Queda na produção não é a pior notícia para indústria
A indústria brasileira teve, em 2015, o pior desempenho desde 2003 – queda de 8,3% na produção. Dos 26 segmentos analisados pelo IBGE, 25 recuaram confirmando enfraquecimento generalizado do setor. Na sequência de números ruins da indústria, há muitos outros que revelam que o buraco está mais lá embaixo. Da porta para dentro das fábricas há menos dinheiro no caixa, menos investimento, menos empregos, menos produtividade e menos competitividade. Vender mais, dentro ou fora do Brasil, não vai tirar as empresas de onde se encontram hoje.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), maior entidade representativa do setor, o peso da atividade manufatureira nacional sobre o PIB está hoje nos mesmos níveis do período pré-industrialização do país, há nada menos que 70 anos! Em 2015, o setor de transformação deve ter alcançado míseros 9% de participação no PIB nacional. Um ano antes, ainda era na casa dos dois dígitos – 10,4% do PIB. Além da CNI, o Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE) também constata esse desmantelamento do setor, ressaltando contudo que este movimento não significa que o Brasil está mais eficiente, entrando na era da tecnologia, automação e domínio dos serviços e comércio. Não, estamos mesmo é sem um e sem o outro.
Há muitos fatores externos que explicam parte deste movimento. A retração da economia chinesa, menor crescimento mundial pós crise de 2008, deterioração da Argentina – maior compradora de manufaturados do Brasil -, queda nos preços das commodities estão entre os principais. Mas a lista de feitos de total responsabilidade brasileira é muito maior. Para começar, o aumento desmedido da intervenção do Estado na engrenagem econômica. Um estudo recente do IBRE/FVG mostra que a concessão de benefícios fiscais no governo de Dilma Rousseff mais do que dobrou de 2011 a 2015. No ano passado, mais de R$ 400 bilhões foram gastos em cortes de impostos e contribuições, o que equivale a 6,5% do PIB.
Mesmo sem detalhar a participação da indústria neste regalo – que não foi pequena -, esqueça os números, olhe para a dinâmica da economia. De um lado, temos um governo que, apenas em 2015, deixou de arrecadar aqueles mais de R$ 400 bi em forma de incentivos ao consumo, ao investimento e à produção – teoricamente. De outro, um setor produtivo que derreteu, sem conseguir transformar nenhum centavo deste dinheiro em mais empregos, mais produção ou mais crescimento.
Dinheiro a mais não vai resolver a deterioração estrutural da economia brasileira. Tampouco dinheiro a menos vai contribuir para uma derrocada mais acelerada. Neste processo todo, quem mais influenciou a situação que vemos hoje foi o declínio da confiança na condução do país, na eficácia das medidas adotadas, na honestidade dos líderes políticos que vivem um mundo à parte da realidade das famílias brasileiras. Reverter a trajetória atual passa, obrigatoriamente, por assumir que a economia travou, está de pernas quebradas. Tratar o Brasil com sopa e mel não vai colar os ossos do setor produtivo, muito menos fazer com que ele volte a andar tão cedo.