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  • Conta de energia está a 'anos-luz' de baixar

    O pacote de investimento no setor elétrico anunciado pelo governo é um plano de velhas novidades. As cifras bilionárias do programa, R$ 186 bilhões para os próximos três anos, não são de dinheiro novo, que já houvesse sido previsto antes. O pano de fundo do anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff é a queda considerável da probabilidade de um racionamento de energia – hipótese considerada até o inicio deste ano.

    Deixando a semântica de lado, o consumidor brasileiro bem sabe que, mesmo sem um anúncio oficial do governo, ele foi sim forçado a racionar o consumo de luz depois que passou a receber uma conta até 70% mais cara - sem ter ligado um aparelho a mais na tomada. Mesmo com a promessa de novos investimentos, caro consumidor, não se anime. Ainda tem muito a se pagar do rombo financeiro das empresas do setor elétrico, causado pelas mudanças impostas pelo governo em 2012 – quando foi prometida a “redução permanente” da conta de luz.

    Por enquanto, as medidas anunciadas não acenam com alento ao consumidor – não no curto e médio prazos. O governo está chamando atenção do investidor, abrindo um canal de diálogo e alocação de recursos. Apesar dos pesares, o Brasil continua sendo inevitável como destino de capital. Para ficar só no campo da energia elétrica, a dívida social do país no fornecimento de luz – quantidade e qualidade – ainda é bem alta. O “sujeito” olha isso de longe e vê sim um parque de oportunidades.

    A questão está em como e quando fazer. Em que momento o risco de colocar um caminhão de dinheiro aqui, com um negócio que demora até 5 anos para começar a dar retorno, vai valer a pena. A relação entre o investimento privado e o Estado brasileiro está absolutamente nublada, rodeada de receios e dúvidas – não só mais econômicas, mas políticas e institucionais. Também não há segurança jurídica nem financeira para tal. 

    Até há pouco tempo, o BNDES distribuía dinheiro barato para quem quisesse um naco da infraestrutura brasileira – às custas do Tesouro Nacional. Como o guichê fechou por insuficiência de saldo na conta, financiar grandes projetos no Brasil é coisa para corajoso ou com acesso ao crédito internacional, sem medo de correr o risco do câmbio.

    Uma solução que desafogue o consumidor brasileiro de energia está a anos-luz de chegar. Enquanto não ficar claro para o investidor “como, quando e quanto vai custar” acreditar no país, o cidadão vai ficando com o ônus de pagar por uma luz caríssima e de baixa qualidade.

  • O PIB possível

    Com o tamanho do ajuste necessário das condições macroeconômicas do Brasil, não é realista esperar crescimento expressivo da economia em curto e médio prazos. As expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 estão em uma queda de 1,24%, segundo o relatório Focus desta semana. Tem gente que já espera coisa pior, mais perto de 2%. Surpresas sempre podem acontecer, mas dificilmente uma novidade positiva será capaz de reverter o desempenho negativo deste ano.
     
    A principal atração desta semana na economia é a divulgação do PIB do primeiro trimestre calculado pelo IBGE – na sexta-feira (29). Economistas de mercado esperam queda de 0,6% no período. Já sabemos que, pelas contas do Banco Central, a economia encolheu 0,81% nos três primeiros meses do ano. Para o Serasa Experian, a queda foi de 1,3%, segundo seu modelo de cálculo. No último trimestre de 2014, houve alta de 0,3% da atividade, o que ajudou a levar o PIB do ano a 0,1% de alta.
     
    Em economia há o PIB real e o PIB potencial. O primeiro é o que aconteceu, resultado fechado. O segundo é um indicativo de quanto uma economia pode crescer sem gerar distorções – como a inflação, por exemplo.

    O cálculo do PIB potencial não é simples, nem unânime. Cada casa de economistas tem um, mas não há discrepância entre as variáveis. Há quatro anos, o PIB potencial do Brasil estava entre 3% e 4% - o que já era baixo e menor do que no início dos anos 2000. Hoje, está em 2%, ameaçado de queda se os ajustes não forem minimamente implementados.
     
    A pauta para aumentar a capacidade de produção do país passa, obrigatoriamente, pelo equilíbrio político, social e econômico. As reformas estruturais são vitais para melhorar a eficiência nas relações entre os agentes econômicos e reforçar os fundamentos para o futuro. Previdência, trabalhista, política e tributária são as reformas mais urgentes e, agora, inevitáveis. O plano de concessões na área de infraestrutura é outra condição chave, já que o poder público não tem e nem terá tão cedo, caixa para isso.
     
    A pauta para um PIB real robusto precisa ser a da produtividade e da eficiência – duas condições que se deterioraram demais nos últimos anos. O ajuste nas contas públicas passa também por restaurar um pouco da eficiência do estado brasileiro, num ambiente mais previsível e equilibrado. Não há atalhos ou artifícios para esta tarefa – aliás, experimentamos ambos e vimos no que deu. Enquanto nos debatermos sobre para onde ir e como ir, teremos o PIB possível, não o desejável.

  • Esclarecimentos sobre a economia

    O Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março, foi a justificativa escolhida pela presidente Dilma Rousseff para se dirigir ao povo brasileiro em cadeia de rádio e TV.

    Dilma fugiu do público, da imprensa, mas não conseguiu fugir das panelas. Em várias cidades do país muita gente foi para janela bater panela, protestar e vaiar o governo enquanto a presidente explicava sua visão sobre o atual momento nacional. Quem conseguiu ouvir o que disse a presidente, ouviu que são dois os culpados pela crise atual: o mundo e a seca. E também ouviu que serão mais de 200 milhões a fazer o “sacrifício” para sairmos dela.

    Dilma também responsabilizou a imprensa por não esclarecer suficientemente ou até mesmo “confundir” a cabeça das pessoas sobre o que realmente está se passando na economia. Vou tentar ajudar.

    Em economia há dois universos de estudo e compreensão: a macroeconomia e a microeconomia. Numa analogia grosseira é possível dizer que a macro constrói a estrada e a micro instala a sinalização. Quem dirige sabe que asfalto novo sozinho não garante viagem segura. A evolução da macroeconomia se dá através da política econômica escolhida pelos governantes, ou seja, pela escolha das prioridades do país versus a capacidade de gerar avanços.

    A macroeconomia brasileira, ou seja, a estrada por onde trafegamos trabalhando, investindo, inovando, gerando renda, etc, sofreu forte deterioração com as escolhas do governo Dilma. Em seu primeiro mandato a presidente manejou preços sem levar em conta a capacidade da oferta em atender à demanda dos brasileiros. Os preços de produtos, da energia, dos transportes, do combustível, do dólar e até do dinheiro (taxa de juros) foram manipulados para criar um ambiente artificial na economia.

    Com a estrada ruim e sinalização confusa e/ou inexistente, o Brasil parou – literalmente. A previsão de PIB para este ano está agora em queda de 0,66%. A inflação deve passar os 8% em março e os juros brasileiros já são os maiores do planeta. Se tem uma coisa que preciso concordar com a presidente Dilma é quando ela fala que o “Brasil tem condições de vencer o problema”, disso nunca duvidei. Minha assombração hoje está no custo: quanto teremos que pagar por isso?

     

  • Em economia, quem ri por último não ri melhor

    A queda da popularidade de Dilma Rousseff apontada pela recente pesquisa do Datafolha comprovou o ditado: mentira tem perna curta. Todas as bazófias desfiadas durante a campanha à reeleição em 2014 se desfizeram em pouquíssimo tempo. O chato é que, em economia, quem ri por último não ri melhor.
     
    A realidade dos brasileiros se impõe generalizadamente, porque o bolso, a insegurança e a falta de perspectivas atingem a todos, sem distinção ideológica. As notícias econômicas se acumulam formando um quadro desalentador para 2015 e pouquíssimo promissor para 2016. O melhor seria que as coisas parassem de piorar, ou seja, que o fundo do poço já tivesse chegado. Mas ainda não é o caso.
     
    E não é só porque os dados de 2014 continuam saindo e mostrando um enfraquecimento agudo da atividade. Caso das vendas do varejo do ano passado divulgadas nesta quarta-feira (11) pelo IBGE, apontando pior resultado do setor desde 2003! Olhando o gráfico do G1 sobre a evolução do varejo desde então,  impressiona o tombo do desempenho em apenas dois anos. E olha que em 2012 vivemos o auge dos estímulos do governo ao consumo, o que provocou um salto das vendas entre 2011 e 2013.
     
    Enquanto varejo e indústria lidam com os atropelos da deterioração do ambiente econômico, a vida continua e vai apresentando mais contas a serem pagas: energia, água, impostos e, agora com mais força, a alta do dólar. Do lado de cá do balcão, estão as famílias brasileiras que vão pagar a mesma fatura de quem produz e que sentem o poder de compra ser corroído sem dó. O índice de inflação para população de baixa renda calculado pela Fundação Getúlio Vargas, o IPC-C1, fechou janeiro em alta de 2%. Lembrando que o IPCA, calculado pelo IBGE, subiu 1,24% no mês passado.
     
    É aí que a diferença salta aos olhos. A inflação, como mal maior da economia, fere o lado mais fraco da corda. É no andar mais baixo da pirâmide social que o desemprego cresce primeiro, atingindo, principalmente, os menos qualificados. Os dados mais recentes sobre o mercado de trabalho, revelados pela Pnad Contínua do IBGE, corroboram esse cenário.
     
    O que iguala todos nestas circunstâncias, independentemente da ideologia, gênero e classe social, é a procura pela liderança que vai mudar o rumo dos acontecimentos, uma boia em dias de mar agitado. Por enquanto, não se vê nem a bancada mais alta do salva-vidas, que dirá o próprio. A bandeira vermelha, que alerta para que ninguém se arrisque nas ondas perigosas, só foi colocada depois de todo mundo ter pulado na água.

  • Porto em Cuba não é Pasadena

    O governo de Dilma Rousseff peitou muita crítica ao financiar a ampliação e modernização do porto de Mariel em Cuba. Afinal, e os nossos portos? Muitos estão sucateados e o governo não tem, e nunca teve, dinheiro suficiente para mudar este quadro. Tanto assim que os portos fazem parte do plano de concessões da presidente. Quem sabe em algum momento do segundo mandato o plano possa sair do papel.

    Voltando a falar de Cuba. O BNDES mandou U$ 800 milhões para que a Odebrecht fizesse a obra. E quem já viu de perto, constatou que o porto cubano está uma beleza, melhor que os nossos melhores. Cuba fica mais perto dos Estados Unidos que depois de mais de 50 anos começa a “soltar os grilhões do passado”, como disse o presidente Barack Obama em seu discurso sobre a reabertura nas relações com o país de Fidel Castro.

    Mas não serão alguns quilômetros a mais que vão deixar o Brasil distante dessa mudança histórica entre os dois inimigos mais antigos do mundo ocidental. Nós não somos donos do porto de Mariel, mas a dívida de Cuba com o BNDES, a atenção pública e reiterada que a presidente Dilma deu ao país em seu primeiro mandato dão ao Brasil um status de “primeiro na fila” neste movimento que vai lançar a “nova” terra dos Castros ao mundo.

    Já que estamos exatamente num momento de questionar obras públicas, contratos, financiamentos, desvios milionários de empresas estatais e a constatação de muitos “burros n’água”, vale a pena dizer que o porto de Mariel escapa ileso da nossa barafunda política.

    Veja só a refinaria de Pasadena, no Texas. Ela foi comprada pela Petrobras por US$ 1,2 bilhão e quebrou, ou seja, babau dinheiro. Mariel (que foi mais barato) surge como uma promessa de revolução capitalista para Cuba e dá ao Brasil lugar na primeira classe nessa empreitada. 

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.