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  • Juros serão determinantes para o crescimento

    O ano começa com boas surpresas para a economia. Dessa vez foi o IPCA de fevereiro que ficou em 0,33%, o menor para o mês desde 2000. O índice veio abaixo do esperado e 70% do resultado foi por conta dos reajustes na educação, um movimento esperado para o início do ano. A estatística mostra que as chances de a inflação ficar abaixo de 4% no ano cresceram e isso quer dizer que o Banco Central tem tudo para cortar os juros com mais força.
     
    A queda mais rápida e mais intensa da taxa básica será determinante para o ritmo de retomada da economia. Por enquanto, as estimativas para o PIB de 2017 continuam muito baixas, em torno de 0,5%, porque o tombo da recessão nos últimos dois anos foi profundo demais. Mas essa leitura não levou em consideração o derretimento dos preços, muito menos um BC mais solto e seguro para levar os juros para um dígito antes de o ano acabar.
     
    Isso provoca efeitos importantes no ambiente geral do país. O primeiro deles, o alívio no bolso. Mesmo que para muita gente o poder de compra ainda esteja comprometido, a queda nos preços dos alimentos – que deve continuar ao longo do ano – equilibra as contas domésticas mais rapidamente. Até a inflação de serviços recua e já está reduzindo seu peso no orçamento das famílias.
     
    Outra sensação importante é a percepção de que o pior já passou e de que o país vai começar a voltar “ao normal”. Isso mexe com confiança, acalma a angústia e cria espaço para que pessoas e empresas voltem a fazer planos com mais segurança. Por isso as expectativas dos agentes econômicos são tão relevantes para a estabilidade da moeda.
     
    Se os brasileiros perderem o medo do futuro vão deixar de se proteger contra a moeda e indexarem preços. O processo inflacionário vai perdendo suas garras e facilita o trabalho do BC. Porém, é preciso fazer um alerta importante aqui. Se a tendência de desinflação mais acentuada se mantiver, o Copom terá que ser muito cauteloso para não deixar brechas para um repique da inflação. Isso não significa parar de reduzir os juros, ao contrário, mas cada movimento terá que ser muito bem fundamentado, sem euforia.
     
    Nos próximos meses vai ser preciso ver a atividade econômica reagir positivamente como está acontecendo com os preços. Assim o ajuste nas estimativas para o PIB acontece com mais segurança. O IBGE acabou de revisar para cima, mais uma vez, a expectativa para a safra deste ano, que pode ser mais de 21% maior do que a de 2016. Isto é geração de riqueza e vai se reverter em mais crescimento.
     
    Os componentes para a recuperação do Brasil estão se firmando e dando bons sinais. Os riscos permanecem, como a aprovação da reforma da previdência e a governabilidade de Michel Temer diante do lamaçal ameaçador da Lava Jato. Mas como conseguiu até aqui, a credibilidade da equipe econômica e o esgotamento da recessão vêm andando por fora da crise politica. Que siga assim. O Brasil precisa.

  • Como seria bom poder guardar dinheiro embaixo do colchão!

    Outra colaboração da jornalista Laura Naime, que faz mestrado em Estudos Globais na Áustria, para o blog:

     

    "Recentemente passei a alugar um quarto no apartamento de uma austríaca, em Viena. 400 euros por mês por um quarto mobiliado. Alexandra pediu para receber em dinheiro, o que eu estranhei. Afinal, no Brasil, a explicação mais provável para um pedido desses é que a pessoa queira escapar das garras do imposto de renda. 

     

    Mas ela me explicou apenas que esse era um dinheiro “marcado”, e que portanto preferia guardar em casa, separado do resto — para uma viagem que ela pretende fazer em 2018! 

     

    Se você é brasileiro e, como eu, já passou dos 30 há algum tempo, entende meu susto: guardar dinheiro embaixo do colchão é perigoso — e não estou falando do risco de sofrer um assalto. Lá pelos idos de 1980, 1990, o dinheiro perdia valor de um dia para o outro, com a inflação batendo em até 80% num mês.

     

    Mesmo depois do fim da hiperinflação, esse fantasma nunca deixou o brasileiro totalmente em paz. No ano passado, quando a inflação no Brasil foi a menor desde 2013, ainda assim ficou em 6,29% — na Áustria, foi de 1%.

     

    Essa inflação corrói o poder de compra e atrapalha a capacidade do brasileiro de se programar. A Alexandra não precisa se preocupar com a possibilidade de um choque econômico atrapalhar suas férias no próximo ano porque economiza em moeda estável e forte (e suspeito que também não tenha que se preocupar com o risco de ser assaltada). Mas o brasileiro que quiser começar agora a economizar para as férias de 2018 precisa procurar um banco e estudar investimentos para decidir pela melhor opção. O custo da incerteza não é apenas financeiro, mas também em tempo. 

     

    Enquanto isso, para a Alexandra, procurar um investimento mal valeria o esforço. Com inflação e juros baixos, uma poupança de 5 mil euros chegaria a render pouco mais de 1 euro em um ano — dinheiro que não valeria meia hora de esforço. 

     

    Um país onde as pessoas podem guardar sem medo o dinheiro embaixo do colchão não é bom só para os cidadãos. Com estabilidade, lojas, empresas, indústrias, podem concentrar seus esforços na produção e no que sabem fazer de melhor — sem gastar tanto tempo e recursos tentando prever e se proteger de possíveis cenários adversos, de disparadas ou quedas abruptas de preços, de mudanças de leis, de taxas de juros que variam a cada mês.

     

    Bom para o crescimento do país e para as férias de todo mundo."

     

  • Brasil pode ter meta de inflação mais baixa

    Será que o Brasil está preparado para ter uma inflação menor? O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, acredita que sim, que “no longo prazo, nós devemos caminhar para uma meta parecida com outros países emergentes, que tem uma meta de inflação perto de 3%”. A meta brasileira está em 4,5% desde 2005 e desde então ela só foi cumprida duas vezes e, numa terceira ocasião ficou abaixo dela, em 3,14%. Será que já estamos prontos para assumir este objetivo?

     

    Nós já tivemos uma meta em torno dos 3%, pouco tempo depois de o Brasil ter adotado a ferramenta em 1999. Mas era cedo demais e o ajuste para cima acabou sendo feito para acomodar o comportamento de preços ainda muito influenciado pela indexação e pelo desequilíbrio das contas públicas. A partir de meados da década passada criou-se a oportunidade para reduzir novamente a meta dos 4,5%, mesmo que fosse num ritmo mais conservador.

     

    O problema de se assumir um objetivo mais baixo é sacrificar o crescimento no curto prazo. A meta menor exige um calibre mais apertado da taxa de juros, mas não necessariamente em patamares muito elevados. Assim que a formação de preços vai se adequando à nova realidade, é possível soltar o nó. Disso também depende um equilíbrio mínimo das contas públicas que não interfira na capacidade do estado em se financiar nem na confiança dos investidores na solvência do país.

     

    Em 2009 o país brilhava como um porto seguro depois da crise financeira e o ex-presidente Lula não quis perder a carona que este bonde cinco estrelas oferecia. Se o país tivesse uma meta menor para o IPCA, dificilmente teríamos alcançado um PIB de 7,5% em 2010. Aliás, este feito vai ficar isolado na história do Brasil não como um grande triunfo, mas como uma aposta arriscadíssima que deu errado. Todos nós já sabemos aonde viemos parar.

     

    O discurso de Ilan Goldfajn agora não acontece por acaso ou soa como uma promessa populista, ao contrário. Ilan precisa preparar um terreno mais espaçoso para a queda da taxa de juros. A recessão foi profunda demais e ninguém é capaz de dizer quais efeitos ela vai provocar nos fundamentos da economia – aqueles mesmos que estavam frágeis para acomodar uma inflação menor.

     

    Mas o cenário agora é diferente, porque os sinais são invertidos do que os de 15 anos atrás. O fechamento recorde de empresas, o alto endividamento das famílias, o desemprego, a quebradeira de estados e municípios e a condição do próprio governo federal formam uma conjunção de fatores nunca vivida pelo Brasil. Pelo menos não nos tempos mais modernos e com a existência de uma moeda mais estável como o Real.

     

    O que Ilan Goldfajn está vendo, certamente, é o mesmo que muitos economistas já sinalizam. Sem musculatura para reagir e voltar a crescer, a economia não vai suportar juros altos por mais tempo. A queda da inflação, também como resposta à crise, parece estar se acelerando numa velocidade antes não prevista. Se isto se confirmar, o BC poderia ter uma meta menor a perseguir, caso contrário, se precisar baixar mais os juros para desafixar a economia, ele corre o risco de não cumprir a meta – para o outro lado, entregando um IPCA muito abaixo de 4,5%.

     

    O presidente do BC foi enfático em dizer que uma meta perto de 3% seria uma coisa para o “longo prazo”. "Ao longo do tempo, e eu estou falando no longo prazo, nós devemos caminhar para uma meta parecida com outros países emergentes, que tem uma meta de inflação perto de 3%. Novamente, estou falando aqui no longo prazo. Nessa posição, você fala uma coisa, as pessoas acham que é para amanhã", destacou.

     

    A gente já entendeu. Mas presidente do BC não fala o que não está no seu radar ou o que ele não quer que entre na cabeça de quem analisa o momento da economia. Ilan Goldfajn está testando as expectativas dos agentes econômicos para saber se a redução da meta de inflação é factível. Se a expectativa convergir para o que diz, a estratégia de baixar o objetivo do BC ganha força e lastro – desde que a sinalização seja a mais realista possível.

     

    Se o Brasil estará pronto para acomodar uma inflação menor, com juros menores? Tudo indica que sim e que não demore muito a acontecer.   

  • BC trabalha 'no fio da navalha' para baixar a inflação

    O IPCA cedeu, mas subiu. Esta é a contradição da leitura do resultado do índice oficial de inflação de agosto. O dado divulgado pelo IBGE mostrou uma inflação menor no mês passado, comparada a julho – de 0,44% contra 0,52% do período anterior. Parece um alívio, não? Não totalmente. Em 12 meses, o IPCA subiu de 8,74% para 8,97%. E aí você pergunta como isso pode ter acontecido. Porque em agosto do ano passado o índice foi menor, a metade, então, saiu um número “bom” e entrou um “ruim” elevando o resultado no cálculo final. Os 0,44% de agora também foi a maior alta para um mês de agosto nos últimos dez anos. 

     

    Na banca dos alimentos os preços recuaram, mas ainda ficaram mais caros do que normalmente acontece neste período do ano. Esta é uma das fontes de preocupação do Banco Central – a inflação de alimentos. Mesmo ela tendo perdido força no mês passado, ela ainda segue acima do desejado, o que representa um risco no cenário montado pelo BC. Por isso também os analistas já começaram a descartar uma redução dos juros já na próxima reunião do Copom, em outubro. Como BC vai afrouxar as rédeas quando o IPCA sobe? Por mais que faça sentido do ponto de vista da conjuntura – recessão e desemprego – há uma forte sensibilidade sobre a credibilidade dos gestores da estabilidade da moeda. Perceber alguma aceitação de uma inflação um “pouquinho mais alta”, principalmente diante do histórico recente, não faz bem. 

     

    Ainda mais porque a inflação sofre riscos inimagináveis, muito além daqueles já considerados, quer ver? Nesta sexta-feira (9) o mundo descobriu que a Coreia do Norte havia feito teste com uma bomba nuclear, deixando os líderes dos países mais ricos de cabelo em pé. Por causa disto, o dólar já abriu em forte alta e voltou para a casa dos R$ 3,23. Para quem já pagou mais de R$ 4, parece pouco, mas não é. Tão nocivo quanto o preço pode ser, é a volatilidade. Como formar preços a partir de um valor que muda constantemente? Para evitar perdas, a maioria dos produtos que dependem do dólar (importação de insumos ou dependentes das commodities) acabam embutindo o risco da volatilidade no preço final. Em períodos mais arriscados esse “prêmio de risco” aumenta e, consequentemente, salga o preço para o consumidor. 

     

    Pode não ser nada dramático, como não parece ser o caso agora – tomara. Mas dificulta e atrasa o trabalho de baixar e estabilizar a inflação. Quem cuida disso tem que dormir com um olho aberto e outro fechado. Achar que dá para forçar só um pouquinho para testar alguma novidade, principalmente em países ainda imaturos economicamente, pode causar um bom estrago. Foi o caso da gestão de Alexandre Tombini, ex-presidente do BC, quando ele baixou os juros para 7,25% ao ano mesmo vendo a inflação mais pressionada e longe da meta de 4,5%. A escolha dele e de sua diretoria à época expos o país todo a situações de risco inesperados. A displicência com a política monetária, somada às pedaladas e barbeiragens fiscais, corroeu a margem de manobra que o BC precisa para acomodar os choques imprevisíveis – como este agora da bomba da Coreia do Norte.

     

    Ilan Goldfajn, atual comandante do BC, não tem gordura para queimar. Está trabalhando no fio da navalha para baixar a inflação – tanto da navalha da credibilidade quanto da navalha dos preços e da dinâmica da economia. Se não quiser se cortar – ou cortar aqueles que mais sofrem com a inflação alta – Goldfajn precisa fazer movimentos certeiros e com pouca margem para dúvidas. Por isso ele tem investido tanto na comunicação antes de começar a agir nos juros. Fale mesmo conosco, Ilan. Não será fácil de aceitar, mas será mais fácil de entender porque vamos precisar ficar mais um tempo com os juros mais altos do mundo.

  • Brasil pendurado

    O IPCA-15 de agosto trouxe uma boa e uma má notícia. Vou começar pela boa: o preço dos alimentos perdeu força entre o mês passado e este, caso do feijão nosso de cada dia que saiu de uma explosão de quase 60% para uma alta abaixo de 5%. Agora a má: levando em conta a cesta cheia do mercado, a queda não foi suficiente para provocar uma perda maior da inflação e os alimentos continuam a ser fonte de preocupação para os próximos meses.

     

    Há outras coisas chatas do índice divulgado nesta quarta-feira – como o indicador acumulado em 12 meses que subiu para 8,95%. A leitura do resultado também corrobora o temor compartilhado entre o Banco Central e os economistas do mercado: a inflação brasileira está com uma casca dura de ruir.

     

    Na próxima semana já teremos mais uma reunião do Copom, o comitê do BC que define os juros. Estamos há mais de um ano com a taxa em 14,25% e, nem juntando essa anomalia à recessão e ao desemprego, o país consegue enfraquecer a inflação. O inimigo não é tão evidente assim e não está na maquininha de imprimir etiquetas ou na ganância das empresas – a crise afetou todos os agentes econômicos e este cabo de guerra não é mais entre os consumidores e os empresários. É entre o tamanho do estado e a capacidade de crescimento do país. Hoje, a maior parte da solução dos nossos problemas passa, obrigatoriamente, pela discussão do tamanho e do custo do setor público.

     

    Na prática, as ferramentas para lidar com este problema são a política fiscal e o controle dos gastos públicos. Por isso a importância das medidas de ajuste fiscal, a indignação com os reajustes dos salários dos servidores públicos, o temor com a rebeldia do Congresso Nacional em aprovar os mecanismos que limitem o crescimento das despesas públicas tanto para o governo federal quanto para os estaduais. O terremoto que atinge o país hoje tem seu epicentro na Praça dos Três Poderes em Brasília, uma tremedeira que atinge o Banco Central e impede que ele tome decisões para controlar a inflação – que, inclusive, subiu e resiste a cair exatamente por causa das estripulias com os cofres públicos.

     

    Esperava-se que com o fim do processo de impeachment, depois de nove meses presos a este debate, fosse possível assumir uma agenda política urgente para calçar a retomada da economia, com mudanças que deem segurança àqueles que querem investir no país, aos consumidores que têm planos para o futuro, aos trabalhadores à procura de um emprego. Ao que tudo indica, vamos sair de um ringue e entrar em outro. Enquanto os interesses políticos e minoritários – caso dos reajustes das categorias privilegiadas do setor público – se enfrentam, o Brasil vai fica pendurado na corda com a inflação apertando o pescoço.

     

    O comportamento dos preços ao longo do ano e por tudo que já se conhece da dinâmica mais recente na economia, chegar aos 4,5% da meta de inflação em 2017 vai deixando de ser um desafio apenas para o Banco Central. Sem ajuda da política fiscal mais acertada, a limitação dos gastos públicos, um enxugamento do estado brasileiro, a inflação corre mais solta na praça e resiste ao fundamento que deveria determinar seu lugar: o equilíbrio entre a oferta e a demanda. 

  • IPCA-15, um alívio merecido

    Quem quicou a inflação para cima em maio foi quem fez ela cair em junho: os alimentos e os remédios. É o que mostra o resultado do IPCA-15, divulgado nesta terça-feira (21), que apresentou alta de 0,4% contra 0,86% do mês anterior. Quando a gente olha para onde estava o índice em 2015, o alívio é ainda maior, já que foi de 0,99% no mesmo período. A evolução dos preços é assim mesmo, ela sofre choques o tempo todo – para cima ou para baixo.


    Apesar da queda registrada neste mês, a expectativa de inflação para 2016 está subindo há cinco semanas e agora está em 7,25% - longe da meta de 4,5% e, de novo, acima do teto de 6,5% previsto no sistema de metas para inflação adotado pelo Brasil.


    Para decidir o que fazer com a taxa de juros, o Banco Central olha sim para a inflação corrente, ou seja, esta do presente. Mas o peso maior da decisão vem das expectativas futuras. Ao acompanhar a evolução das previsões coletadas pelo BC e publicadas pelo relatório Focus, surgiram as dúvidas: afinal, a inflação está caindo ou subindo? Há risco de mais um repique? Eu perguntei ao economista Leandro Negrão, economista do departamento de economia do Bradesco. Como gato escaldado tem medo de água fria, qualquer respingo gelado assusta.

     

    “Não vejo isso como preocupação. As previsões pioraram para 2016, mas para 2017 seguem estáveis e ainda mais para frente, em 2018, elas caíram para 4,5%, o que é um excelente sinal para o Banco Central. Quando hoje piora (a expectativa para inflação) e na frente melhora, é sinal de credibilidade do BC. Eu começaria a ficar preocupado se as expectativas estivessem piorando para os próximos anos. Se você tirar o custo do risco político, o câmbio vai ficar mais apreciado (dólar mais baixo) e é este um dos motivos para que a inflação esperada para os próximos anos não tenha piorado”, explicou Negrão.

     

    Leandro Negrão também explica que o que foi fonte de pressão para alta dos preços nos últimos anos perdeu força: serviços e preços administrados (controlados pelo governo). Ninguém esquece a alta de 50%, em média, da conta de luz no ano passado. Além de outras correções que precisaram ser feitas depois que o governo de Dillma Rousseff acreditou que poderia controlar os preços na marra, além da tarifa de energia, os combustíveis também passaram anos sob cabresto do governo – além do efeito nefasto na inflação, a estratégia ainda causou rombo bilionário no caixa da Petrobras.

     

    Dito isso tudo, vamos ao que interessa: quando os juros vão baixar? Esta piora da inflação corrente pode adiar um alívio na taxa de 14,25% que é a maior do mundo?

     

    “O mercado está dividido sobre o momento de fazer a primeira redução da taxa. Se será em agosto ou outubro. Difícil imaginar que só vão começar a reduzir em dezembro ou ano que vem. A credibilidade do Ilan pode ajudar talvez ele não tenha que mostrar que é duro com a inflação. A grande senha deve aparecer no Relatório Trimestral de Inflação que será divulgado até a próxima semana. Ali a gente vai ficar sabendo se Ilan Goldfajn referendou o cenário do último Copom do Alexandre Tombini ou não (ao manter os juros o IPCA fecha na meta de 4,5% em 2017).

     

    Há um outro ponto ressaltado pelo Leandro Negrão: a recessão. A economia está muito fraca, mesmo com a possível e esperada estabilidade a partir do segundo semestre. Aliás, para os economistas do Bradesco, o PIB já pode ficar estável agora no segundo trimestre, a conferir. O desemprego vai seguir piorando e ao retirar fonte de renda do mercado, retira também fonte de consumo e investimento – o que enfraquece os repiques inflacionários. Outro ponto que pode e vai ajudar no trabalho do BC será o ajuste fiscal, mesmo que o momento atual seja de rombos e renegociações com os estados que impõem ainda mais restrições. É no médio e no longo prazo que devemos ficar de olho, se há uma dinâmica capaz de reverter o crescimento da dívida pública e dos gastos do governo.

     

    No frigir dos ovos, o omelete recheado: a inflação está em trajetória de queda, a despeito da piora na previsão para o IPCA deste ano; a recessão e o desemprego são as forças que têm agido contra a alta dos preços, mesmo que algum ajuste precise ser feito por algum imprevisto em alimentos, sujeitos ao clima; a queda dos juros vai acontecer neste ano entre agosto e outubro, principalmente se os próximos indicadores a serem divulgados até lá confirmem o enfraquecimento dos estímulos que pressionam a inflação. Acreditar nisso também ajuda a baixar os juros. É difícil acreditar, não é? Então, fique curioso, dê ao tempo o benefício da dúvida para saber se poderá respirar mais aliviado, enfim, e com muito merecimento. 

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

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A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.