Já estamos há mais de um ano convivendo com a taxa de juros das mais altas do mundo. Os 14,25% devem continuar reprimindo o crédito e atrasando a recuperação da economia por mais tempo porque o estrago causado na inflação pelos erros do governo de Dilma Rousseff foi grande e vai demandar mais tempo para consertá-lo. É muito difícil entender os porquês do Banco Central para adotar este ou aquele patamar de juros para controlar a inflação. Ainda mais quando a decisão é tão onerosa para o país. A comunicação é uma das ferramentas mais importantes na relação entre os banqueiros centrais e a sociedade. 

 

Ilan Goldfajn, que acaba de chegar à presidência do BC, não deixa mais dúvidas de que a comunicação será a trilha mais eficaz para diminuir a amargura e a distância entra a linguagem técnica demais dos BCs e o entendimento geral das pessoas. A ata da última reunião do Comitê de Politica Monetária, divulgada nesta terça-feira (26), surpreendeu pela simplificação das explicações, redução no tamanho e um português muito mais acessível. Teve até nota de roda pé com uma espécie de “glossário” explicando os “jargões” da política monetária. Mudou a diagramação, o design gráfico e o tamanho – agora são 20 “pontos” e não mais 35. 

 

Ao fazer isso, Ilan impõe sua marca, mas, ao mesmo tempo – e talvez, principalmente – ataca um dos principais problemas do processo inflacionário do momento, que é a chamada desancoragem das expectativas. O presidente do BC simplificando e eu, complicando. Isto quer dizer que a desconfiança da sociedade de que eles vão mesmo conseguir baixar a inflação ainda está alta demais e compromete a queda do índice oficial, o IPCA. Quando não acreditamos que a inflação vai cair num “horizonte de tempo” compreensível, os preços, os salários, tudo vai sendo ajustado num patamar inflacionário muito alto – esse que vivemos há alguns anos, especialmente desde 2015. 

 

Para passarmos a acreditar no fato de que a manutenção dos juros aos 14,25% ao ano (por mais tempo) vai ser eficiente para reduzir a inflação é imperioso entender o porquê e o como. A gestão anterior do BC não só corroeu a credibilidade institucional do Copom para estabilizar a moeda como provocou os maiores ruídos de comunicação da autarquia desde o Plano Real – nem quem entende do babado, a turma do mercado financeiro, era capaz de compreender o que queria Alexandre Tombini. E quando entendia, as reações eram mais de apreensão do que qualquer outra coisa. 

 

A primeira ata do Copom assinada por Ilan Goldfajn é a de número 200 – uma coincidência que pode ajudar o registro da mudança no estilo. Ela foi só a primeira de muitas outras etapas da comunicação que o novo presidente do BC terá que enfrentar para alcançar o maior número de credores de sua gestão. Até porque, além da comunicação, a ferramenta disponível e praticamente a única que pode ajudar de verdade o trabalho do BC é a política fiscal, ou seja, o controle dos gastos públicos. Aliás, isto também está cristalino no documento divulgado nesta terça (26). Sem isso, não valendo milagre ou show de talentos, Ilan Goldfajn vai ficar falando sozinho de lá do BC – mesmo que todo mundo entenda o que ele diz, pouco vai adiantar. Serão palavras compreensíveis ao vento.