu os direitos de transmissão da liga de futebol inglesa, a Premier League. O negócio deu origem à criação do canal Sky Sports.
A aquisição de direitos esportivos inspirou Murdoch a replicar o modelo nos Estados Unidos. Em 1993, a Fox Broadcasting conseguiu os direitos de transmissão para o ano seguinte da liga de futebol americano, a NFL. Em 1994, então, estreou a Fox Sports.
Também foi trazido para os EUA o modelo de notícias 24 horas. Em 1996, Murdoch estreia mais uma das estrelas de seu império, a Fox News. Quatro anos depois, o canal assumiu a liderança no serviço de notícias do país.
Já em 2007, Murdoch expandiu sua aposta para o setor de informação financeira em tempo real com a criação do canal Fox Business, além da compra e integração da empresa Dow Jones. Assim, o império se destrinchou em um dos mais importantes veículos de imprensa no setor, o jornal The Wall Street Journal.
Robert A. Iger, CEO da Disney (à esquerda), e Rupert Murdoch, dono do 21st Century Fox, Rupert Murdoch. — Foto: Walt Disney Company
Em 2013, Murdoch dividiu seu império em dois. A News Corp passou a comandar títulos como o Wall Street Journal, The New York Post, The Australian e outros ativos digitais. Já a 21st Century FOX incluía a 20th Century Fox, Fox Network, Fox News, Fox Sports, Fox Television Stations, FX e National Geographic.
Cinco anos depois, em 2017, a 21st Century Fox foi vendida por US$ 71,3 bilhões para a Disney. Murdoch manteve a propriedade da Fox News e do Fox Sports 1 (FS1), reunidos sob a Fox Corporation.
O último movimento importante do grupo foi em 2020, quando a Fox Corporation adquire o serviço de streaming Tubi.
Controvérsias da Fox News
O apresentador da 'Fox News' Tucker Carlson, que se posicionou fortemente contra a vacina da Covid-19 e veio ao Brasil entrevistar Jair Bolsonaro para um documentário. — Foto: AP
Principalmente desde a eleição de Donald Trump, a Fox News se tornou uma ampla rede de apoio para o governo, principalmente nos programas de opinião comandados por Tucker Carlson, Sean Hannity e Laura Ingraham.
Carlson foi apresentador do programa de maior audiência da TV a cabo americana, e também a voz do conservadorismo e da direita no país. Como disse a comentarista Sandra Cohen em seu blog no g1, destilava "diariamente no horário nobre da Fox News uma realidade alternativa e catastrófica em temas como imigração, aborto, vacinas, máscaras e violência armada".
O âncora deixou a Fox News neste ano, e a suspeita é de que sua demissão tenha relação justamente com propagação de notícias falsas.
Em 2021, a empresa Dominion Voting Systems, fabricante de urnas eletrônicas, entrou com um processo por difamação contra a Fox News. O canal afirmou que dispositivos ajudaram Biden e os democratas a "roubarem a eleição”.
Mensagens anexadas ao processo mostraram o funcionamento interno da rede de TV a cabo, com conversas acaloradas para lidar com a tentativa de Trump de anular os resultados das eleições de 2020.
As trocas mostram a opinião de altos executivos da Fox, Carlson e Murdoch inclusive, que duvidavam das acusações feitas pelos Republicanos, mas decidiram as colocar no ar. Murdoch admitiu em uma declaração apresentada ao caso que alguns âncoras "endossaram" no ar a falsa alegação de que a eleição de 2020 foi roubada de Trump.
Neste ano, o canal teve que entrar em acordo com a Dominion Voting Systems, e pagar US$ 787,5 milhões para não ir a julgamento. Nos trâmites desse acordo, Carlson acabou demitido da emissora.
As revelações provocaram protestos do lado de fora da sede da Fox News — Foto: REUTERS
Além da linha editorial, a Fox News enfrentou problemas com seus grandes nomes. O caso mais marcante foi o ex-presidente da Fox News, Roger Ailes. Em 2016, Gretchen Carlson, ex-âncora da Fox News, processou Ailes por assédio sexual, alegando que o ex-chefe a demitiu indevidamente depois de ela ter rechaçado anos de avanços não desejados.
Carlson disse no processo que Ailes, ex-consultor republicano que transformou a rede de TV Fox News no canal de notícias a cabo mais visto nos Estados Unidos, tirou-a do programa matutino “Fox & Friends” em 2013 e cortou o salário dela porque ela se recusava a ter uma relação sexual com ele. A acusação gerou a renúncia de Ailes, em julho daquele ano.
Ailes fez um acordo com a ex-apresentadora. Ela recebeu US$ 20 milhões, segundo o relato de uma fonte que pediu anonimato à Associated Press. Em um comunicado, a 21st Century, proprietária do canal, afirmou que "lamenta e pede desculpas porque Gretchen não foi tratada com o respeito e a dignidade que ela e todos os nossos colegas merecem". O executivo morreu em maio de 2017.
Ex-âncora da Fox News acusa presidente do canal de assédio sexual
E, em 2017, o apresentador da Fox News Bill O'Reilly foi acusado de assédio sexual por várias mulheres. Trump, inclusive, saiu em defesa do âncora à época.
Bill O'Reilly e a Fox News desembolsaram US$ 13 milhões para estas cinco mulheres em troca de seu silêncio e de não apresentar processos contra a estrela da emissora. "The O'Reilly Factor" era de longe o programa mais visto nas emissoras de informação nos Estados Unidos, com uma média de 3,98 milhões de espectadores no primeiro trimestre de 2017.
Em um comunicado publicado após a informação do jornal The New York Times, O'Reilly não negou diretamente as acusações, mas disse que "como todas as personalidades visíveis e controvertidas, sou vulnerável a denúncias de indivíduos que querem que pague para defender minha reputação".
Âncora do canal a cabo Fox News é demitido por causa de processos por assédio sexual
Veja o comunicado da Fox
Seguindo uma carreira que começou há quase 70 anos em 1954, a Fox Corporation (“FOX”) (Nasdaq: FOXA, FOX) e a News Corporation (“News Corp”) (Nasdaq: NWS, NWSA; ASX: NWS, NWSLV) anunciam hoje que Rupert Murdoch está deixando o cargo de presidente do conselho das empresas a partir da próxima Assembleia Geral Anual de Acionistas das empresas em meados de novembro.
O Sr. Murdoch será nomeado presidente emérito de cada empresa. Após as Assembleias Gerais Anuais, Lachlan Murdoch se tornará o único presidente da News Corp e continuará como presidente-executivo e diretor-executivo da Fox Corporation.
“Em nome dos conselhos de administração da Fox e da News Corp, das equipes de liderança e de todos os acionistas que se beneficiaram de seu trabalho árduo, parabenizo meu pai por sua notável carreira de 70 anos”, disse Lachlan Murdoch.
“Agradecemos a sua visão, o seu espírito pioneiro, a sua determinação inabalável e o legado duradouro que deixa às empresas que fundou e às inúmeras pessoas que impactou. Estamos gratos por ele atuar como presidente emérito e sabemos que continuará a fornecer conselhos valiosos para ambas as empresas.”