Energia e combustíveis foram vilões da inflação em 2017
O governo anunciou que a conta de luz vai baixar um bocado em dezembro. A bandeira tarifária continuará no vermelho, mas vai baixar do nível 2 para o nível 1, o que aliviará um pouco o orçamento das famílias e, consequentemente, reduzirá a pressão sobre a inflação. Na mesma toada estão os combustíveis que tiveram vários reajustes para cima nas últimas semanas e agora, pelo menos o preço da gasolina pode oscilar um tiquinho para baixo com a redução anunciada pela Petrobras esta semana.
A energia elétrica e os combustíveis figuram entre os maiores vilões da inflação deste ano. Segundo cálculos dos economistas do Itaú Unibanco, cada um destes itens, que compõem o IPCA, subiu cerca de 10% em 2017. Em ambos os casos as altas foram provocadas não apenas pelo preço do produto em si, mas pelo aumento da carga tributária, no caso da gasolina, e da mudança na bandeira tarifária, no caso da conta de luz.
“Dos 10% de alta da conta de luz subiu este ano, 4 pontos percentuais foram do ajuste tarifário feito pelas empresas e 6 pp vieram pela mudança da bandeira tarifária, especialmente no mês passado quando ela foi para o nível 2 da banda vermelha, a mais alta. Na gasolina, dos 10% de elevação, quase 90 pp vieram do aumento do PIS/Cofins e apenas 10 pp vieram da política de reajuste de preços adotado pela Petrobras”, explica o economista Elson Teles, do Itaú Unibanco.
Sem a alta dos impostos e com mais chuvas, os preços de energia elétrica e dos combustíveis teriam ficado mais comportados em 2017. A volatilidade gerada pela politica da Petrobras, teoricamente, não tem força para fazer movimentos tão intensos nos preços, como esta alta de 10%. Os ajustes são finos, recorrentes, acompanhando o preço do petróleo no mercado internacional e também o câmbio.
No caso da energia elétrica, os reservatórios das usinas hidrelétricas estão novamente em níveis muito baixos. Antes das bandeiras tarifárias, o governo tinha poder (equivocado e perigoso) de manipular as tarifas com interesse político, fazendo o Tesouro Nacional pagar a conta. Este artifício foi utilizado para além de todos os limites pelo governo de Dilma Rousseff e todos vimos no que deu. Com as bandas, os consumidores deverão regular o consumo de luz sabendo se a energia veio das fontes mais baratas, como as usinas hidrelétricas, ou das mais caras, como as termelétricas.
A boa noticia, ou melhor, a boa previsão, é que este aumento da luz e dos combustíveis de 2017 não deve se repetir em 2018. Para os economistas do Itaú Unibanco, os combustíveis devem subir entre 1% e 2% no ano que vem e a energia elétrica, por volta dos 5%.
“Nós já estamos partindo de uma situação crítica das usinas hidrelétricas, é difícil imaginar uma piora deste quadro no ano que vem. Como vamos fechar o ano com o nível 1 da bandeira vermelha, esta será a referência de 2017, o que deixa a base de comparação bem alta. Mesmo que haja aumento do consumo de energia, com o crescimento maior da economia, há espaço para melhora, há tempo para recuperação dos reservatórios das usinas”, explicou Elson Teles.
Com os combustíveis o raciocínio é parecido. Olhando para o mercado internacional, que define o preço do petróleo, na avaliação de Elson Teles não há muito espaço para altas além do nível atual, ao contrário, ele considera que há espaço para a queda do preço. O dólar pode ficar mais pressionado, tanto por motivações externas, quanto pelas nossas febres, mas também não será uma sangria desatada que provoque desajuste nas contas. O risco mesmo é haver uma nova alta de impostos, o que, na visao de Teles, não parece provável em ano eleitoral.
Olhando para todo IPCA, índice oficial de inflação, o balanço entre os preços livres e os monitorados, que incluem a energia e os combustíveis, continuará a ser favorável em 2018. Este ano, o índice deve rondar os 3% e ainda não está descartada um resultado abaixo disto – o que significará que o Banco Central descumpriu a meta de inflação. Para o ano que vem a projeção do Itaú Unibanco é de uma alta de 3,8%, ainda abaixo dos 4,5% da meta.
Enquanto a luz e a gasolina esquentaram a inflação neste ano, os alimentos foram o balde de água fria no IPCA. Eles devem terminar o ano com uma deflação de 4,5%, na ponta oposta aos 9,5% de alta registrados em 2016. No ano que vem, o Itaú Unibanco projeta elevação nos preços dos alimentos de 4,5%, ainda assim, um nível que não preocupa nem tem força para provocar alta dos juros. O cenário para inflação no Brasil vai continuar positivo e sem riscos relevantes, o que será um alívio para o que promete ser um ano no mínimo agitado para todos nós.