IBC-BR – tropeço ou mudança de rumo?
A lenda diz que agosto é o mês das bruxas. Pode-se até duvidar da sua existência, mas tem hora que a dúvida aparece. Foi neste mês que a atividade econômica do Brasil voltou a apresentar resultados negativos. Nesta quarta-feira (18) o Banco Central divulgou o IBC-BR de agosto com queda de 0,38%. O IBGE acaba de mostrar que o mesmo destino foi reservado aos setores da indústria, comércio e serviços, todos caíram no fatídico mês: 0,8%, 0,5% e 1%, respectivamente.
A maioria dos analistas já se posicionou alertando que os recuos foram um tropeço e não uma mudança de rota – da recuperação para a retração da economia. O que justifica esta segurança é a leitura que compara o desempenho de agora com o mesmo período do ano passado. Em todos os casos houve melhora, algumas mais significativas como na indústria. Outro dado que conforta as análises é sobre a difusão da retomada dentro dos próprios setores, indicando que, mesmo que frágil, a caminhada conta com número cada ver maior de atividades.
São dois outros pilares que sustentam a tese de que a recuperação não foi abortada pelos maus agouros de agosto. Um deles é a confiança dos empresários e consumidores que subiu em setembro, segundo a FGV, ou seja, passados os ventos místicos. Na mesma corrente, as expectativas para o PIB e para a dobradinha juros/inflação continuam melhorando ou em equilíbrio com cenário mais positivo. Pelo último Focus, o IPCA escapou de furar o piso da meta de inflação, terminando 2017 em 3%, a taxa básica de juros fechará o ano em 7% e o PIB vai crescer 0,72% (previsão mais alta que a anterior).
As ressalvas são basicamente três. Duas no campo econômico e uma na política. O fim do dinheiro do FGTS e da deflação nos preços dos alimentos pode afetar a sobra no orçamento das famílias que surgiu com os dois fatores no primeiro semestre. Olhando sobre a ótica direta, o benefício do FGTS foi aplicado para abater dívidas ou comprar algo muito importante ou desejado há tempos e... pronto, acabou o dinheiro. Do ponto de vista indireto, ao quitar ou reduzir dívidas, muitas famílias sentiram o alívio nas prestações ou nas limitações para novos financiamentos em condições mais favoráveis.
Como a medida do FGTS é nova, nunca tinha sido usada e, ainda por cima, foi aplicada na pior crise da história do país, era difícil prever seus efeitos, especialmente os de longo prazo. Os de curto prazo, são óbvios, mas além disso, não dá para ser afirmativo demais. No caso da deflação de alimentos, ela realmente durou bastante e parece estar chegando ao fim. Mesmo que a inflação volte a subir a partir de agora, e vai mesmo, a acomodação nas contas das famílias vai ser dar num momento de menor ameaça e pressão.
Finalmente, mas não menos importante, o mercado de trabalho. Ele vem melhorando, para surpresa geral de todos, felizmente. Ainda é na informalidade, com qualidade pior do que a ideal, mas foi capaz de reintroduzir uma fonte de renda em mais de um milhão e meio de lares nos últimos meses. A continuidade desta dinâmica ainda é incerta sobre a intensidade, mas não sobre a trajetória.
Bem, sobre a política...Para lidar com esta ressalva, as bruxas resolveram invadir todos os meses do ano e não é de agora. Como vamos sair disso, talvez nem elas ainda saibam responder.