Na engenharia, depois de tudo pronto fica fácil entender o que deu errado e qualquer um poder ser engenheiro de obra feita de uma coluna torta, de uma conta malfeita. Na economia existe o ex-post, ou seja, o que veio depois e pode ser constatado e confrontado com as previsões. Quando a “fonte” de informações é o comportamento dos agentes econômicos é mais difícil acertar o cálculo, já que ele está baseado no fator humano, ou seja, o imponderável – o que aumenta a margem de erro das expectativas. Foi o que aconteceu com o resultado do varejo em maio revelado pelo IBGE nesta terça-feira (12). 

 

O consenso entre os analistas esperava um desempenho positivo do comércio varejista naquele mês. Segundo IBGE, as vendas caíram 1% em maio, quando a média das previsões era de alta de 0,5%. A piora foi disseminada e atingiu seis dos oito segmentos pesquisados pelo instituto. O que fez os economistas errarem tanto? O poder da confiança e a falta que o crédito faz. Os sinais de recuperação das expectativas já captados pelos indicadores de confiança ainda não se transformaram em consumo – isto é mais fácil entender. Para consumir é preciso mais do que a crença na melhora. É preciso crédito, além da renda disponível, claro. 

 

Os juros do Brasil continuam sendo os mais altos do mundo, em 14,25% ao ano. E devem permanecer assim por mais alguns meses. Enquanto ele não cai, as taxas cobradas pelos bancos nas concessões de crédito estão e continuam subindo. Em junho, os juros cobrados das pessoas físicas subiram pelo 21º mês consecutivo, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). No caso dos juros do comércio (crediário ao consumidor), 11 dos 12 tipos de lojas pesquisadas subiram as taxas, com a média geral em 5,86% ao mês, o que dá 98,05% ao ano. 

 

Para estimar o resultado fechado do mês os economistas já haviam considerado o péssimo desempenho do comércio no Dia das Mães. As vendas nesta data, uma das mais importantes do setor, foram as piores desde 2003 na série histórica do Serasa Experian. Nas contas da Confederação Nacional de Dirigentes Logístas (CNDL), as vendas parceladas no Dia das Mães tiveram queda de 16,4% na comparação com mesmo período de 2015. Ainda assim, esperava-se uma melhora no consumo capaz de levar o setor a um resultado positivo em maio, o que não aconteceu. As vendas de móveis e eletrodomésticos caíram 1,3%, e outros artigos de uso pessoal e doméstico tiveram queda de 2,4% – são compras que podem ser adiadas e foram. 

 

Há um outro fator tão ou mais importante do que a confiança e o crédito caro: o desemprego. O mercado de trabalho está em plena fase de ajuste – para pior. As demissões, mesmo que tenham perdido força nos últimos dois meses, ainda são bem maiores do que a geração de novas vagas. Sem emprego e com crédito caro, não há consumo. Ou até mesmo com a ameaça de perder o trabalho rondando as famílias brasileiras, tudo está sendo adiado.

 

“O varejo de maio surpreendeu negativamente, mostrando vendas abaixo do que sugeriam os principais indicadores coincidentes para o mês. Entretanto, o resultado é consistente com nossa avaliação de que, devido às defasagens com que o mercado de trabalho reage à fraqueza da atividade econômica, a tendência de queda nas vendas varejistas deve continuar nos próximos meses”, diz o relatório feito pelos economistas do Itaú Unibanco enviado a clientes.

 

Para junho o Dia dos Namorados vai dar sua contribuição negativa já que as vendas caíram 9,5% este ano, segundo o Serasa Expirian. Namorados também podem esperar... Que o desalento não tenha afetado o romantismo que pode ser criativo e compensar a falta de um embrulho de papel.