A indústria cresceu! A notícia, sozinha, é um alento num período de números tão negativos para a economia brasileira. Segundo o IBGE, o setor teve alta de 0,6% em maio, comparado com abril, interrompendo três meses seguidos de queda. Pronto, acabou a parte positiva do resultado. Na comparação com maio do ano passado, a atividade fabril caiu 8,8%. No acumulado do ano, a baixa é de 6,9%.

“O cenário é o mesmo, não mudou o quadro para a economia. É bom ver o sinal positivo (de maio), mas dá para relativizá-lo bastante, infelizmente. Essa melhora veios dos setores de equipamentos de transporte e refino de petróleo. O primeiro, tem a ver com vendas da Embraer para o mercado externo. O segundo, com decisões de produção da Petrobras”, pondera o economista Rogerio Cesar de Souza, do Instituto Estudos Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O que poderia ser a luz no fim do túnel se revela rapidamente num vagalume perdido, brilhando solitário no escuro. Quando olhamos para o desempenho do setor de bens de capital – produção de máquinas e equipamentos que melhoram a capacidade da indústria – fica bem claro que o buraco do setor é mais baixo, ou a saída do túnel está longe ainda.

Na construção civil, a produção de bens de capital teve queda de 25.5% e entre abril e maio, o tombo chega a 40%. No setor de energia, recuo de 7,9% no 1o/tri para 22,3% negativo. Mesmo com ajuda dos aviões da Embraer, nos transportes a produção de máquinas e equipamentos está agora com redução de 30%. O único que estava com resultado positivo em 0,8% nos três primeiros meses do ano – bens de capital para a própria indústria – fecha maio com queda de 10%.

“Esses indicadores são de um ambiente recessivo. Nós estamos em crise, não adianta evitar dizer essa palavra. Estamos longe de uma sinalização de investimento, a confiança dos empresários está em queda. O que poderia ajudar na recuperação de bens de capital são as concessões, mas não está nada definido. O consumo das famílias e o emprego ainda estão em acomodação com tendência pra queda”, avalia Rogério Cesar de Souza.

A coisa não está fácil nem para número positivo. Ele não basta “parecer” bom, ele tem que ser bom “por inteiro”. Mesmo com a surpresa da produção de maio, a indústria brasileira está vivendo um de seus piores momentos e seriam necessários meses seguidos de alta na produção para limpar o passado recente de perdas. O otimista agora é aquele que espera que o cenário pare de piorar logo.

“Em suma, tal desempenho reforça nosso cenário de retração de 1,2% do PIB no segundo trimestre, dado que será conhecido no final de agosto. De fato, tanto a contração de 1,7% da economia brasileira quanto a de 4,0% para a produção industrial, esperadas para 2015, já podem ser consideradas ligeiramente otimistas”, é o que diz análise feita pelos economistas do banco Bradesco e distribuída a clientes.