O Japão tinha nos anos 80 uma das economias mais dinâmicas no mundo. Mas as últimas três décadas foram complicadas. Um dos motivos é que a população japonesa vem diminuindo. Com 30% de idosos, o PIB japonês pode encolher 25% nas próximas décadas, segundo o FMI.
Mas o governo japonês confia que a salvação vira de um “ativo” pouco explorado: as mulheres. só 60% das japonesas trabalhavam fora de casa em 2013, número baixo comparado aos 83% dos homens.
Na conservadora sociedade local, a visão da mulher como mãe e dona de casa é profunda. E para aquelas que trabalham a economia japonesa tem o maior gap de salários no G7, o grupo dos países mais ricos, com os homens ganhando 24% a mais do que as mulheres.
O governo quer mudar isso e em 2013 introduziu a womenomics (mulhernomia, numa tradução, bem, livre), uma reforma da economia baseada na promoção das mulheres. O primeiro-ministro Shinzo Abe propõe não só mudar as oportunidades como a mentalidade.
Junto com medidas como obrigar empresas a divulgarem quantas mulheres possuem em cargos de chefia (o que, demonstram alguns estudos, costuma aumentar a diversidade entre os funcionários), foram impostas metas entre 7% e 15% até 2021 para a promoção delas.
Além disso, a licença-maternidade japonesa passou a ser uma das mais generosas do mundo, oferecendo um ano de afastamento com até 80% do salário. O governo ainda criou 500 mil vagas em creches e pretende elevar o número em mais 320 mil.
A reforma pretende que mais homens, não só as mulheres, se afastem do trabalho depois da paternidade, estendendo a eles a licença das mães. Isso ajuda a aliviar a dupla jornada feminina – no trabalho e em casa –, que leva muitas mulheres a pararem de trabalhar.
Mas o que aconteceu?
Os resultados são espetaculares, segundo estudo recente de Kathy Matsui, Hiromi Suzuki e Kazunori Tatebe, três economistas do banco Goldman Sachs. O número de trabalhadoras japonesas foi a quase 71%, percentual maior do que nos Estados Unidos (66%) e na União Europeia (62%).
A participação japonesa no trabalho decolou em relação a americanas e europeias — Foto: Fonte: Goldman Sachs – OCDE
A presença delas trabalhando durante os anos mais produtivos (25 a 44 anos) passou de 73% para 77%, segundo os dados oficiais. E o percentual de homens que pedem a licença-paternidade, que era de 2,6%, subiu para 5,1% – a meta é de 13% até 2020.
O sucesso, para o relatório, resulta de uma mudança de abordagem. Enquanto em outros países questões de gênero são pauta de direitos humanos, o foco na economia convence mais facilmente as empresas e a sociedade sobre os benefícios envolvidos.
Ainda há muitos problemas. A maior parte das japonesas, 56%, só trabalha em meio período, ganhando menos e mantendo o gap de gênero. E quase metade das mulheres que têm filhos não retorna ao trabalho depois da licença, se tornando donas de casa.
Mesmo assim, para as economistas, os resultados são promissores. Igualar a participação de homens e mulheres no mercado de trabalho adicionaria 13% de crescimento ao PIB japonês nos próximos anos, nos cálculos do governo.
A experiência ilumina um ponto pouco discutido nas questões de gênero – os ganhos para a economia ao se promover as mulheres. A realidade, para o Japão, o Brasil e todos os países, é que elas são um recurso valioso demais para desperdiçar, como ainda fazemos.