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  • Mais euforia ou parcimônia?

    A semana começa recheada de enigmas na política (e na polícia), e de expectativas no mercado financeiro. O dólar abriu nesta segunda-feira (7) operando na estabilidade, como um gato à espreita de alguma surpresa, mas com viés de baixa. A Bolsa de Valores de São Paulo abriu em forte alta, se aproximando dos 50 mil pontos – patamar psicológico que significa que o mercado de ações colocou a cabeça para fora d’água. “Ainda é só expectativa, o mercado precisava dessa respirada porque a pressão para baixo estava durando demais. Mas ainda tem muito artificialismo, vide o que está acontecendo com as ações da Vale que subiram 70% em um mês. Não há fundamento para isso”, avalia Adeodato Netto, chefe da divisão de mercado de capitais da Eleven Financial.

     

    Nos últimos dias prevaleceu a euforia com a possibilidade de uma ruptura política no país, provocada pela aproximação da operação Lava Jato ao governo e ao ex-presidente Lula. Como eu disse na semana passada, o movimento extravagante diante da crise econômica que o Brasil atravessa não tinha relação com valor dos ativos negociados, ou com uma mudança nas perspectivas para PIB, inflação ou contas públicas. O que o mercado faz é procurar o “preço do país” numa eventual mudança, mesmo que ela ocorra lá na frente e nem se saiba bem como isso vai se dar. Outra coisa que o mercado faz é escancarar qualquer fresta que apareça para se reposicionar, realizar algum lucro e sair na frente – comprar na baixa, vender na alta é o lema mais famoso de quem opera na banca.

     

    Os dias têm durado bem mais de 24 horas com tantos acontecimentos. Por isso, entre a última sexta-feira e o início desta semana, foi insana a tentativa de entender todas as probabilidades e rascunhar desfechos. Aliás, quem se atrever a adivinhar algum certamente estará brincando de “chute a gol”. É nesse clima que os mercados vão operar. E no meio desta partida, os indicadores econômicos vão disputar atenção com a política. Só do IBGE, vamos saber o resultado do IPCA de fevereiro, a vendas do varejo e o desempenho dos serviços, ambos de janeiro. Pela média das previsões, a inflação oficial deve ter ficado em 1% no mês passado, o que vai reduzir para cerca de 10,45% o índice em 12 meses – o que ainda é muito alto.

     

    A revisão nas expectativas coletadas pelo Banco Central e publicadas no relatório Focus corroboram que, mesmo com a euforia da última semana, os investidores seguem pessimistas com a trajetória da economia – recessão mais longa já contratada e a resistência inflacionária mais intensa desde o Plano Real, ou seja, desde a estabilidade da moeda. Do BC também sairá a ata da última reunião do Copom, que decidiu pela manutenção da taxa básica Selic em 14,25% ao ano. O discurso do comitê tem sido o de dar à recessão a responsabilidade de baixar a inflação, por isso não se mexe mais nos juros – o trabalho será feito pelo desemprego, perda de renda e paralisia da produção. À parte da barafunda politica, o BC reage da mesma forma de quando estava no centro das atenções – não é comigo. 

  • No mercado, Brasil gera mais medo que apetite por investimento

    Cenário nas últimas semanas de dezembro ainda está muito confuso, e o agravamento da crise política deixa os investidores sem saber o que acompanhar.



  • O que vem depois do rebaixamento?

    Na história econômica brasileira o chamado "grau de investimento" é uma experiência muito recente. O país alcançou este patamar de “gente grande” no mercado financeiro internacional em 2008, há 7 anos – é pouquíssimo tempo. Daria até para dizer que quem já viveu tantos anos sem este selo de bom pagador, poderia encarar mais alguns outros. Não é bem assim.

    No final dos anos 90, muito antes da conquista do grau de investimento, o Brasil era um país de segunda categoria, considerado de altíssimo risco, marcado por uma moratória, pela hiperinflação, pelo confisco da poupança, o impeachment de um presidente por corrupção e finalmente um plano de estabilização ainda muito vulnerável. A grande virada para a construção de um país confiável aconteceu a partir de 1999, com a implementação do ‘tripé econômico’ – metas para inflação, câmbio flutuante e responsabilidade na gestão das contas públicas para reduzir o endividamento soberano.

    O caminho para alcançar a nota mínima do grau de investimento começou muito antes de 2008. O reconhecimento das agências de classificação de risco se deu porque o Brasil realmente tinha sido competente para administrar a economia sem solavancos e com riscos controlados. E foi assim até meados de 2009. A partir de então, o governo – primeiro com Lula e depois no primeiro mandato de Dilma Rousseff – escolheu usar o crédito e a folga que o país havia conquistado para fazer experimentos com a política econômica.

    A “nova matriz econômica” de Guido Mantega e parceiros de primeiro mandato, lançou mão de medidas impensáveis em tempos de estabilidade, como controle de preços e o uso exagerado dos bancos públicos para distribuir crédito subsidiado pelo dinheiro do Tesouro Nacional. As “pedaladas fiscais” são a cereja do bolo da irresponsabilidade na gestão dos gastos públicos e da falta de transparência – duas condições imprescindíveis para quem tem o tal do grau de investimento.

    A recessão, a explosão dos preços, a disparada do desemprego, a alta dos juros (que encarece ainda mais o endividamento do país), a queda da confiança de empresários e consumidores e a crise política são, ao mesmo tempo, causa e efeito das escolhas equivocadas feitas nos últimos cinco anos. Este quadro acabou forçando o governo a mexer no último fiel da balança que vinha segurando o Brasil acima da linha na classificação de risco país: a meta de superávit primário, que virou até papo de botequim, quem diria.

    O rebaixamento da nota de risco é, hoje, muito mais uma questão de “quando” do que de “se” vai acontecer. Diante desta realidade, seria muito mais produtivo já começar a planejar o que fazer quando o rebaixamento chegar. Porque o caminho de volta ao terreno dos “arriscados” não vai ser nada fácil e vai carregar tudo que estiver pelo caminho do investimento e da retomada da economia. Não precisamos voltar para onde estávamos há 15 anos. Até porque, há conquistas que mantivemos que dão ao Brasil um bom oxigênio – o nível de reservas internacionais pode garantir muitos meses de financiamento e segurança aos investidores estrangeiros. 

    Não há um “manual” de “Como recuperar o grau de investimento em 10 lições”. Mas existe sim uma série de requisitos e condições para que o país não se distancie tanto do limite entre os bons e os maus:  responsabilidade, comprometimento, transparência, realismo, coesão e vontade política certamente estão no topo da lista.

  • Quem manda no dólar?

    Em plena sexta-feira 13 o dólar resolveu assustar mais que o lobisomem. Logo na abertura do mercado ele ultrapassou a casa dos R$ 3,20, desafiando investidores e a opinião pública. Será que é tudo culpa da crise nacional? A resposta é não, mas isso não isenta o Brasil de uma boa parcela de responsabilidade pela desvalorização mais acentuada do real frente ao dólar.

    A moeda americana está se valorizando contra a maioria das moedas no mundo numa velocidade que surpreende até analistas estrangeiros. Mesmo surpresos com a intensidade, ninguém pode dizer que não esperava este movimento. Enquanto os EUA inundavam o mundo com dólares (tsunami monetário), ninguém reclamou. Ficou mais barato se endividar na moeda estrangeira e importar, e a distribuição de investimentos pelo planeta cresceu.

    No caminho de volta à normalidade, a economia americana vira um ímã que chama de volta todos os seus dólares espalhados e escondidos por aí. Além de serem sugados pela força da recuperação dos EUA, os investidores estão correndo de ativos arriscados, países com baixa credibilidade, ambientes desequilibrados e, principalmente, sem horizonte. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.

    “O real é a moeda com o pior desempenho de todas. Essa desvalorização de agora era necessária e devia ter começado antes. A política de intervenção do Banco Central atrasou essa volta e, quanto mais demorou, mais desequilíbrios causou. Agora, que precisaria intervir com mais agressividade, ele ficou preso numa briga de gato e rato com o mercado”, disse ao G1 um economista brasileiro de um grande fundo internacional. 

    Para o economista, por enquanto, o BC está de “rato” nesta briga com o mercado. A forte procura por proteção contra novas altas do dólar tem provocado uma dinâmica “desestabilizadora” no mercado de câmbio, o que não deveria ser aceito pela autoridade monetária. 

    “O BC precisa comprar tempo usando as armas que ele tem: intervenção no câmbio e juros. Mas não no ritmo que ele fez até agora. É como aquele camarada que só toma homeopatia por princípio e quando o bicho pega, ele vai direto para a cortisona. Não é um processo suave e quanto mais eles se recusarem a fazer, menos eficiente fica a “cortisona” da emergência”, pondera a fonte.

    O dólar mais caro favorece a indústria, a exportação, a competitividade, além de equilibrar as contas externas. Mas o preço desse benefício chega numa hora que o Brasil não tem como pagar: a inflação. A taxa de juros mais alta (maior do planeta) tem ajudado a segurar investidor aqui, mas deixou de atrair gente nova porque os riscos subiram muito. 

    Ainda estamos longe de prever o balanço final desse confronto entre o Brasil, seus ativos e o mercado. Quem manda no dólar quer que ele fique mais caro. Quem manda no real quer muitas coisas, mas ainda não se decidiu por onde começar. Até porque está difícil mesmo apontar um caminho que atraia seguidores.

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.