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  • Para a economia, Levy é antibiótico – o resto é só para enjoo

    O “placar” de sete a zero previsto para economia em 2015 pode não ser tão humilhante quanto o 7X1 do futebol, mas vai custar caro para o Brasil. Pela primeira vez desde 2004 a maioria dos analistas ouvidos pelo Banco Central espera uma inflação acima de 7% ao ano – 7,01% segundo relatório Focus desta semana. Para o PIB, a estimativa está agora em 0,03%, num otimismo estatístico para um resultado positivo.

    Há dois anos, os mesmo analistas previam um IPCA 5,7% e um PIB 2,2% para 2015. O que fez os números mudarem tanto? A reversão das expectativas foi causada pela piora na condução da política econômica entre janeiro de 2013 e dezembro de 2014. Se pegarmos apenas o aspecto fiscal, ou seja, dos gastos públicos, as escolhas do governo provocaram o pior resultado das contas dos últimos 20 anos, pelo menos.

    E não foi só dos cofres púbicos que vieram as más notícias. A condução da política de preços da energia, dos transportes, do combustível e do dólar artificializou a inflação e aumentou o risco de estouro dos preços – taí a previsão de IPCA acima de 7% este ano. Outro exemplo: o estímulo ao consumo de energia mesmo com a escassez no fornecimento nos colocou frente a frente com o risco de racionamento, um trauma que os brasileiros imaginavam superado há 14 anos. E tem ainda a falta d'água...

    O Banco Itaú, por exemplo, prevê queda de 0,5% para o PIB de 2015 e ainda nem contabiliza possíveis racionamentos de água e energia, que, sozinhos, levariam o PIB a cair 0,6%. O desempenho dos setores capitaneados pela Petrobras é responsável por boa parte da revisão mais pessimista do banco. Sim, já estava quase esquecendo dos efeitos da operação Lava Jato.

    Na agenda da semana teremos o resultado do IPCA de janeiro, que deve ficar em cerca de 1,2%,  e a produção industrial de dezembro medida pelo IBGE – o  consenso de mercado aponta queda de 2,5% no último mês do ano. A outra novidade deve vir da política, com a vitória do deputado do PMDB, Eduardo Cunha, para a presidência da Câmara dos Deputados. Cunha quer votar “ontem” o chamado Orçamento Impositivo, que obriga o governo a pagar as emendas parlamentares – mais uma conta a ser paga pelo Tesouro Nacional.

    Diante de tantos riscos e provações, os críticos da presidente Dilma Rousseff vêm se perguntando: será que ela vai aguentar manter o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fazendo todas as “maldades necessárias” para não espantar de vez os investidores? A presidente pode até fazer cara feia para “engolir” o Levy, mas ela sabe bem que ele é o “antibiótico” de seu governo. Todo o resto serve para aguentar o enjoo – o que, pelo perfil “duro na queda” da presidente, ela pode passar sem. 

  • Crônica de uma inflação anunciada

    A inflação de 2015 ficará acima do teto-limite da meta de inflação. É o que esperam os analistas ouvidos pelo Banco Central, segundo relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (22): o IPCA do ano que vem deve ficar em 6,54%.

    Será o primeiro ano do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e o sexto ano seguido de descumprimento do objetivo acordado com a sociedade brasileira, ou seja, uma inflação anual de 4,5%.

    Assim como Gabriel Garcia Marques descreveu a morte de Santiago Nassar em “Crônica de uma morte anunciada”, o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, narra a “crônica de uma inflação anunciada”. No comando do Copom desde 2011, Tombini perdeu a batalha da coordenação das expectativas dos agentes econômicos.

    Ao assumir o BC acompanhando Dilma no governo, Tombini recebeu de herança do governo Lula uma inflação rodando em 6% ao ano e um governo com cofre aberto e gastador. Desde então vem prevendo que “num horizonte de dois anos, a inflação entrará em trajetória de convergência para o centro da meta”. Até agora não conseguiu entregar suas estimativas.

    Nestes quase quatro anos como guardião da moeda brasileira, o presidente do BC fez manobras radicais, com direções opostas, para alcançar o mesmo objetivo. Em seu mandato, os juros chegaram a 12,5%, caíram para 7,25% e agora seguem caminho de volta para os 12% ao ano. E como resultado dessa estratégia tão contraditória, Tombini conseguiu apenas assistir de camarote a deterioração da economia, da inflação e das expectativas.

    Justiça seja feita, enquanto Tombini tentava determinar o preço correto do dinheiro para equilibrar oferta e demanda na economia, o governo subvertia suas ações, empurrando consumidores e empresários para direção oposta ao que esperava o Copom. Quem reagiu com mais força a essa administração embaralhada foi a confiança, que despencou. A partir do segundo mandato de Dilma Rousseff, o BC deve contar com uma gestão mais responsável e harmonizada com a estratégia do Copom. Corte de gastos, liberação dos preços represados e transparência na gestão das contas públicas podem ajudar e muito.

    Na agenda mais curta por causa do Natal, a semana tem como destaque a publicação do Relatório Trimestral de Inflação, preparado pela diretoria do Banco Central. O documento, talvez o mais importante preparado pela autarquia, deve (ou deveria) mostrar, com o máximo de clareza possível, como o IPCA vai conseguir chegar em 4,5% em 2016 depois de fechar tão alto em 2015.

    Chega de “anunciar” a inflação que teremos daqui a alguns anos. Está na hora de mostrar como e quanto vamos pagar pela correção dos erros cometidos até agora. 

  • PIB não pode ficar anoréxico

    Na coleta de dados feita pelo Banco Central a atividade da economia brasileira registrou queda em outubro - o IBC-Br foi negativo de 0,26%. De pé, deitado, correndo ou parado, o “PIB do BC” dá sinais ruins sobre a força de produção do Brasil. Hoje, temos um país frágil e febril – crescemos quase nada, com uma inflação muito alta e baixíssima confiança.

    O chamado PIB Potencial, que é a capacidade que a economia tem de aumentar a oferta sem gerar distorções como a inflação, vem caindo nos últimos anos. Ele não é uma medida exata e sempre gera debates, mas já não há mais dúvidas de que diminuiu muito o espaço para um crescimento robusto, sem que haja uma forte correção do atual grau de desequilíbrio na economia. 

    Não podemos correr o risco de transformar o PIB Potencial em “PIB Anoréxico”, fraco demais para reagir. Quem “consumiu” a energia do PIB nos últimos anos foi o próprio governo, ao aumentar além da conta seu peso na economia e sufocar a geração de riqueza do setor privado. Mesmo gastando muito mais, injetando dinheiro na veia do Brasil, a estratégia conseguiu apenas gerar mais inflação e, de quebra, espedaçar a confiança de empresários, consumidores e investidores – exatamente quem tem a força mais benéfica para o crescimento.

    Para voltar a crescer com confiança restaurada, o país precisa sair do “modo pânico”, realinhar as expectativas dos agentes da economia e  construir novas perspectivas para o futuro. Ufa! Uma operação nada fácil diante das revelações da operação Lava Jato, da Polícia Federal. O destino da maior empresa do Brasil, a Petrobrás, está incerto e não sabido. E os efeitos que isso tudo vai provocar no país também são uma incógnita.

    Durante a semana, a agenda econômica tem IPCA-15 e taxa de desemprego calculados pelo IBGE e dos dados das contas externas, divulgado pelo BC. A não ser que haja uma surpresa absurda nos resultados, nada disso vai ser capaz de mudar as estimativas para o crescimento, pelo menos no curto e médio prazos. Há quatro semanas o relatório Focus mostra queda nas previsões do PIB deste ano e de 2015 – ambos mais pertos de zero.

    Para os ajustes terem sucesso, se realmente vierem, eles terão que contar com a memória da vocação brasileira para a superação dos desafios, principalmente na economia. O tempo, nessa batalha, será tão importante quanto as escolhas a serem feitas. Para um evitar um “PIB Anoréxico”, não há espaço para invencionices ou irresponsabilidades – o paciente Brasil não pode mais esperar. 

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.