O resultado da prévia da inflação de março autoriza um corte mais forte dos juros pelo Banco Central na próxima reunião do Copom em meados de abril. O IPCA-15 ficou em 0,15%, o menor índice mensal em oito anos. Como disse em seu comentário na CBN o comentarista e colunista do G1 João Borges, “o processo inflacionário que começou lá em 2010, quebrou”.
 
A lembrança de João Borges é válida e merece atenção. Engana-se quem acha que a alta do IPCA foi um problema dos anos mais recentes, consequência das inconsequentes políticas adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff.  A raiz do processo inflacionário que assustou o país começou quando o Lula estava no comando e promovia o maior crescimento do PIB da história, de 7,5%.
 
O Brasil não tinha capacidade de produzir para atender a tanta demanda e o BC de Henrique Meirelles deixou o projeto do ex-presidente correr solto naquele último ano de mandato. Com a chegada de Alexandre Tombini, na gestão da sucessora do petista, o controle da inflação perdeu ainda mais espaço para não atrapalhar a ideologia de Dilma Rousseff.
 
Eles brincaram com fogo e quem saiu mais queimado foi o bolso dos brasileiros, especialmente os de baixa renda que não puderam se proteger dos desmandos da política econômica petista. Agora, depois de muita recessão e perdas mais profundas, tudo indica que a queda da inflação é estrutural, ou seja, a formação de preços no país está operando em novas bases e expectativas.
 
A crise dos últimos três anos impôs um corte profundo no consumo das famílias e uma perda abrupta à renda dos brasileiros. Ainda que a retomada do PIB acontecesse com um pouco mais de força do que está vindo, não seria suficiente para espetar o dragão com vara curta. 
 
Por isso a estratégia do BC ganha segurança e a redução dos juros ganhará intensidade. A taxa está agora em 12,25%, depois de sofrer quatro quedas seguidas e mais tímidas desde outubro do ano passado. No Copom dos dias 11 e 12 de abril, devemos assistir a uma queda para 11,25% da taxa básica.
 
A dúvida que fica é se o BC poderá manter o mesmo ritmo de reduções ou terá que reavaliar a intensidade até o encontro de final de maio. Os riscos de uma alta inesperada de preços estão muito menores hoje. Os preços dos alimentos seguirão em baixa e podem cair mais se o episódio da Carne Fraca tomar mais tempo na discussão sobre a qualidade da carne brasileira.
 
A dúvida se mantém no campo fiscal. O buraco é gigante e está difícil cobrir os rombos. As reformas estruturais passaram a ser ameaçadas pelo corporativismo político de Brasília, apavorado com as delações do fim do mundo e suas garras. O Brasil engatinha para sair do ponto mais fundo da crise e, pelo menos por enquanto, a queda da inflação e a consequente redução dos juros são o único empurrão para cima.