Os 13 pontos do TCU
Os técnicos do Tribunal de Contas da União “acharam” 31 irregularidades na gestão federal dos cofres públicos em 2014. O relator do processo de avaliação das contas da União, ministro Augusto Nardes, escolheu 13 pontos para cobrar explicações da presidente Dilma Rousseff e sua ex-equipe econômica. Na mira do ministro estão não só as conhecidas ‘pedaladas fiscais’, mas outras ações implementadas por Dilma e seus ministros e assessores de então.
A lista inclui dívidas omitidas nas estatísticas, dinheiro distribuído no Congresso Nacional para ganhar votos, pagamento de contas feito pela União sem a autorização do legislativo, uma manobra para repassar recursos para o Minha Casa, Minha Vida, gastos acima do previsto em várias estatais e recuo no corte de gastos de 2014. Dos 13 pontos, 4 são das ‘pedaladas fiscais’ que envolveram operações no BNDES, com FGTS e também o atraso no repasse dos recursos do Tesouro aos bancos que pagam benefícios sociais e trabalhistas.
A presidente, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin, são os principais envolvidos na análise do TCU, e foram convocados a dar explicações. Elas vieram aos montes, mas não convenceram. O prazo acabou e a recomendação para o tribunal será a de rejeição das contas na votação que está marcada para a quarta-feira desta semana. Estaria marcada. Aos 45 do segundo tempo, a Advocacia Geral da União – advogado de defesa do governo – quer afastar Augusto Nardes do processo por ter ferido a magistratura ao antecipar seu voto.
É bem verdade que existem regras, tanto do próprio TCU quanto da lei orgânica da magistratura, que proíbem magistrados a anteciparem votos de processos que estejam conduzindo. O problema aqui é o timing escolhido pelo governo para lançar a lei na direção do ministro Nardes. Até porque, já faz tempo que ele vem dizendo que o gato estava no telhado. Na semana passada, ele apenas confirmou a presença do felino em local arriscado e com destino previsível.
O parecer do TCU sobre as contas de um governo nunca foi tão badalado. Prova disso foi a correria no Congresso Nacional para aprovar as análises feitas pelo tribunal desde o governo Itamar. Alguém pode argumentar que o processo de agora tem caráter político e por isso, de repente, tornou-se uma peça institucional importante. É verdade. O que também é verdade é que, em algum momento, seria muito bom que as instituições responsáveis exercessem seu papel fiscalizador e cobrador das regras, quando realmente houver descumprimento.
O argumento apresentado por Dilma e seus ex-ministros é de que o que foi feito entre 2012 e 2014, prazo questionado pelo TCU, também foi aplicado em administrações passadas – “se eles fizeram, por que vão brigar só comigo?”. Já ouvimos esse argumento há alguns anos quando o PT foi questionado sobre o mensalão – “caixa dois é uma coisa que todo mundo faz no Brasil”. A pergunta é um pouco mais complexa e por isso exige uma resposta mais elaborada: houve ou não descumprimento da lei?
No caso das ‘pedaladas fiscais’, não há margem para dúvida. Não só pelas operações em si, mas pelo volume de recursos envolvido. A manipulação do dinheiro público para fins de contabilidade não tira dinheiro de programas sociais, mas enfraquece a gestão e gera insegurança sobre o perfil de endividamento do país. Taí a perda do grau de investimento para não me deixar mentir. Forçando um pouco a barra, dá até para dizer que a criatividade do primeiro mandato de Dilma Rousseff acabou tirando sim dinheiro de programas sociais. Se a ousadia não tivesse sido tamanha, o ajuste fiscal necessário hoje poderia ser menor e o custo dos erros, muito mais barato do que está custando hoje ao país.
Agenda
Na agenda da semana, o IPCA de setembro era o destaque – será divulgado na quarta-feira (07). Agora ele perdeu lugar para o debate sobre a votação no TCU. Mesmo assim, o comportamento da inflação no mês passado vai dizer muito sobre os repasses da alta do dólar e se houve alguma eficácia na estratégia do Banco Central.