Quem quicou a inflação para cima em maio foi quem fez ela cair em junho: os alimentos e os remédios. É o que mostra o resultado do IPCA-15, divulgado nesta terça-feira (21), que apresentou alta de 0,4% contra 0,86% do mês anterior. Quando a gente olha para onde estava o índice em 2015, o alívio é ainda maior, já que foi de 0,99% no mesmo período. A evolução dos preços é assim mesmo, ela sofre choques o tempo todo – para cima ou para baixo.


Apesar da queda registrada neste mês, a expectativa de inflação para 2016 está subindo há cinco semanas e agora está em 7,25% - longe da meta de 4,5% e, de novo, acima do teto de 6,5% previsto no sistema de metas para inflação adotado pelo Brasil.


Para decidir o que fazer com a taxa de juros, o Banco Central olha sim para a inflação corrente, ou seja, esta do presente. Mas o peso maior da decisão vem das expectativas futuras. Ao acompanhar a evolução das previsões coletadas pelo BC e publicadas pelo relatório Focus, surgiram as dúvidas: afinal, a inflação está caindo ou subindo? Há risco de mais um repique? Eu perguntei ao economista Leandro Negrão, economista do departamento de economia do Bradesco. Como gato escaldado tem medo de água fria, qualquer respingo gelado assusta.

 

“Não vejo isso como preocupação. As previsões pioraram para 2016, mas para 2017 seguem estáveis e ainda mais para frente, em 2018, elas caíram para 4,5%, o que é um excelente sinal para o Banco Central. Quando hoje piora (a expectativa para inflação) e na frente melhora, é sinal de credibilidade do BC. Eu começaria a ficar preocupado se as expectativas estivessem piorando para os próximos anos. Se você tirar o custo do risco político, o câmbio vai ficar mais apreciado (dólar mais baixo) e é este um dos motivos para que a inflação esperada para os próximos anos não tenha piorado”, explicou Negrão.

 

Leandro Negrão também explica que o que foi fonte de pressão para alta dos preços nos últimos anos perdeu força: serviços e preços administrados (controlados pelo governo). Ninguém esquece a alta de 50%, em média, da conta de luz no ano passado. Além de outras correções que precisaram ser feitas depois que o governo de Dillma Rousseff acreditou que poderia controlar os preços na marra, além da tarifa de energia, os combustíveis também passaram anos sob cabresto do governo – além do efeito nefasto na inflação, a estratégia ainda causou rombo bilionário no caixa da Petrobras.

 

Dito isso tudo, vamos ao que interessa: quando os juros vão baixar? Esta piora da inflação corrente pode adiar um alívio na taxa de 14,25% que é a maior do mundo?

 

“O mercado está dividido sobre o momento de fazer a primeira redução da taxa. Se será em agosto ou outubro. Difícil imaginar que só vão começar a reduzir em dezembro ou ano que vem. A credibilidade do Ilan pode ajudar talvez ele não tenha que mostrar que é duro com a inflação. A grande senha deve aparecer no Relatório Trimestral de Inflação que será divulgado até a próxima semana. Ali a gente vai ficar sabendo se Ilan Goldfajn referendou o cenário do último Copom do Alexandre Tombini ou não (ao manter os juros o IPCA fecha na meta de 4,5% em 2017).

 

Há um outro ponto ressaltado pelo Leandro Negrão: a recessão. A economia está muito fraca, mesmo com a possível e esperada estabilidade a partir do segundo semestre. Aliás, para os economistas do Bradesco, o PIB já pode ficar estável agora no segundo trimestre, a conferir. O desemprego vai seguir piorando e ao retirar fonte de renda do mercado, retira também fonte de consumo e investimento – o que enfraquece os repiques inflacionários. Outro ponto que pode e vai ajudar no trabalho do BC será o ajuste fiscal, mesmo que o momento atual seja de rombos e renegociações com os estados que impõem ainda mais restrições. É no médio e no longo prazo que devemos ficar de olho, se há uma dinâmica capaz de reverter o crescimento da dívida pública e dos gastos do governo.

 

No frigir dos ovos, o omelete recheado: a inflação está em trajetória de queda, a despeito da piora na previsão para o IPCA deste ano; a recessão e o desemprego são as forças que têm agido contra a alta dos preços, mesmo que algum ajuste precise ser feito por algum imprevisto em alimentos, sujeitos ao clima; a queda dos juros vai acontecer neste ano entre agosto e outubro, principalmente se os próximos indicadores a serem divulgados até lá confirmem o enfraquecimento dos estímulos que pressionam a inflação. Acreditar nisso também ajuda a baixar os juros. É difícil acreditar, não é? Então, fique curioso, dê ao tempo o benefício da dúvida para saber se poderá respirar mais aliviado, enfim, e com muito merecimento.