A conta de luz no Brasil subiu, em média, quase 50% até outubro deste ano, segundo o IBGE. E não vai parar por aí. Até o ano acabar, mais reajustes deverão ser aprovados pelo país. O impacto na inflação geral, refletida no indicador oficial IPCA, tem sido o mais perverso dos últimos anos. Aliás, o caso brasileiro deve ser inédito ou raro pelo mundo – em apenas um ano, os consumidores estão sendo obrigados a pagar 50% a mais pelo uso da energia. E olha que aqui temos o maior parque hidrelétrico do planeta, gerando energia limpa, barata e renovável.

O peso da tarifa de energia está mantendo o IPCA sob forte pressão. O indicador já fechou o mês de outubro em 9,93%. Levando em conta o que já veio e o que ainda está por vir, a previsão mais recente para a inflação fechada em 2015 está agora em 9,99% – parece até um número cabalístico. Segundo o boletim Focus desta semana, o Brasil revive o fantasma da inflação de dois dígitos – e com uma trajetória nada promissora. Em 2002, primeiro e até então único ano que o país marcou tal (mal) feito, o IPCA ficou em 12,53%.

Lá estava muito claro para todo mundo que era um explosão pontual dos preços, provocada pela disparada do dólar no ano em que o PT chegava ao poder. Ou seja, foi uma alta “conjuntural” e não “estrutural” da inflação. Não havia nenhum indício de contágio intensivo da alta dos preços. Quando o compromisso do ex-presidente Lula de manter a política econômica intacta foi absorvido pela sociedade e pelos investidores, o Banco Central retomou o controle das expectativas e navegou sob a chancela da confiança dos agentes econômicos de que tudo voltaria logo ao normal. E voltou mesmo.

Agora o quadro é bem diferente. O IPCA vem subindo desde 2010. Os estímulos ao consumo alimentaram a alta dos preços pela simples falta de oferta, principalmente dos serviços – marca da conquista da ascensão social da classe C. Mesmo diante deste contexto inequívoco, o Banco Central fez uma aposta arriscada acreditando que o Brasil tinha amadurecido e que podia conviver com taxas de juros civilizadas. Ele estava errado e na teimosia de esperar mais um pouquinho para ver se o jogo virava, ele perdeu o controle sobre a inflação e a confiança dos agentes econômicos.

O labirinto da inflação brasileira, fruto inegável dos erros na condução da economia do país, parece não ter saída. Quando a gente acha que está quase lá, damos de cara com uma nova parede – ora do dólar, ora da gasolina, ora da energia elétrica. Estes choques não serão permanentes, mas dão força a uma dinâmica de preços que está presa a um ciclo vicioso. E para completar o cenário, está difícil acreditar em quem tenta guiar a trilha. Como seguir um Banco Central que está há 5 anos dizendo que o IPCA vai reencontrar os 4,5% da meta de inflação logo ali? Esse “logo ali” é daquele de mineiro que aponta com o queixo uma distância que leva léguas para ser percorrida.