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  • O vilão da inflação mora ao lado

    A inflação está cedendo mais rápido e com mais intensidade do que se esperava. O IPCA de março, divulgado pelo IBGE, parece ter debelado o fantasma da inflação de dois dígitos que assombrava o país. No mês passado, a alta foi de 0,43% e, em 12 meses, o indicador baixou para 9,39%. Nada é impossível, ainda mais sob bombardeiro da crise política, mas é muito improvável que o Brasil volte a registar uma inflação acima de 10% num futuro próximo. No balanço de riscos exposto pelo próprio Banco Central, há sinais alarmantes de que a economia brasileira está numa rota ainda mais negativa, mas a trajetória dos preços deve reagir na direção contrária. A força da recessão e do desemprego parece ser mais potente do que o desarranjo institucional e social vigente.


    Assim como tem acontecido desde meados de 2013, o maior vilão da inflação foi e continua sendo o governo federal. Quanto mais o BC subia os juros para inibir o consumo e enxugar a quantidade de dinheiro no mercado, mais o ministro da Fazenda mandava liberar os gastos públicos. De um ano para cá, o descalabro ganhou uma dimensão assustadora. Em 2015, o rombo no caixa do Tesouro Nacional passou dos R$ 110 bilhões. Agora em 2016, o saldo negativo deve se repetir, talvez um bocado menor. Quem faz as contas da dinâmica corrente da gestão dos cofres públicos começa a falar em mais um ano de déficit acumulado nas contas. Se isso não for má gestão, alguém precisa sugerir uma explicação convincente e realista.

     

    Veladamente, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem dito que o governo está gastando mais sim, não apenas lidando com uma queda de receitas por causa da recessão. Este alarde é tão grave quanto os resultados colhidos até agora da política econômica acatada pela presidente Dilma Rousseff, sob a liderança do ministro Nelson Barbosa – a chamada Nova Matriz Econômica. Se o que aconteceu até agora não foi suficiente para convencê-lo a mudar de estratégia e passar a proteger os cofres públicos e os efeitos que seu descontrole geram na inflação, provavelmente vamos assistir ao agravamento do mercado de trabalho e da cadeia de produção brasileira.

     

    Como ressaltou a própria porta-voz do IBGE, ao anunciar o IPCA de março, mesmo em queda, mesmo menos pressionada, mesmo fora dos dois dígitos, a inflação brasileira continua alta demais e estamos longe de acomodar os reajustes violentos que foram feitos na conta de luz, por exemplo. Mesmo com a entrada em vigor da bandeira tarifária mais barata a partir deste mês, no acumulado dos últimos meses, a alta média das tarifas de energia elétrica no Brasil é de 45%! Boa parte da acomodação dos preços em vigor tem acontecido pelo corte perverso que as famílias brasileiras têm feito em seu orçamento – lição que deveria se impor ao governo federal. 

  • IPCA dá alívio, mas batalha não está sendo ganha

    Por enquanto, quem empurra os preços para baixo é o dólar e a recessão. Assista no vídeo abaixo.



  • Inflação 'descontrolada', confiança devastada

    Mesmo sob a promessa de uma recessão cada vez mais intensa e prolongada, a expectativa para inflação brasileira continua piorando. Os dados são coletados e divulgados pelo Banco Central através do Relatório Focus. O documento desta semana traz piora em todos os quatro índices de preços considerados pelo BC na pesquisa feita com 100 instituições financeiras que atuam no Brasil.

     

    As previsões para 2016 para IPCA, calculado pelo IBGE;  IGP-DI e IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas; e o IPC da Fipe estão há sete semanas sendo reajustadas para cima. O indicador oficial esperado para dezembro, o IPCA, já bateu em 7,61%, estourando a meta de inflação mais uma vez. Para 2017, a deterioração das expectativas está mais lenta mas igualmente perversa. Os analistas esperam que o índice fique em 6% no ano que vem – revelando que a evolução dos preços não será contida tão cedo.

     

    Rapidamente, as diferenças entre os indicadores de inflação considerados no relatório Focus são de períodos, fontes de coleta e faixas salariais dos consumidores. Por exemplo, o IPCA mede o custo de vida das famílias com renda de até 40 salários mínimos, os IGPs da FGV, acompanham os preços do processo produtivo variando os períodos de pesquisa, e o IPC da Fipe está restrito à cidade de São Paulo, na faixa de famílias com renda de até 10 salários.  Os quatro juntos, então, são uma boa fotografia do que acontece na formação de preços do país. (veja a especial de inflação do G1)

     

    A fotografia atual mostra que o processo inflacionário brasileiro não está mais restrito ao ajuste dos preços administrados (energia, transportes, combustíveis) que aconteceu em 2015. A contaminação já escapou das mãos da política econômica do governo Dilma e da gestão do Banco Central. Para os analistas da XP Investimentos a inflação está “descontrolada no longo prazo”, segundo relatório enviado a clientes com análise do Focus. Um enunciado forte sobre uma realidade incerta.

     

    O contágio não está sendo alimentado por uma alta imprevista de algum item da cesta básica brasileira, ou de uma matéria prima essencial ao país como a gasolina ou o trigo. Ele se dá absolutamente por medo. Com medo, o comportamento dos agentes econômicos vai ficando cada vez mais defensivo, descolando o valor das mercadorias e serviços ao seu custo de produção.

     

    Para quebrar este ciclo destruidor de valores só há uma produtora de resultados: a confiança. Este sentimento também já extrapolou a figura de um presidente, um político, um ministro ou gestor de banco central. A recuperação da confiança precisa começar pela auto estima das pessoas que acreditam em sua competência e disposição para melhorar de vida. Num cenário de desemprego, perda massiva de poder de compra e desesperança com as lideranças, o desalento dos cidadãos corrói a auto confiança, adia planos e prolonga a crise – infelizmente.

     

    Agenda da semana

    Serão divulgados dados sobre desemprego, serviços e varejo que fecham o ano de 2015. O Banco Central também divulgará o seu índice de atividade, também conhecido como prévia do PIB, o IBC-Br de dezembro e do ano passado fechado. Os resultados vão dar mais clareza sobre a intensidade da recessão e seus estragos na economia brasileira. 

     

  • Inflação vai baixar ‘logo ali’, diz o mineiro

    A conta de luz no Brasil subiu, em média, quase 50% até outubro deste ano, segundo o IBGE. E não vai parar por aí. Até o ano acabar, mais reajustes deverão ser aprovados pelo país. O impacto na inflação geral, refletida no indicador oficial IPCA, tem sido o mais perverso dos últimos anos. Aliás, o caso brasileiro deve ser inédito ou raro pelo mundo – em apenas um ano, os consumidores estão sendo obrigados a pagar 50% a mais pelo uso da energia. E olha que aqui temos o maior parque hidrelétrico do planeta, gerando energia limpa, barata e renovável.

    O peso da tarifa de energia está mantendo o IPCA sob forte pressão. O indicador já fechou o mês de outubro em 9,93%. Levando em conta o que já veio e o que ainda está por vir, a previsão mais recente para a inflação fechada em 2015 está agora em 9,99% – parece até um número cabalístico. Segundo o boletim Focus desta semana, o Brasil revive o fantasma da inflação de dois dígitos – e com uma trajetória nada promissora. Em 2002, primeiro e até então único ano que o país marcou tal (mal) feito, o IPCA ficou em 12,53%.

    Lá estava muito claro para todo mundo que era um explosão pontual dos preços, provocada pela disparada do dólar no ano em que o PT chegava ao poder. Ou seja, foi uma alta “conjuntural” e não “estrutural” da inflação. Não havia nenhum indício de contágio intensivo da alta dos preços. Quando o compromisso do ex-presidente Lula de manter a política econômica intacta foi absorvido pela sociedade e pelos investidores, o Banco Central retomou o controle das expectativas e navegou sob a chancela da confiança dos agentes econômicos de que tudo voltaria logo ao normal. E voltou mesmo.

    Agora o quadro é bem diferente. O IPCA vem subindo desde 2010. Os estímulos ao consumo alimentaram a alta dos preços pela simples falta de oferta, principalmente dos serviços – marca da conquista da ascensão social da classe C. Mesmo diante deste contexto inequívoco, o Banco Central fez uma aposta arriscada acreditando que o Brasil tinha amadurecido e que podia conviver com taxas de juros civilizadas. Ele estava errado e na teimosia de esperar mais um pouquinho para ver se o jogo virava, ele perdeu o controle sobre a inflação e a confiança dos agentes econômicos.

    O labirinto da inflação brasileira, fruto inegável dos erros na condução da economia do país, parece não ter saída. Quando a gente acha que está quase lá, damos de cara com uma nova parede – ora do dólar, ora da gasolina, ora da energia elétrica. Estes choques não serão permanentes, mas dão força a uma dinâmica de preços que está presa a um ciclo vicioso. E para completar o cenário, está difícil acreditar em quem tenta guiar a trilha. Como seguir um Banco Central que está há 5 anos dizendo que o IPCA vai reencontrar os 4,5% da meta de inflação logo ali? Esse “logo ali” é daquele de mineiro que aponta com o queixo uma distância que leva léguas para ser percorrida. 

  • O IPCA em 2003

    O resultado do IPCA de setembro, apurado pelo IBGE, foi de uma alta de 0,54% – um forte repique em relação ao mês anterior e com reflexos claros do efeito da alta do dólar nos preços. Esse desempenho é comparável ao alcançado em 2003, primeiro ano do mandato do ex-presidente Lula. O país se recuperava de uma grave crise de confiança, impulsionada pelo medo da chegada do PT ao poder, o que poderia significar o abandono da política econômica baseada no sistema de metas para inflação, geração de superávits primários e câmbio flutuante.

    A crise vivida em 2002 foi aguda e contagiou a economia nos primeiros meses do ano seguinte. Passado o medo e com o compromisso público de Lula de que manteria tudo como estava – e manteve mesmo – o país foi se restabelecendo, se aprumando e se preparando para o melhor período da economia brasileira e mundial em décadas. Vou abusar um pouco dos números para aumentar o escopo de comparação e de visão do quadro geral – não só da economia brasileira, mas também das expectativas e da situação internacional.

    Antes de começar, é preciso dizer que aquela batalha era mais fácil e com final previsível para o positivo. E isso não é avaliação de “engenheiro de obra feita” – o caminho estava iluminado e era só uma questão de tempo.

    Em janeiro de 2003 a meta de inflação foi ajustada pelo Banco Central para 8,5%, sem bandas de flutuação. Ela fechou em 9,3%. Por ter estourado os limites o BC foi obrigado, ao final daquele ano, a escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda (Antônio Palocci à época) com as explicações para o descumprimento e as estratégias para a retomada do controle dos preços. A carta explicou que 55% de toda inflação acumulada em 2003 se deu nos três primeiros meses do ano. A partir de então, o IPCA caiu com força. O que corroborava a avaliação de que o contágio vindo de 2002 se dissiparia rapidamente.

    Diferenças do contexto geral
    Em 2003, a política fiscal estava muito apertada, com forte controle sobre os gastos. Para você ter uma ideia, a meta de superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) era de incríveis 4,5% do PIB – e foi mais do que cumprida. Mundo afora, tudo era festa. A China comprava o que estivesse disponível no mercado, os preços das commodities agrícolas subiam às alturas e os países ricos cresciam lindos e felizes. Uma diferença essencial entre lá e hoje: em 2003, o BC tinha o controle das expectativas, o que aumentava a eficácia de suas ações.

    Tanto assim que, mesmo partindo de um momento extremamente negativo, as previsões para o crescimento da economia e até mesmo para a inflação do período eram bem positivas. Em 2003 o PIB caiu 0,5%. Em 2004, cresceu 5,2%. E o IPCA? Em 2004, caiu para 7,6%, dentro da meta daquele ano, que era de 5,5%, com bandas de 2,5 pontos percentuais, para cima e para baixo. Está vendo que, mesmo com ambiente mais promissor e um BC com credibilidade, é difícil reverter a trajetória da inflação? Se todo mundo acreditar que a seta apontada pelo governo vai dar no lugar certo, ela cai com mais força.

    Na política, Lula tinha apoio até dos adversários. E agora?

    Agora temos uma total inversão de cenário. Para começar falando das contas públicas, fechamos 2014 no vermelho e, não valendo milagre, vamos amargar o mesmo resultado este ano. A meta atual para o superávit primário (que foi abandonado nos últimos 3 anos) é de apenas 0,15% do PIB. As despesas do governo cresceram sistematicamente acima da economia nos últimos anos, consumindo competitividade. No caso da inflação, ela está perto de 9,50%, num país em recessão. A diferença essencial aqui: o controle de preços. O governo passou mais de 2 anos controlando preços de carros, produtos da linha branca, passagem de transporte urbano, energia elétrica, gasolina e também do dólar.

    Na carta que terá que justificar suas falhas em 2015, Alexandre Tombini e os diretores do Banco Central terão desafio gigantesco para explicar porque diabos  foram coniventes com o controle de preços. Afinal, o IPCA de agora é consequência exatamente disso. Vai ter que explicar porque seus instrumentos perderam eficácia e credibilidade. Vai ter que explicar porque não consegue controlar as expectativas dos agentes econômicos.  E para falar do futuro? Vamos ter que esperar até início do ano que vem para saber o que estaremos enxergando naquele momento porque, hoje, está tudo nublado.

    E na política, temos o governo mais reprovado da democracia e bombardeado pelo Congresso Nacional.

    PS: A presidente Dilma Rousseff diz que já “vê luz no fim do túnel”. 

  • Economia vive combinação mais perversa

    O preço da cebola está 148,13% mais alto desde o começo do ano. A culpa é da safra do período, que perdeu qualidade com as chuvas. A cesta básica na cidade de São Paulo é a mais cara do Brasil, valendo R$ 392,77 – sobram R$ 395,23 no bolso de quem ganha um salario mínimo, que está em R$ 788. Mesmo sendo surreal, a alta da cebola e a disparada da cesta básica são apenas parte da dinâmica perversa que se impõe sobre a economia brasileira em 2015.

    Além de lidar com carrinho de supermercado, o consumidor corta produtos e serviços, faz e refaz as contas, tenta eleger as prioridades da família e, se consegue chegar ao fim do mês no “azul”, começa o mês seguinte com medo de perder o emprego. Para quem o orçamento não fecha, o atraso no pagamento de contas já alcançou os essenciais como telefone, luz e compras no varejo. Convenhamos que pagar uma conta de energia até 70% mais cara e manter todo o resto em ordem não é para qualquer um.

    O ciclo de ajuste de preços na economia está no meio do percurso. Enquanto os juros forem subindo, todo resto vai se ajustando ao novo “valor” do dinheiro. A mesma coisa acontece com as tarifas administradas, que seguem em alta, superando as estimativas de ajuste feitas no começo do ano. Se não conseguem repassar o aumento de custos para os preços porque não há demanda, a indústria, o comércio e os serviços têm que cortar “do portão para dentro” – as demissões e aumento do desemprego são reflexo desse movimento.

    Enquanto isso o governo vai tirando o “corpo fora” dessa briga, porque não tem como enfrentar a situação. Ele tem mesmo que sair, para não comprometer ainda mais a capacidade de gerência das contas públicas. Aliás, foi porque quis financiar a atividade econômica a qualquer custo e gerando ineficiência que a administração de Dilma Rousseff colocou o Brasil onde estamos agora. Sem caixa e sem credibilidade, o governo do PT em seu quarto mandato encara outras prioridades – que não incluem aliviar a correção da economia.

    O ambiente é dramático sim, não cabe criticar um exagero. E o pior drama atinge quem é mais fraco para lidar com ele: os mais pobres – vide o custo da cesta básica. Não é à toa que a inflação é conhecida como imposto mais perverso que existe. Não é à toa que a confiança dos consumidores está cada vez menor e a insegurança com o futuro cada vez maior. O Brasil não vai “quebrar”, não se trata disso. Será um tempo de perda de conquistas sociais e de paralisação da economia; de desalento e reflexão sobre as escolhas das prioridades do país. 

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.