Duas surpresas seguidas na economia, ambas sobre a atividade. O IBGE nos informa que, em abril, o crescimento dos serviços e do comércio foi de 1%, em cada setor. As previsões dos analistas e economistas era para uma queda, em ambos os casos, de cerca de 0,7%. Há, visivelmente, uma dificuldade de interpretar o que está acontecendo na cambaleante recuperação econômica.
 

Para quem ainda refuta a retomada, mesmo admitindo que ela será lenta e corre riscos por causa da crise política, há argumentos sólidos de que a saída da recessão é uma falácia.
 

“Ah, mas em março serviços e no comércio tiveram desempenho muito negativo – queda de 2,6% e 1,6%, respectivamente”.
 

É verdade. A volatilidade nos resultados faz parte da lista de riscos e explica a insegurança nas previsões. Pensando em períodos, é importante pensar que, mesmo com a queda de março, o PIB do primeiro trimestre foi bem positivo e criou uma base mais favorável para as comparações estatísticas daqui para frente.
 

“Ah, mas o segundo trimestre vai ser um fiasco. Vamos ter um novo período negativo. A agricultura já deu sua contribuição e a economia dependente do consumo das famílias, não vai conseguir sustentar um desempenho positivo”.
 

Abril, mês das surpresas com serviços e comércio, é o primeiro mês do segundo trimestre. O consenso dos economistas quando do fechamento do período anterior, realmente foi em torno do risco de o país registrar um novo trimestre negativo. Tanto que as previsões foram ajustadas e a maioria das casas passou a esperar queda entre abril e junho.
 

Ninguém contava com as surpresas de abril. Ajustes dos ajustes são esperados. Há mais uma surpresa relevante e que muda o comportamento esperado sazonalmente no Brasil: a superssafra do ano é ainda mais ‘super’. O IBGE acaba de anunciar que a produção nos campos será quase 30% maior em 2017. E não é só pela exportação e os bons preços internacionais das commodities que o setor colabora.
 

No domingo passado, o colunista do Estadão, Celso Ming, esclareceu ponto fundamental para calibrar o peso do agronegócio no Brasil.  “Estudo da Confederação Nacional da Agricultura a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), de 2014, mostrou que o agronegócio proporciona 32,7% dos postos de trabalho no Brasil. (O agronegócio é mais abrangente do que a agropecuária. Alcança também a indústria e os serviços ligados ao setor.)”, disse.
 

“Ah, mas foi o FGTS que colaborou com esse resultado do comércio e dos serviços em abril”.
 

E não foi para isso que o governo liberou os R$ 40 bilhões do Fundo para quem tinha conta inativa? Eu mesma levei um susto com o saldo que eu tinha lá. Como muitos brasileiros, guardei boa parte do dinheiro, mas me permiti uma viagem nas duas semanas que férias que eu terei agora em julho – o que eu não faria antes de ter acesso ao FGTS.
 

Na manhã desta quarta-feira (14), o Boa Vista SPC divulgou que o movimento do comércio subiu 2,7% em maio – segundo mês do segundo trimestre. A venda de carros novos, também em maio, subiu 17,1%. O termômetro da economia está desajustado, está difícil ler o que passa na cabeça dos consumidores brasileiros que, mesmo diante da crise política, estão voltando às ruas para gastar. 
 

Reação ou suspiro? A volatilidade deve continuar, é um movimento esperado depois da recessão que vivemos. A cautela nas expectativas deve ser mantida, mas não há como refutar os dados.