Educação Financeira

Por Bruna Miato, g1


— Foto: Joslyn Pickens/ pexels

O endividamento no Brasil até deu sinais de trégua em 2024, mas ainda caminha para encerrar o ano atingindo mais de 75% da população. Mais que isso, os brasileiros que vivem em capitais têm dívidas que consomem, em média, 30% de toda sua renda, segundo levantamento da Fecomercio-SP.

Muitas das dívidas são causadas por eventos que não eram esperados, como um problema de saúde que demandou remédios caros ou o conserto em algum eletrodoméstico que apresentou defeito, por exemplo.

Embora esses acontecimentos extraordinários façam parte da vida e não possam ser evitados, o endividamento causado por eles pode ser prevenido. Para isso, não há segredo: é preciso ter uma reserva de emergência.

E ainda dá tempo de começar a montar essa reserva em 2024, segundo Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos e especialista em renda fixa. Seja com um pedaço do 13° salário ou apenas uma pequena fatia dos rendimentos habituais, o importante é começar o quanto antes, para garantir que o dinheiro renda o máximo possível.

Fontes deu dicas sobre como começar uma reserva ainda neste ano no quarto episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar 2025 com o pé direito.

Veja a íntegra da entrevista ou os principais cortes da conversa mais abaixo:

mariana fontes INTEGRA

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Nesta reportagem, você vai ver:

O que é e como montar uma reserva de emergência

Marilia Fontes explica o que é uma reserva de emergência

Marilia Fontes explica o que é uma reserva de emergência

Marilia descreve a reserva de emergências como "uma das coisas mais importantes dentro de uma carteira de investimentos" e capaz de salvar uma pessoa de "várias furadas".

E é justamente para salvar alguém das "furadas" da vida que esse colchão financeiro é importante. O próprio nome já diz: é uma reserva de dinheiro que deve ficar guardada para o momento em que algo extraordinário acontecer, como uma demissão ou uma doença que demande remédios ou tratamentos custosos, por exemplo.

O dinheiro que fica nessa reserva serve como uma gordura para ser gasta no caso de uma emergência, sem que a pessoa precise se endividar para pagar as contas.

"Quando as pessoas, para alguma emergência, acessam cartão de crédito ou crédito rotativo etc, você já vai para uma taxa de juros muito mais alta", destaca Marilia.

Segundo a especialista, a reserva de emergência precisa ser um dinheiro "sem risco" e "rapidamente acessível", que corresponda a um período de seis meses a um ano dos gastos mensais de uma pessoa.

Se o custo de vida mensal de alguém — contando todas as contas básicas, alimentação, mensalidades e outras coisas importantes e necessárias — for de R$ 5 mil por mês, por exemplo, então a reserva de emergência deve ser de, idealmente, R$ 30 mil a R$ 60 mil.

Para isso, a forma de montar uma reserva é simples e sem segredos: é preciso pegar um pouco de dinheiro, sempre que possível, e colocar em um lugar seguro (como um investimento em renda fixa). Isso pode ser feito com pouco e gradativamente, dentro das possibilidades de cada um.

Em uma emergência, mesmo que o valor da reserva não seja suficiente para arcar com seis meses do custo de vida, ter uma quantia guardada já ajuda a passar pelo momento e pode evitar a necessidade de contrair uma dívida.

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Para Marilia Fontes, vale a pena começar uma reserva de emergência ainda em 2024.

Vale lembrar que essa é uma época no ano em que as pessoas costumam estar com mais dinheiro na mão, por conta do pagamento do 13° salário e eventuais bônus pagos por empresas aos funcionários.

A especialista considera que, para quem tem dívidas, geralmente é melhor priorizar a quitação dos valores devidos porque os juros de empréstimos costumam ser bem maiores dos que o de qualquer investimento seguro. Dessa forma, o 13° salário pode ser direcionado para esse propósito.

No entanto, se sobrar uma fatia do 13º, ou mesmo com um valor pequeno do salário habitual, pode ser mais interessante começar a montar uma reserva do que deixar o dinheiro na conta para outros gastos.

Marilia comenta que, mesmo quando não há nenhuma compra prevista, o dinheiro na conta tende a ser usado porque a pessoa pode associar o valor a um "dinheiro sobrando". Assim, a opção mais assertiva é já destinar uma parte para os investimentos e já começar a montar esse fundo emergencial.

"Mais (importante) do que você conseguir montar uma reserva de emergência rápido, é você começar", diz Marilia sobre o "efeito bola de neve dos juros compostos" — que fazem o dinheiro render mais. Ela explica que, mesmo que não seja possível colocar dinheiro na reserva em algum mês, o que você já colocou vai rendendo.

Com os juros compostos, o dinheiro que é colocado no investimento (mesmo que na poupança) em um mês rende uma porcentagem. Nos meses seguintes, os juros do rendimento são calculados sobre o valor total (montante inicial mais o rendimento do mês anterior) — formando a bola de neve a que a especialista se refere. Portanto, quanto antes começar, inclusive em 2024, melhor.

O que levar em consideração para montar uma reserva de emergência

Veja o que levar em consideração para começar uma reserva de emergência

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O primeiro passo para montar uma reserva é, claro, poupar o dinheiro. Mas esse não é a única coisa a ser feita.

Para quem não tem nenhum conhecimento em investimentos, vale começar a reserva colocando os valores economizados na poupança, "desde que comece a estudar para investir", diz a especialista.

Há opções tão seguras quanto a poupança, mas que rendem muito mais. Para escolher onde investir esse dinheiro, só é precisa estar atento a alguns detalhes.

Marilia considera que há três princípios que devem guiar a escolha do investimento em que será colocada a reserva de emergência:

  1. liquidez;
  2. segurança;
  3. não ter marcação a mercado.
  • 1️⃣ A liquidez de um investimento diz respeito à facilidade e velocidade com que se pode resgatar o dinheiro investido.

Ou seja, quanto mais rápido o investidor recebe de volta o dinheiro mais os rendimentos, maior a liquidez do investimento.

Levando isso em conta, Marilia diz que a reserva de emergência precisa estar em um ativo com alta liquidez para que, em uma emergência, o dinheiro precisa ser acessado com facilidade.

O prazo ideal para esse resgate é de, no máximo, um dia útil.

  • 2️⃣ Tão importante quanto a liquidez para garantir o acesso rápido e fácil ao dinheiro numa emergência é a segurança do investimento.

A escolha do investimento deve levar em conta todas as características do produto, com destaque para a previsibilidade do retorno financeiro. Títulos da renda fixa são aqueles que já apresentam ao investidor logo de partida qual será a rentabilidade do investimento se ele for levado até o fim do prazo.

Além disso, também é importante analisar qual é o emissor do título — a instituição financeira que está disponibilizando o investimento no mercado.

Marilia diz que, para a reserva de emergência, é importante escolher bancos que já tenham tradição e bom histórico de pagador ou o próprio Governo Federal (que é o emissor mais seguro). Bancos com pouco tempo de mercado ou em uma fase financeira ruim podem passar por qualquer problema que leve o investidor a ter mais dificuldade em acessar o dinheiro.

"Durante a pandemia, muita gente precisou resgatar o dinheiro da reserva de emergência. Só que, em 2020, dois bancos foram liquidados extrajudicialmente pelo Banco Central. Quem estava com dinheiro investido nesses bancos e precisava resgatar, não conseguiu, e aí foi para a fila do FGC", exemplifica.

O FGC é o Fundo Garantidor de Crédito, que garante, para alguns produtos, que os investidores vão receber de volta o dinheiro que investiram mais os rendimentos (limitados a R$ 250 mil por CPF por instituição financeira). Assim, mesmo que a pessoa tenha a garantia de que será paga, ela pode demorar mais tempo para ter acesso ao dinheiro.

O problema é que, em uma emergência, essa espera pode ser prejudicial.

A marcação a mercado é fácil de ser entendida em ativos de renda variável, como nas ações. Ao comprar uma ação hoje, o investidor pode pagar R$ 10, por exemplo. Porém, com as oscilações naturais do mercado, essa mesma ação pode passar a valer R$ 5, gerando prejuízos para o investidor.

Na renda fixa, porém, isso também pode acontecer, a depender do tipo de rentabilidade do título escolhido. São três as possibilidades: pós-fixados, prefixados e indexados à inflação.

No primeiro caso, o dinheiro vai sempre render o mesmo que a Selic, taxa básica de juros, ou o CDI (índice que acompanha a Selic) renderem, independente do valor ou de quando o dinheiro for resgatado.

Nos prefixados, a taxa do investimento é definida logo na compra, como 10% ao ano, e vai entregar exatamente essa rentabilidade somente no fim do prazo do investimento. Do mesmo modo, os indexados à inflação têm uma taxa prefixada, que é somada à oscilação da inflação no período do investimento.

O problema é que, nos títulos com componentes prefixados, o investidor só vai conseguir se desfazer do investimento vendendo ele pelo preço que o mercado aceita pagar, que pode ser menos do que o valor de compra.

Entenda mais detalhes com o infográfico a seguir:

Renda fixa: saiba como funciona a marcação a mercado — Foto: Arte g1

A reserva de emergência não pode ter esses prejuízos.

Assim levando os três princípios em consideração, Marilia pontua que as opções de investimentos adequados para a reserva são limitadas: ou o Tesouro Selic, do governo, ou algum CDB pós-fixado no CDI com liquidez diária e emitido por algum banco seguro.

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