Será que o Brasil está preparado para ter uma inflação menor? O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, acredita que sim, que “no longo prazo, nós devemos caminhar para uma meta parecida com outros países emergentes, que tem uma meta de inflação perto de 3%”. A meta brasileira está em 4,5% desde 2005 e desde então ela só foi cumprida duas vezes e, numa terceira ocasião ficou abaixo dela, em 3,14%. Será que já estamos prontos para assumir este objetivo?

 

Nós já tivemos uma meta em torno dos 3%, pouco tempo depois de o Brasil ter adotado a ferramenta em 1999. Mas era cedo demais e o ajuste para cima acabou sendo feito para acomodar o comportamento de preços ainda muito influenciado pela indexação e pelo desequilíbrio das contas públicas. A partir de meados da década passada criou-se a oportunidade para reduzir novamente a meta dos 4,5%, mesmo que fosse num ritmo mais conservador.

 

O problema de se assumir um objetivo mais baixo é sacrificar o crescimento no curto prazo. A meta menor exige um calibre mais apertado da taxa de juros, mas não necessariamente em patamares muito elevados. Assim que a formação de preços vai se adequando à nova realidade, é possível soltar o nó. Disso também depende um equilíbrio mínimo das contas públicas que não interfira na capacidade do estado em se financiar nem na confiança dos investidores na solvência do país.

 

Em 2009 o país brilhava como um porto seguro depois da crise financeira e o ex-presidente Lula não quis perder a carona que este bonde cinco estrelas oferecia. Se o país tivesse uma meta menor para o IPCA, dificilmente teríamos alcançado um PIB de 7,5% em 2010. Aliás, este feito vai ficar isolado na história do Brasil não como um grande triunfo, mas como uma aposta arriscadíssima que deu errado. Todos nós já sabemos aonde viemos parar.

 

O discurso de Ilan Goldfajn agora não acontece por acaso ou soa como uma promessa populista, ao contrário. Ilan precisa preparar um terreno mais espaçoso para a queda da taxa de juros. A recessão foi profunda demais e ninguém é capaz de dizer quais efeitos ela vai provocar nos fundamentos da economia – aqueles mesmos que estavam frágeis para acomodar uma inflação menor.

 

Mas o cenário agora é diferente, porque os sinais são invertidos do que os de 15 anos atrás. O fechamento recorde de empresas, o alto endividamento das famílias, o desemprego, a quebradeira de estados e municípios e a condição do próprio governo federal formam uma conjunção de fatores nunca vivida pelo Brasil. Pelo menos não nos tempos mais modernos e com a existência de uma moeda mais estável como o Real.

 

O que Ilan Goldfajn está vendo, certamente, é o mesmo que muitos economistas já sinalizam. Sem musculatura para reagir e voltar a crescer, a economia não vai suportar juros altos por mais tempo. A queda da inflação, também como resposta à crise, parece estar se acelerando numa velocidade antes não prevista. Se isto se confirmar, o BC poderia ter uma meta menor a perseguir, caso contrário, se precisar baixar mais os juros para desafixar a economia, ele corre o risco de não cumprir a meta – para o outro lado, entregando um IPCA muito abaixo de 4,5%.

 

O presidente do BC foi enfático em dizer que uma meta perto de 3% seria uma coisa para o “longo prazo”. "Ao longo do tempo, e eu estou falando no longo prazo, nós devemos caminhar para uma meta parecida com outros países emergentes, que tem uma meta de inflação perto de 3%. Novamente, estou falando aqui no longo prazo. Nessa posição, você fala uma coisa, as pessoas acham que é para amanhã", destacou.

 

A gente já entendeu. Mas presidente do BC não fala o que não está no seu radar ou o que ele não quer que entre na cabeça de quem analisa o momento da economia. Ilan Goldfajn está testando as expectativas dos agentes econômicos para saber se a redução da meta de inflação é factível. Se a expectativa convergir para o que diz, a estratégia de baixar o objetivo do BC ganha força e lastro – desde que a sinalização seja a mais realista possível.

 

Se o Brasil estará pronto para acomodar uma inflação menor, com juros menores? Tudo indica que sim e que não demore muito a acontecer.