Nelson Barbosa não ouviu Joaquim Levy
Eu queria ser uma mosquinha para ter acompanhado o encontro entre o ministro da Fazenda Nelson Barbosa com o ex-presidente Lula e mais uma penca de líderes do Partido dos Trabalhadores. Pelo que nos contou o jornalista Gerson Camarotti, Barbosa foi chamado às pressas para explicar a política fiscal de 2016!
Como numa sabatina, o ministro terá que convencer o ex-presidente Lula de seus planos para salvar a economia da crise – que ele mesmo ajudou a construir. Se não fosse dramático, seria cômico. Tanto pela posição esdrúxula do ministro mais importante do governo ter que dar explicações a um ex-presidente da República, quanto ao fato de ser ele, este mesmo ministro, o autor da estratégia que levou o país à crise mais grave do século.
O discurso que Barbosa faz agora é exatamente igual ao de Joaquim Levy antes dele ser enxotado do governo. "Não é hora de extremismos na política econômica", e sim "hora de volta à normalidade. O adiamento do enfrentamento desses problemas [da economia brasileira] vai tornar inevitável a adoção de soluções mais drásticas no futuro próximo, o que não é bom para ninguém", disse o ministro, em discurso na cerimônia de que participou antes em Brasília.
Em setembro do ano passado, quando já colecionava derrotas no Congresso Nacional e atropelos do colega Nelson Barbosa, Joaquim Levy disse: “A gente tem dificuldades, a gente tem incertezas, mas eu acho que o maior risco que talvez a gente tenha é a procura de soluções fáceis, a procura de que mudando uma peça aqui ou acolá se vai resolver tudo, quando há problemas que são objetivos, problemas estruturais”.
Seis meses depois, sob um fogo cruzado dentro de casa, Nelson Barbosa está sendo forçado a alertar contra as ideias que ele mesmo incutia na cabeça da presidente Dilma Rousseff.
"Adotar somente medidas de estímulo de curto prazo não é suficiente para resolver problemas, pois a recuperação tende a ser curta ou não ocorrer, diante dos desequilíbrios atuais e a incerteza sobre o futuro. No passado recente, já tivemos experiência (...) que tiveram efeitos de muito curto prazo sobre a economia e, em vez de resolver os problemas estruturais, ampliaram os problemas estruturais".
A pergunta que cabe agora é: será que há um ano, quando Levy assumiu, a crise não era tão grave? Sim, já era grave – e a omissão do governo em brigar pelas medidas propostas lá atrás certamente foi responsável por empurrar o Brasil para onde ele se encontra hoje. Nem Barbosa consegue discordar: “A situação atual é desafiadora e as previsões do mercado indicam que o país terá um segundo ano consecutivo de queda da atividade. O que não acontece desde os anos 30, desde a depressão do século passado”.
Se eu fosse uma mosquinha, gostaria de ter visto como o ministro Nelson Barbosa se saiu diante do interrogatório e exigências do partido político que acolheu sua mais famosa criação, a Nova Matriz Econômica – mais gastos públicos, aumento do peso do estado sobre a economia, leniência com a inflação e com o endividamento soberano. Já de saída do cargo, em dezembro passado, Joaquim Levy deu seu último recado ao sucessor: “Ficar parado é o mesmo que andar para trás".