Confiança é condição para recuperação
A indústria amarga queda de 7,6% entre abril deste ano e o passado, segundo dados divulgados pelo IBGE. Em 2009 todo, o setor teve queda de 7,4% – a pior em 19 anos. Não é só a produção industrial que alcança comparação com o pior momento da atividade econômica no milênio – o emprego na fábricas também está com desempenho tão negativo quanto aconteceu há seis anos. Em 2014 já teve queda de 3,2%. Nos três primeiros meses de 2015, o quadro acentuou-se para uma redução de 4,6% no nível de emprego do setor.
Quando o tema é expectativa, as comparações negativas vão bem mais longe. O índice de confiança dos empresários da indústria, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, está no menor nível em 10 anos. O indicador sinaliza preocupação com o presente e pessimismo com o futuro, ou seja, a virada ainda está distante. Quando olham para dentro da fábrica, os empresários veem seu custo subindo e a produção baixando, com nível de ociosidade em alta.
Vou me ater à questão da confiança, como condição indispensável para a recuperação da economia. A sondagem de confiança do comércio, também calculada pela FGV, já acumula queda de mais de 15% entre dezembro passado e março. O pessimismo está mais forte com a situação atual e, a expectativa para os próximos seis meses melhorou refletindo alguma esperança dos empresários para o segundo semestre do ano – estão mais positivos do que os colegas da indústria.
A Fundação Getúlio Vargas também acompanha a evolução da confiança da construção civil. Qualquer pontuação abaixo de 100 sinaliza uma percepção negativa da economia. Em maio, o indicador sobre a avaliação da situação atual estava em 59,4, e em 86,4 pontos para as expectativas futuras – menos pior. Para os empresários consultados, tudo que depende de crédito e de obras públicas está fadado a paralisar.
A confiança do consumidor não está diferente de nenhuma das categorias citadas. Em maio, os brasileiros fizeram a pior avaliação sobre sua condição financeira em 10 anos. Foi o que mostrou o levantamento feito também pela FGV. Assim como acontece entre os industriais, os comerciantes e os empresários da construção civil, a percepção dos consumidores sobre a situação atual é pior do que a expectativa para os próximos meses. Ainda assim, as duas visões estão em baixa histórica.
O “ser” mais sensível é o tal do “mercado financeiro”. Ele é sempre o primeiro a mostrar o que sente – para o bem ou para o mal. A movimentação no preço dos ativos financeiros sinaliza a confiança dos investidores – devidamente representados por instituições financeiras – no país e na situação corrente. O “mercado” já passou da fase mais pessimista, vide a recente recuperação da bolsa de valores. O comportamento do dólar, apesar da alta recente, não demonstra ruptura ou risco de.
“Está se formando, não um consenso, mas uma corrente majoritária de opinião de que o governo será relativamente bem sucedido nos ajustes, não só das contas públicas mas também dos preços relativos (conta de luz, por exemplo), num cenário em que o país não está mais no caminho do desastre. Ninguém espera nada de brilhante. Nem significa que não vai haver volatilidade e turbulências à frente. Tudo vai depender de como o governo vai trabalhar as expectativas”, disse ao blog o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola.
Entre as turbulências e a volatilidade, a confiança do consumidor vai piorar antes de melhorar. “O emprego vai continuar tendo uma dinâmica negativa. E no mercado de trabalho, quando a economia retoma, e não vai retomar tanto assim, o emprego não volta ao nível anterior. As empresas se acostumam a trabalhar com menos gente. A produtividade deve crescer antes do emprego se recuperar”, explica Loyola.