É desalentador olhar os gráficos que retratam a indústria brasileira nos últimos anos. O desempenho de fevereiro, divulgado pelo IBGE nesta quarta-feira (1º), é de chorar – queda de 9,1% em comparação com mesmo mês de 2014! Já são seis trimestres seguidos de queda. Quem arrastou o setor para fundo foi a produção de veículos, que caiu cerca de 30%. “Para que eu quero descer”, podem desabafar os empresários.

Infelizmente esta alternativa não é tão simples assim. Até para “descer” custa caro demais. Para seguir viagem é preciso abastecer com investimento. O problema é que o “posto de abastecimento” está esvaziando sem parar. A formação bruta de capital fixo, que é o investimento destinado a melhorar e aumentar a produção, cai há 18 meses.

Uma outra fonte importante de recursos é a taxa de poupança, ou seja, o acúmulo de capital para investimento, também está embicada. Em 2010, a taxa de poupança brasileira era de 19% do PIB. Em 2014, fechou em 15,9%. Sem investimento e sem poupança, sobra para a confiança a tarefa de reverter o quadro. Também não vai dar. A confiança dos empresários está no patamar mais baixo desde janeiro de 2009.

Para a indústria fazer a curva e começar a subir, ela precisa de um choque nas expectativas. Se enxergar um horizonte mais promissor, o empresário começa a se mexer para se beneficiar da melhora que vai chegar. Outro obstáculo. Além de ver a economia distorcida, o empresário assiste a uma das piores crises políticas que o país já viu nos últimos 15 anos. A desarticulação, falta de liderança, rebeldia no apoio parlamentar ao governo, de onde poderá vir o “choque”?

O processo de reequilíbrio vai passar primeiro pela desconstrução dos artifícios criados no primeiro governo Dilma. Uma das tarefas de Joaquim Levy é acabar com os “benefícios” concedidos nos últimos anos e que, teoricamente, deveriam ter ajudado a indústria. Entre eles, a desoneração da folha de pagamento, a isenção de IPI para carros e linha branca, redução do imposto de exportação, queda na conta de energia (que durou pouco) e nada menos do que R$ 460 bilhões repassados ao BNDES para concessão de financiamento para investimentos.

Não dá para dizer que o governo vai “puxar o tapete” da indústria ao recuar nas medidas – a indústria está sem chão há mais tempo. O resultado esperado pelo ajuste proposto pelo governo desafia a intuição, ou o “espírito animal” dos empresários. Sem as falsas bondades, ou sem as bondades para “os amigos do rei”, a economia começa a voltar para realidade, mais equilibrada, e o ambiente para a retomada fica mais claro. Mesmo que ainda se veja muito buraco pelo caminho.