O IPCA cedeu, mas subiu. Esta é a contradição da leitura do resultado do índice oficial de inflação de agosto. O dado divulgado pelo IBGE mostrou uma inflação menor no mês passado, comparada a julho – de 0,44% contra 0,52% do período anterior. Parece um alívio, não? Não totalmente. Em 12 meses, o IPCA subiu de 8,74% para 8,97%. E aí você pergunta como isso pode ter acontecido. Porque em agosto do ano passado o índice foi menor, a metade, então, saiu um número “bom” e entrou um “ruim” elevando o resultado no cálculo final. Os 0,44% de agora também foi a maior alta para um mês de agosto nos últimos dez anos. 

 

Na banca dos alimentos os preços recuaram, mas ainda ficaram mais caros do que normalmente acontece neste período do ano. Esta é uma das fontes de preocupação do Banco Central – a inflação de alimentos. Mesmo ela tendo perdido força no mês passado, ela ainda segue acima do desejado, o que representa um risco no cenário montado pelo BC. Por isso também os analistas já começaram a descartar uma redução dos juros já na próxima reunião do Copom, em outubro. Como BC vai afrouxar as rédeas quando o IPCA sobe? Por mais que faça sentido do ponto de vista da conjuntura – recessão e desemprego – há uma forte sensibilidade sobre a credibilidade dos gestores da estabilidade da moeda. Perceber alguma aceitação de uma inflação um “pouquinho mais alta”, principalmente diante do histórico recente, não faz bem. 

 

Ainda mais porque a inflação sofre riscos inimagináveis, muito além daqueles já considerados, quer ver? Nesta sexta-feira (9) o mundo descobriu que a Coreia do Norte havia feito teste com uma bomba nuclear, deixando os líderes dos países mais ricos de cabelo em pé. Por causa disto, o dólar já abriu em forte alta e voltou para a casa dos R$ 3,23. Para quem já pagou mais de R$ 4, parece pouco, mas não é. Tão nocivo quanto o preço pode ser, é a volatilidade. Como formar preços a partir de um valor que muda constantemente? Para evitar perdas, a maioria dos produtos que dependem do dólar (importação de insumos ou dependentes das commodities) acabam embutindo o risco da volatilidade no preço final. Em períodos mais arriscados esse “prêmio de risco” aumenta e, consequentemente, salga o preço para o consumidor. 

 

Pode não ser nada dramático, como não parece ser o caso agora – tomara. Mas dificulta e atrasa o trabalho de baixar e estabilizar a inflação. Quem cuida disso tem que dormir com um olho aberto e outro fechado. Achar que dá para forçar só um pouquinho para testar alguma novidade, principalmente em países ainda imaturos economicamente, pode causar um bom estrago. Foi o caso da gestão de Alexandre Tombini, ex-presidente do BC, quando ele baixou os juros para 7,25% ao ano mesmo vendo a inflação mais pressionada e longe da meta de 4,5%. A escolha dele e de sua diretoria à época expos o país todo a situações de risco inesperados. A displicência com a política monetária, somada às pedaladas e barbeiragens fiscais, corroeu a margem de manobra que o BC precisa para acomodar os choques imprevisíveis – como este agora da bomba da Coreia do Norte.

 

Ilan Goldfajn, atual comandante do BC, não tem gordura para queimar. Está trabalhando no fio da navalha para baixar a inflação – tanto da navalha da credibilidade quanto da navalha dos preços e da dinâmica da economia. Se não quiser se cortar – ou cortar aqueles que mais sofrem com a inflação alta – Goldfajn precisa fazer movimentos certeiros e com pouca margem para dúvidas. Por isso ele tem investido tanto na comunicação antes de começar a agir nos juros. Fale mesmo conosco, Ilan. Não será fácil de aceitar, mas será mais fácil de entender porque vamos precisar ficar mais um tempo com os juros mais altos do mundo.