Foram 11 trimestres de atividade em queda no Brasil, ou seja, 33 meses andando para trás, entre abril de 2014 e dezembro de 2016. O país acaba de sair da pior recessão da sua história, segundo a linha do tempo da economia elaborada pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da FGV. Olhar pelo retrovisor será tão importante quanto acompanhar a saída da crise, não só para que os diagnósticos sejam bem fundamentados, mas, principalmente, para que lições tenham sido aprendidas. 

 

Uma recessão não nasce de um dia para o outro. Ela pode ser provocada por um abalo extemporâneo, o estouro de uma bolha e então a economia reage pela via da insegurança total com o futuro. Foi o que aconteceu em 2008, depois da quebradeira geral do sistema financeiro mundial. Passado o tempo necessário para reflexão, fica claro que aquela crise foi sendo fabricada por anos nos corredores obscuros do mercado financeiro, às custas da desinformação de muitos e da má fé exagerada de poucos. Ainda assim, ela caiu como uma bomba. 

 

A resposta do Brasil ao refluxo de capital no planeta foi forte e rápida. Entre o 4o trimestre de 2008 e o 1o de 2009, o PIB perdeu 5,5%, segundo a FGV. Assim que todos foram percebendo que havia luz no fim do túnel, que os ricos se salvariam do colapso e, mais importante, que o governo brasileiro estava disposto a abrir o cofre para dar uma ajuda, todo mundo colocou o bloco na rua novamente. Tanto assim que o PIB cresceu 7,5% em 2010, num ritmo de recuperação bem forte. 

 

Os problemas daquela virada foram dois, basicamente: o governo teria que ter desligado a máquina logo depois que a economia retomou seu curso em final de 2009; o PIB de 7,5% era muito mais do que o país poderia suportar sem gerar inflação alta e tudo que vem a reboque. Foi então que começou o roteiro desta recessão profunda vivida entre 2014 e 2016.  Ao assumir o governo em 2011, Dilma Rousseff foi dobrando todas as apostas e lançando mão do que há de mais perverso e equivocado em política econômica para evitar os efeitos do exagero dos estímulos que já tinham sido adotados até ali. 

 

A crise que está deixando seu epicentro para trás deixou um rastro de destruição e distorções, difícil de comparar com outros desatinos já aplicados no Brasil. Uso o termo destruição sem nenhum medo de exagerar no drama, já que a quantidade de empresas que fecharam as portas, a quantidade de gente que perdeu emprego em pouco espaço de tempo, já seria o suficiente para ilustrar esta triste fotografia. O pior desastre, porém, está na situação que ficou o estado brasileiro. 

 

Nem vou falar de corrupção, apesar de saber que é quase impossível contabilizar o tamanho do estrago na economia sem considerar a montanha de dinheiro público roubado na última década. O rombo nas contas públicas responde a isso, mas, principalmente, ao abuso descarado dos recursos públicos nos experimentos estapafúrdios e irresponsáveis do governo dilmista, como a reforma do setor elétrico em 2012 – que até hoje nos cobra uma conta altíssima, vide alarde dos reguladores sobre novos aumentos da conta de luz. Os repasses de R$ 500 bilhões ao BNDES são outro escândalo da política econômica que nos levou à pior recessão da história. 

 

Abro quase nenhum espaço para falar da economia internacional neste contexto. Podemos até crer no peso do desarranjo exterior na composição da nossa crise. Lá em 2012, quando a Grécia quase quebrou, o Brasil sentiu o tranco. Mas sentiu pouco! Sim, porque, para tentar segurar a porteira com a mão, o governo de então se intrometeu na formação do preço do dólar, do juro, da luz, da batedeira, da refinaria de Pasadena e da JBS. Cada um do seu tamanho, contribuindo para o tamanho do monstro que apareceria em 2014. 

 

Quando a “fera” apareceu, houve uma tentativa de acalmá-lo, com a chegada do super ministro escalado por Dilma Rousseff. Claro que não durou nem um ano a tentativa de Joaquim Levy de conter a sangria, em primeiro lugar, e evitar que o monstro crescesse mais. Inês já era morta e o esqueleto apareceu quando Henrique Meirelles anunciou que o rombo nas contas públicas era de R$ 170 bilhões em 2016. E que continuaria gigante por anos até que toda conta fosse paga. 

 

As recessões não nascem de um dia para outro. É preciso muito esforço para errar bastante e provocar desequilíbrios estruturais tão profundos quanto os que atingiram o Brasil nos últimos anos. A boa notícia é que, como disse, o epicentro ficou para trás. A saída da crise está contando com um bom roteiro de política econômica, recuperação da credibilidade dos condutores deste roteiro, uma oportunidade única de redução dos juros diante de uma queda, também estrutural, da inflação. 

 

Infelizmente há uma péssima notícia nos rondando diariamente, a crise política, seus escândalos, roubalheiras, sem-vergonhices, descaramentos e poucas promessas de renovação deste quadro tão cedo. As eleições de 2018 terão o poder de nos afastar mais do olho do furacão que nos abateu, ou nos levar de volta para dentro dele. Já aprendemos como se faz a pior recessão da história. Agora, devemos aprender como evita-la.