Crédito – querer e poder
O brasileiro de classe média acorda e antes de tomar seu cafezinho com pão francês já sente no bolso o peso das dívidas em seu orçamento.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) feita pela Confederação Nacional do Comércio, agora em março o endividamento das famílias alcançou 60,3% dos lares com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro. Só este dado já seria suficiente para justificar a queda na concessão de novos créditos pelo sistema financeiro nacional, segundo dados do Banco Central desta terça-feira (29) – queda de 0,5% em fevereiro sobre o primeiro mês do ano. Mas há mais razões e mais gritantes.
Os juros cobrados pelo cheque especial estão beirando 300% ao ano! Se um marciano pousasse aqui agora, certamente desistiria de dominar o Brasil por motivo de indecência financeira. Nem daria tempo dele saber dos juros anuais do cartão de crédito: 447%. Não há nada, absolutamente nada, que explique estas taxas, mas elas existem e têm subtraído renda dos brasileiros.
Tão grave quanto este custo absurdo é a falta de noção dos brasileiros sobre quanto devem na praça e para quem. É o que aponta pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito e divulgada também nesta terça – 6 entre cada 10 brasileiros não tem clareza sobre sua dívida. O que o SPC conseguiu levantar é que, 43% dos pesquisados devem ao cartão de crédito!
Diante deste cenário, também está bem explicada a queda da confiança dos consumidores e dos comerciantes apurada pela Fundação Getúlio Vargas neste mês, revelando insegurança com o presente e expectativas negativas para o futuro. Depois de dois meses de queda, o fiozinho de esperança que foi esboçado nas férias de verão foi embora com a estação. O vilão é o desemprego que ameaça bater à porta e desequilibrar ainda mais o dia a dia dos brasileiros. A inflação, que já está em trajetória de queda, ainda cobra sua fatura já que a renda dos trabalhadores já foi comprometida nos últimos meses, reduzindo a capacidade de consumo e de pagamento das dívidas.
Como diz o ditado, só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. E olha que vale no Brasil também, mesmo nessa crise. O impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) ultrapassou os R$ 500 bilhões em pagamentos de impostos este ano. A ACSP sugere o que daria para fazer com esse dinheiro: é possível, por exemplo construir mais de 437.180 km asfaltado de estradas, ou contratar mais de 37.687.936 professores do ensino fundamental por ano. O que não dá para pagar com esses R$ 500 bilhões é a conta de juros da dívida pública dos últimos 12 meses – faltariam R$ 40 bilhões.
A pesquisa do SPC, que revelou que 6 a cada 10 brasileiros não sabem quanto devem, mostra um dado que alivia um pouco a perspectiva para o endividamento das famílias: 37% dos entrevistados estão priorizando o pagamento com as dívidas mais caras. Cheque especial e cartão de crédito são proibitivos
e sempre vale uma conversa com gerente do banco para trocar esta dívida explosiva por uma pagável, com juros do crédito direto ao consumidor.